Dezesseis

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O vidro da janela embaraçado pelos pingos de chuva me deixam, estranhamente, mais tranquilo. Foi um dia confuso e cansativo, mas fiz a coisa certa e me sinto bem por isso. Pretendo deixar as coisas às claras a partir de agora, é bem melhor e me trás paz. Por mais que seja difícil dizer e por mais medo que sinta, é o jeito certo. E também, confesso, não temos mais tempo a perder.

Estava errado se pensava que protegê-lo da verdade nos deixaria mais seguros, agora que sei que já fomos descobertos, é questão de tempo até que precisemos lutar.

Estou tentando fazer café quente, mas não sei se a água tem ponto ou só deixa ir mesmo. É idiota? Estou mais acostumado com café gelado, mas as pessoas aqui gostam de inovar. 

Lembro da primeira vez que saí daquela caverna infernal e vim para o mundo, havia dormido por dias. Ou estava morto, não sei bem. Só sei que mais nada era igual.

Estava distraído demais esse tempo todo e após desligar o fogo, sinto algo estranho, como olhos me observando. Me viro, mas não encontro ninguém; engulo a seco. 

Merda

Corro para o quarto e abro a porta. Type estava lá, dormindo feito um anjo e nada ao seu redor. Fico por alguns instantes observando-o e depois retorno à cozinha. Essas sensações estão mais recorrentes do que gostaria, eu sei que eles estão nos observando porque sinto que minhas forças não estão sendo o suficiente. Eu preciso encontrar algum jeito de encobrir-nós, mas ainda não encontrei nada. 

Com um suspiro de ansiedade e desânimo, pego a bandeja e levo o café até a cama, onde Type ainda permanecia imóvel. Sento-me ao seu lado.

Ei, Ty? — Ele se mexe fazendo bico. — Já são cinco da tarde, hora do café. 

Ele se senta desorientado na cama e me olha com cara de sono, não posso evitar que meu coração pule no peito. Desde cedo estávamos no sofá, conversando e distraindo um pouco, depois do desmaio repentino dele. Coisa que me preocupa e me faz querer agilizar ainda mais esse processo, isso realmente me deixa mal e me sinto inútil e culpado diante de toda situação. Mas ficamos ali, falando sobre aleatoriedades e evitando alguns assuntos; bom, eu estava evitando. Mas sei que terei que ter essa conversa com ele, não seria justo se não tivesse. 

Hoje mesmo pretendo fazer isso, por mais medo que tenha, existem coisas maiores que isso e mais importantes do que eu. Ele.

— Café? — Franzo as sobrancelhas confuso.

— Sim.

— É chá, Tharn. Mas tudo bem. — Esfrega os olhos com uma risada presa nos lábios.

— É a mesma coisa, só pega e toma. Tá quente. — Não vejo diferença, às vezes tomo chá no café da manhã e café gelado à tarde, essa novidade do café quente ainda continua sendo café. 

Sem dizer mais nada, ele pega a xícara e toma um pouco, fazendo uma cara estranha.

Hãn, não querendo parecer chato, mas… 

— Tá ruim?

— Só tem borra de café aqui. — Droga

— Deixa eu fazer outro — Tento pegar a xícara mas ele a levanta antes que eu possa alcançar.

— Você usou o coador? — Sua expressão era divertida e ao mesmo tempo curiosa.

— Que coador? 

Sua risada foi alta.

— Meu Deus, Than?! — Não estava entendendo seu ponto. — Você nunca fez café quente na vida?

My Body, Your Soul (MewGulf-TharnType)Onde histórias criam vida. Descubra agora