voltei, espero que gostem do capítulo de hoje. digam o que estão achando e o que estão esperando, é bem legal acompanhar o pensamento de vocês.
boa leitura, até mais...
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Dayane Limins, Londres - 06 de dezembro de 2021 (ainda no bar).Havia um copo de gin com gelo em minha frente, eu o rodava em meus dedos buscando a iniciativa para levá-lo aos meus lábios. Queria sentir o gosto do álcool em minha boca junto da ardência em meu estômago. Queria saber como eu me sentiria caso eu tomasse aquela dose depois de um ano sem beber. Gostaria de dormir bêbada depois de vomitar tudo pela casa, mesmo sentindo a dor e a vergonha de fazer isso.
Mas havia um motivo, a porra de um motivo. Não era meu trabalho, não eram meus amigos e muito menos minha família. Era ela! A droga daquele serzinho radiante não me deixava beber, não me deixava foder com a minha vida. A vontade de achá-la, de levá-la em segurança para sua casa, estava segurando a minha dignidade.
Levei o copo ao meu nariz pela décima e vez e cheirei, suspirei logo após. Aquilo era uma tortura, eu queria tanto aquilo e não podia ter. Mas eu prometi que se não a encontrarmos como desejamos não vai ser o único copo que vou beber, mas o primeiro deles. Eu não lutaria mais, não precisaria lutar, perder esse caso significa que eu sou um fracasso e beber não vai ser diferente.
— Não vai beber? — a voz calma soou atrás de mim, eu queria que fosse sua voz suave e grossa, mas não era.
— Deveria estar na delegacia. — falei sem me virar, estava tão envergonhada que jamais o olharia nos olhos novamente.
— Não há nada mais importante que você, Day. — disse tentando analisar meu rosto, ele queria saber se já havia feito merda.
Bruno fazia isso, me fazia falar para saber se minha voz estava arrastada ou para me fazer olhar em seus olhos, assim veria meu semblante. Eu não estava afim desses jogos, eu não havia bebido, mas ele não precisava saber. Eu estava cansada de todos cuidando de minha vida, tudo bem que se importam, mas a que custo? Até onde eles iriam para me salvar de mim mesma? Por que todo esse amor por alguém que só sabe se sabotar? Eu ainda não entendia o porquê dele estar aqui, o porquê de ter continuado ao meu lado.
— A vida dela vale mais que a minha, ela ainda tem salvação. — soltei um riso baixo.
Inferno. Perdição. Fogo eterno. Era isso que eu ouvi quando comecei a tentar entrar nos "alcoólicos anônimos". "Jesus irá salvar vocês, lhes dará o perdão eterno" e bla bla bla. Na verdade eu não acreditava nessas paradas, mas não julgo quem acredita. Todos precisam de uma motivação, algo que nos faça escolher ser melhor todos os dias. Alguns escolhem Cristo, já eu... nunca houve um motivo, apenas cansaço. O desejo de beber me estressava, no começo me estressava e me causava surtos de raiva, depois o mau humor apenas me dominou e eu aprendi a lidar com a infelicidade.
— Você com um papo cristão? — riu tentando se aproximar — Só pode estar... — pigarreou tentando parecer natural no que ele iria dizer.
— Bêbada? — sorri com a ideia — Eu gostaria, poderia adiar todo esse problemão. — devolvi o copo a mesa, sentindo o vazio me dominar novamente.
— Você sabe que é passageiro, todo seu esforço iria por água abaixo. — aquele assunto era sempre o mesmo, já havia até decorado.
— Ninguém me diz algo novo. — eu sabia que era verdade, eu já passei por isso, mas ainda sim não deixava de ser delicioso quebrar essa promessa junto de meu coração.
— O que Carol acharia disso? — falou como se aquilo fosse me atingir e sim, atingiu.
A verdade é que eu não sabia, Caroline não tinha esse sentimento de proteção por mim, aliás quem está na mira de Violet é ela, não eu. No mínimo ela me vê como uma salvadora, mas nada além disso. Se fosse o contrário eu entenderia, eu me magoaria e faria o possível para que ela voltasse a sua realidade até sentir que ela estivesse segura, mas Carol jamais faria isso por uma estranha — que é o que eu sou.
— Não importa. — falei de uma maneira um tanto rude, me infligiu o fato dele usá-la.
— Mas vai. Nós a encontramos, sabemos aonde ela está. — virei meu corpo para ele, sentindo tudo se arrepiar.
Eu a veria novamente.
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Caroline Biazin, Londres - 06 de dezembro de 2021 (frio escaldante).Eu havia me alimentado, estava um pouco mais calma. Calma o suficiente para começar a sentir dores em meu corpo, como nos olhos por causa da venda, junto das mãos que as cordas apertavam. Quando se está com fome tudo que você consegue prestar atenção é na dor no seu estômago e a fraqueza que te toma aos poucos. Agora o que me restava era conseguir bolar um plano.
Só então eu percebi como não havia nem tentado me soltar, além do soco que dei nele. Aquilo foi por raiva, mas não por vontade de sair daqui. A verdade é que eu sentia tanto que Dayane estava vindo que a cada momento que se passava eu tentava acreditar que ela estava mais perto. Mas não estava. Ela não me acharia — talvez tenha até desistido. Decidi me lembrar de alguns casos de sequestro que eu costumava ler quando mais nova. Ser fascinada nesses assuntos deveria me ajudar em situações assim. Tentar saber com quem eu estava falando era essencial, óbvio que não me refiro ao nome dele, mas sim suas intenções. Quero saber o porquê de estar ajudando Violet.
Eu estava com tanta raiva dela, raiva por ela me tirar tudo de um dia pro outro, por me deixar em situações miseráveis para conseguir o que tanto quer: liberdade para não cumprir os anos de cadeia que pegará. Talvez eu estivesse com mais raiva de Dayane, por me fazer confiar que me deixaria em segurança. Antes eu tivesse realmente me mudado e fingido que isso nunca aconteceu, não ter tocado naquele baú ou evitado me apegar em Dayane. Ela tinha algum efeito sobre mim que eu não gostava muito, mesmo sendo deliciosa a sensação. Ela me trouxe uma paz que só alcancei perto dela. Não era certo, não deveria me sentir assim perto de alguém que vai embora em poucos dias — se é que já não foi e me deixou nas mãos dos merdas dos policiais de Londres. Ela tem um jeito rabugento, mas que sempre está pronta para sorrir e quando sorri eu sinto meu corpo borbulhar, se é que isso é possível.
Não queria tirar meus pensamentos dela, é o que vem me fazendo se distrair aqui, mas a porta abriu. Senti meu corpo gelar quando os passos vieram rápido em minha direção. Eu quis falar algo, mas quando abri a minha boca nada saiu. Senti as mãos quentes dele em meus braços, me fazendo ficar em pé.
— O que está fazendo? — eu não podia deixá-lo me levar aonde quer que seja.
— Estão aqui, preciso te tirar desse lugar. — a voz grave ecoou em meu ouvido, ele me puxava para lá e para cá.
— Eles quem? — perguntei assustada.
É a primeira vez que sinto meus ossos gelar, a sensação de perigo é bem diferente da sensação de adrenalina. Meu corpo estava rígido esperando a resposta dele, mas ele parecia estar analisando a situação.
— A equipe de Dayane. — quando o nome saiu de sua boca, a única coisa que eu soube fazer foi gritar.
Gritei por ela, gritei por Bruno e gritei para que Deus me achasse. Mas a única coisa que eu recebi de volta foi um apagão.

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The Lake House (Dayrol)
Misteri / ThrillerLondres: tempos atuais. Fui enviada da Califórnia para cá na tentativa estúpida de resolver mais um caso. O que eu não acho ruim, viajar tem sido meu alicerce para fugir de alguns problemas pessoais, mas não há nada de bom em casos assim. Uma garo...