doses of gin

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capítulo novo com algumas revelações, espero que gostem e me perdoem os erros, tive dificuldade em revisar. boa leitura!
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Dayane Limins - Londres, 3 de dezembro de 2021 (nada de sol ainda).

Estava tentando manter meu humor estável, mesmo que meu corpo gritasse por uma dose de gin. Todo alcoólatra tem um ponto fraco, o do meu pai é vodka, já meu avó tem um fraco por bourbon, seja dos mais caros aos mais baratos. O meu é whisky, muitos me perguntam como consegui ter esse fraco por whisky, a bebida que menos vicia. A resposta é simples: ele sempre esteve ali, no final da minha sala envelhecendo. Era sempre para ele que eu corria quando algo me estressava, quando percebi já estava com a visão turva e com o tempo nem isso acontecia, eu nem precisava me estressar e eu nem sempre parava quando tudo ficava embaçado.

Não demorou muito para começarem a suspeitar de que eu estava trabalhando embriagada, talvez o semblante tenha dedurado ou o cheiro de álcool que exalava de mim e até de meu suor. Talvez o jeito de falar arrastado, a felicidade que vinha e ia embora em um piscar de olhos também foi um alerta. A ressaca e a depressão estiveram comigo por longos anos, até que tudo aconteceu e eu parei. Fui obrigada a parar, pois iria perder meu emprego.

As pessoas acham normal uma noite de bebedeira, eu também achava até me ver com a necessidade de beber em todos os finais de semana. Era como se não pudesse faltar o álcool naqueles dias, depois comecei a precisar no meio da semana e logo após em todos os dias. O vício começa quando nos tornamos dependentes deles, talvez ainda dê tempo de parar com alguns deles.

Minha boca ainda se enche d'água quando vejo alguém beber perto de mim, meu humor californiano vai embora quando anseio por uma dose, mas ainda é suportável. Afinal, estou sóbria há um pouco mais de um ano.

— Você anotou a placa? — perguntou Bruno sobre o suposto carro que havia me seguido.

Claro, aqui... — o entreguei o papel com a placa do conversível.

— Vou mandar analisarem. Você acha que é alguém que esteve com a gente? — naquele momento eu pensei em lhe contar a verdade.

Poderia dizê-lo o que aquele adolescente me disse na lanchonete, poderia dizer que havia algo de estranho com aquela família do advogado famoso. Poderia dizer que algo aconteceu naquela noite que custou a vida de alguém e que agora poderia custar a vida de quem soubesse da verdade também. Mas eu sabia o que ele diria, seria mais um "você está se envolvendo demais" e viria aquela cobrança para que eu não me estressasse e bebesse novamente.

Ninguém disse nada que já não soubéssemos, infelizmente. — falei encostando na cadeira e tentando não dar alerta em minhas expressões.

— Você disse que tinha algo. — falou curioso, buscando algo que dissesse que eu estava mentindo.

A placa do carro, acho que tem algo a ver. Você não? — perguntei na tentativa da conversa mudar o rumo.

Claro, confio em você. — revirei os olhos involuntariamente — Lhe devo desculpas por tanta desconfiança, não sei o que me deu. — falou passando a mão em seus cabelos arrumadinhos.

Nosso trabalho é investigar, agora se me der licença... preciso ir até o quarto de hotel para me organizar. — ele assentiu e me olhou sair da sala.

Já era por volta das sete horas e já fazia muito tempo que havia anoitecido, meu corpo desejava um banho quente e uma cama macia de hotel. Eu sabia que não deveria descansar agora, que deveria investigar mais, que quanto mais eu trabalhasse menos tempo teria para pensar sobre o que ocorreu nos últimos anos. Mas talvez eu realmente precisasse de alguns dias de descanso.

The Lake House (Dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora