A infância de Type nunca foi questionada por ele de forma negativa ou mesmo positiva, pois tudo que ouvia era histórias de como era feliz e o quão amado era por seus familiares. Sua mãe guardava consigo muitas fotografias da época, várias de períodos diferentes, divididas em anos e acontecimentos importantes, como seu primeiro dente caído.
Era só perguntar ou pedir para ela, e com certeza a mulher lhe daria todas elas em mãos. Aos quinze anos Type parou de olhar para aquelas fotos, se sentia extremamente desconfortável e culpado, não lhe fazia bem o fato de que não se lembrava de metade delas, e se lembrasse, era como se não fosse ele ali.
Ver o sorriso doce estampado no rosto da mãe e observar o tamanho da felicidade dela em se lembrar das bonitas memórias que tinham juntos, lhe arrepiava os ossos e sentia vontade de chorar, como feito na última vez em que as viu e ao lado da mãe, chorou. Ela pensou que era emoção e apenas o abraçou.
E tudo piora mil vezes.
Porque Type queria correr do abraço dela e apesar de não saber o motivo de morrer internamente por estar sentindo repulsa do abraço da própria mãe, tinha certeza que o problema estava com ele.
Era sua a culpa e ninguém mais.
Tinha a família perfeita, com avós perfeitos, pais perfeitos e tios que apareciam esporadicamente em comemorações familiares. O que considerava ótimo. Eles sabem em que momento aparecer. Era tudo mil maravilhas, então por que era um ingrato com tudo de bom que tinha?
Não era justo com eles, não era certo que nem mesmo sentia vontade de visitar os avós que sempre lhe deram muito amor e saber disso piorava tudo.
Não que não fosse muito próximo da mãe, muito pelo contrário, eram praticamente melhores amigos, mas ainda assim, era estranho lembrar-se dos momentos ruins que passou e não sentir-se culpado por isso. E quando eles se repetem, é horrível.
E uma coisa estranha, como tudo naquela casa, que acontecia era o fato de Tharn às vezes o levar de volta a esses momentos. Poderia dizer, não ele, exatamente, mas sua presença ali fazia com que Type tivesse mais lapsos de memórias passadas do que tinha antes.
- O que tem a me dizer? - Suas mãos tremiam levemente por baixo das de Than.
Ele se levantou e virou-se de costas, deixando os olhos de Type vagarem confusos em sua silhueta pouco visível pela escuridão do quarto.
- Eu não fico o tempo inteiro com você por acaso, como já sabe. - Ao abaixar a cabeça se vira lentamente, ainda encarando o chão. Ty apenas escuta atento. - Mas não é só pra facilitar as coisas pra você e diminuir as dores que sente por causa do-
Pausa com o ar preso e movendo-se no canto, apressa-se a continuar falando.
- Da nossa ligação, isso tem muito mais coisas envolvidas. E muitas delas você não gostaria de saber e mesmo se quisesse, só tornaria tudo muito mais difícil.
Apesar de estar calado por saber que não era o momento ideal para interromper Than, Ty já estava ficando incomodado com todo aquele mistério.
Por que ele simplesmente não fala logo?
- Eu estou tentando manter você fora da vista deles, mas está cada dia mais difícil, porque todas as coisas que você sabe sobre mim te torna um alvo muito fácil.
Do que você está falando...?
- Tharn, de quem exatamente você está falando e o que você está falando?
Type sentia que ele estava nervoso e não queria dar maiores detalhes, era nítido, mas dessa vez não teria escapatória. Iria brigar com ele se possível, não importa, mas era sua vida também.
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My Body, Your Soul (MewGulf-TharnType)
ParanormalTudo que sou Nunca poderei ser sem ser você Pois Somos tudo que nunca fomos sozinhos Uma parte de nós Construída sem nossa permissão Somos um conjunto que nunca poderá coexistir Éramos pra ser? Também disponível no *Spirit Fanfic*