Capítulo 16

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“Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar.”

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Após uma interminável discussão, Danilo e Elisa acabaram concordando com Maria e permaneceram no shopping para o cinema que os esperava, enquanto ela, com a desculpa mais esfarrapada, entrou em seu carro e dirigiu para o mais longe possível dali. Queria ir para o fim do mundo, mas acabou chegando à Monumental.

Maria sentia um ódio descomunal percorrer suas veias. Sentia que viria a explodir a qualquer momento, e mais, seria capaz de executar qualquer ser humano que cruzasse seu caminho com suas próprias mãos.

Chegou à empresa possessa, e um fio de alegria tomou-a quando lembrou-se que não havia ninguém ali a não ser ela mesma. Em sua sala ficou a especular o que levara a se exaltar daquela forma. Lembrou-se da última vez que se vira tão irada, exatamente quando flagrou Luciano e Larissa.

― Isso não pode ser ciúmes – dizia a si mesma, tamborilando os dedos sobre a mesa de forma desenfreada – você não pode estar sentindo ciúmes, Maria.

Suas palavras não foram suficientes para acalmá-la. A imagem de Estêvão sorrindo para outra mulher era a pior forma de tortura que poderia ser exposta.

Respirou fundo uma, duas, três vezes, mas ainda assim estava à beira de um ataque de nervos. Àquela altura, suas unhas eram suas maiores vítimas.

― Vou me arrepender disso, mas não tenho outra escolha – disse com um sorriso enviesado.

Maria sacou seu celular da bolsa, e após digitar rapidamente, o colocou na orelha.

Bastou apenas quatro toques para ouvir um retorno do outro lado.

― Oi, Estêvão, espero não estar atrapalhando – deu um sorriso cínico. – Preciso de você agora aqui na Monumental... Sim, eu sei, mas se não fosse urgente, não te chamaria... Esses relatórios não podem esperar até segunda, Estêvão... Posso contar com você? Ok, obrigada – e então encerrou a ligação sentindo-se a pior (e a mais maléfica) das pessoas.

Estêvão não tardou em chegar. Ao vê-lo, teve vontade de rir. Suas vestes despojadas indicavam que ele não havia passado em casa, ou seja, atendeu de pronto seu chamado, ou seja, ela estava à frente da fulaninha na vida dele, ou ele simplesmente prezava o trabalho, enfim, o importante é que estava ali.

― Aqui estou – seu tom estava mais sério que o de costume.

― Demorou – alfinetou. – Eu preciso do relatório das produções de ontem.

― Seu pai me disse que eu podia entregar segunda-feira – ele argumentou com cara de poucos amigos.

― Eu imagino que sim, mas sabe como é, não é – forjou um sorriso acalentador – ele não tem mais trinta anos, a idade já não é um ponto forte. Espero que não leve para o pessoal, Estêvão, ou acha que eu queria estar aqui agora?

― Tudo bem – deu de ombros – vou resolver isso num instante. Com licença.

― Toda.

Ele deu um meio sorriso e se retirou.

― Você deveria estar se sentindo mal por isso, Maria – confabulava consigo mesmo – mas não estou – respondeu a si mesma.

Como não tinha nada de importante a fazer, Maria resolveu passar o tempo jogando no celular.

No início o joguinho havia conseguido ter sua atenção, mas depois, ladeira a baixo.

Maria não conseguia parar de pensar que Estêvão estava tão próximo, e os dois tinham um prédio enorme só para eles; mas então ela ouvia a voz de Carol.

Sintomas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora