Depois do bolo que levei de Dayane, resolvi estabelecer limites como "se for para deixar os seus medos te guiarem, me avise antes de decidir pular fora". Não queria ser rude com ela, mas alguém precisava mostrá-la que eu não estarei aqui esperando seus caprichos para sempre. Dayane e eu buscávamos uma pela outra de uma forma inexplicável, nossa sintonia, nossos olhares e até a forma como nossos pensamentos se guiavam. Eu sei que ela sente muito pela forma em que nos conhecemos, mas ainda sim não há motivos para que isso interfira em algo em nossas vidas.
Eu gostaria de tê-la conhecido quando criança, crescido com ela e seguido cada passo de sua vida, ter percebido logo cedo essa sensação quente e borbulhante em minha pele que ela causa sempre que chega perto, ter lutado contra esse sentimento até não aguentar mais e contá-la a verdade, que eu estava apaixonada. De me descobrir junto dela, de ter o meu primeiro beijo com ela e todo o resto. Mas infelizmente nos conhecemos comigo em um caso de polícia, comigo sendo a isca e transar por medo de morrer e nunca mais ter a oportunidade de fazer aquilo com ela novamente.
Foi por isso, além do desejo que estava me consumindo. Tive medo de negar aquilo mais um pouco e não ter a chance novamente. Gostaria muito que nosso romance não fosse passageiro, que nossa história fosse como aquelas de quadrinhos onde tudo dá certo e todo o resto caminha para que isso aconteça. Não havia nada nos favorecendo e Dayane só piorava a situação. Ela me enchia de inseguranças e me faz questionar até de mim mesma, mesmo que eu tenha certeza sobre o que quero com ela. Viver o momento é uma boa, é o que temos e devemos apreciar isso.
Talvez ela perceba agora, talvez veja que não vou ser alvo de suas recaídas, mas que ainda sim vou estar me esforçando para aceitá-la quando ela cair na real. Enquanto isso, estou sentada na janela do meu quarto, pensando nela e buscando algum sinal de que ela aprovaria o que eu estou fazendo. A fumaça dançava entre meus lábios, meus olhos já estavam mais pesados e meu sorriso brincava em meus lábios. Aquela calmaria, como se eu conseguisse relaxar em qualquer momento da minha vida, mas ainda sim ela conseguia fazer meu coração bater mais forte. A sensação de euforia me percorria inteira mesmo com aquele baseado nas mãos, ficava imaginando ela entrando aqui e me pegando com isso em mãos, rodando a algema em meus pulsos e rosnando no meu ouvindo alguma coisa sobre isso não ser o certo — mesmo que já não liguem tanto com o consumo de maconha em Londres. Mas eu sabia que ela jamais me puniria, isso que me fazia sorrir no meio daquele frio congelante e cheiro doce. Conseguia ter certeza que ela me puniria de uma forma quase gentil, na intenção de me agradar pelo ocorrido de mais cedo.
Fechei a janela quando comecei a sentir a fome, me enrolei de uma forma mais firme em meu robe e desci até a cozinha. Salgadinhos e uma lata de coca cola quase conseguiram em saciar, a questão é que a fome não vinha da comida e sim dela. Aquela mulher. A nossa desavença de mais cedo só serviu para aprimorar o que eu estava sentindo. Por que isso tem que ser assim? Por que ela tem que fugir tanto de mim? Eu não entendo o sentido disso tudo, dela não se permitir ser feliz.
A campainha tocou quando eu estava no sofá deslizando sob os canais da tv, buscando por algo que me tirasse ela da cabeça. Não foi surpresa quando abri a porta e quem estava lá era uma pilha de neve e Dayane. O rosto vermelho por causa do frio, os cabelos que antes eram pretos agora estavam brancos e cheios de flocos. Não dissemos uma palavra, mas quando ela tentou eu apenas a dei passagem para que pudesse entrar e se aquecer um pouco. O apartamento estava quente, mas conseguíamos ouvir o vento uivar do lado de fora, de tão silenciosa que estava a casa.
— Vou ficar por mais um tempo... — começou enquanto se ajeitava no sofá ao meu lado.
— O que disse? — eu não estava surda, mas estava tentando me manter sóbria.
— Vou ficar por aqui, por mais alguns dias... — seu corpo se virou para o meu, seus olhos estavam me buscando e talvez, apenas um talvez, buscando um pouco de felicidade em mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Lake House (Dayrol)
Misterio / SuspensoLondres: tempos atuais. Fui enviada da Califórnia para cá na tentativa estúpida de resolver mais um caso. O que eu não acho ruim, viajar tem sido meu alicerce para fugir de alguns problemas pessoais, mas não há nada de bom em casos assim. Uma ga...