My Body, Your Soul (MewGulf-TharnType)

Oito

No domingo de manhã o dia amanheceu calmo, uma brisa acalorada e acolhedora. O céu limpo, as nuvens espalhadas em formas diferentes e indecifráveis, era um ótimo dia. A natureza sorria larga e dava para sentir seu cheiro agradável de mãe, mesmo em uma cidade tão movimentada, as poucas árvores ao redor pareciam felizes.

O que raramente acontece.

Tharn havia convidado Type para passear no parque na manhã seguinte, depois do momento de esclarecimento que tiveram. Não poderia negar nem se quisesse. É óbvio que queria, prontamente, sua feição de surpresa e controlável euforia o denunciou. Mas Ty não se importou com isso, não queria estragar o momento com pensamentos negativos, o que não funcionou. Pois logo após ter esse famigerado pensamento, deixou-se levar no quão bobo e descrente parecia.

Que tolo! O que estou pensando?

E com essa constatação feliz se dirigiu ao quarto ao ver Tharn cruzar a porta de saída. Por um instante se sentiu sozinho. Depois de escovar os dentes tão lentamente ao ponto de quase cochilar na pia, por se perder em marés de pensamentos aleatórios, se pôs na cama e puxou com prazer seu cobertor. Foi uma noite razoavelmente fresquinha, o que lhe deixou um tanto contente. Como há muito tempo não se sentia com coisas tão simples.

Dormiu sorrindo. Um coração batendo no peito, um sentimento bom de alguém normal que terá um encontro no parque.

Não, espera. Não é um encontro! É só um passeio, não tem necessidade disso Type.

O sono estava um pouco demorado.

Céus, eu não tenho roupa.

Aquela blusa amarela é nova...

Mas é muito chamativa, Tharn é mais discreto...

Creio que perfeito.

Parecia a cada minuto, mais longe do sono, coisa preciosa para um ansioso. A melhor forma de manter-se calmo e em paz, é o sono. Não o sono com sonhos, não mesmo, mas o sono totalmente apagado de qualquer ligação cerebral. O que não é possível, por isso é uma droga ser ansioso, segundo Type.

Mas no que eu estou pensando? Eu vou de havaianas se quiser, não sou obrigado, ele me vê todo dia. Isso não importa!

Respira fundo: não tem que se preocupar com bobeiras desse tipo, não faz nem sentido pensar sobre isso. É uma grande perda de tempo, deveria estar dormindo, mas segundos depois:

Ir de havaianas, que merda! Até parece. - E então seu comentário mental parece bem engraçado e começa a rir sem parar, parando apenas minutos depois - Aí, eu sou muito idiota, puta-que-pariu.

Vou contar amanhã pra ele em que merda estava pensando, aposto que vai gargalhar bem na minha cara. Idiota. - No entanto, se lembrou do som da risada de Tharn e não era mais idiota. Era bonita.

Mas claro que não iria contar e constatou isso segundos depois. Seria vergonhoso e estava na hora de dormir.

Não dormiu. Ficou escalando mentalmente suas roupas: as mais velhas, as menos velhas, as que são bonitas e velhas, as que são "não ligo pro que estou vestindo, porém tenho estilo" e velhas. Até que enfim, decidiu antemão ir com sua calça jeans preta rasgada no joelho que foi pra faculdade no dia que conheceu Tharn e sua blusa amarela chamativa. Era a única menos velha, sua mãe quem lhe deu de presente quando veio para a cidade.

Sua empolgação em saber se Tharn iria se lembrar, passou dos limites e imediatamente cubriu a cabeça com o cobertor se reprovando e sorrindo feito um "idiota", palavra escolhida pelo mesmo.