“Quem põe ponto final numa paixão com o ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer.”
****
Embora ainda mantivesse nos lábios aquele sorriso vasto e corriqueiro, seu interior estava em trevas. Era como se tivesse vivido num dia alegre de sol, com bons amigos, e do nada o tempo virasse, a chuva caísse e de repente todos fossem embora. Era inexplicável, mas o sumiço de Geleia estava causando estas e outras sensações de pequenez no pobre homem.
Já era quase meio dia, e ele havia passado a maior parte da manhã rodando pelo quarteirão – e se atreveu a ir em outros bairros também – em sua busca, que a cada minuto que passava, se tornava vã e ia tirando toda sua esperança de voltar a ver a menina que, algumas vezes, o deixou de orelha quente.
Vencido pelo cansaço – e pela fome – Estêvão voltou ao prédio, cabisbaixo, mas antes de passar pela portaria, acabou se encontrando com Carol.
— Olá, Carol – a cumprimentou com dois beijos no rosto – não esperava você aqui.
— Quis saber em que ventos anda aquela situação – deu de ombros, com um risinho no canto do lábio.
Estêvão deu um largo sorriso, mas Carol o conhecia, sabia que no fundo alguma coisa estava fora do lugar, o que era natural, depois de todos os acontecimentos recentes.
— Você está preocupado – afirmou, tocando em seu ombro. – Maria ou Geleia? Alex me contou que ela saiu de casa ontem.
— Vamos subir.
Estêvão deu passagem a ela, e os dois seguiram ao apartamento.
Em cinco minutos (que foi o tempo que levaram para chegar ao andar), ele a colocou a par do que vinha acontecendo.
Carolina dividia suas expressões entre ficar boquiaberta e os olhos arregalados. Vez ou outra as duas coisas aconteciam no mesmo tempo.
Mas o que deixou seu coração entristecido não foi o fato de que Maria e ele não tivessem se acertado, mas sua preocupação excessiva pelo sumiço de Geleia. A sua fisionomia devastada estava deixando a amiga sem saber como agir.
— Pelo visto sua opinião a respeito da trombadinha mudou, não é mesmo? – perguntou ela, quando já estavam dentro do apartamento.
— Sim – respondeu abatido. Ele foi até a geladeira e se serviu com um copo d’água. – Água? Refrigerante? Café? – ofereceu, quase de dentro da geladeira.
— Água.
Ele encheu outro copo com água, voltou à sala, serviu-a e se acomodou ao seu lado no sofá.
— Quem imaginaria que eu ficaria desse jeito – deixou um sorriso sem graça escapar. – Estou com medo, Carol. Disse para Maria que nada de ruim iria acontecer, mas não sei se eu mesmo acredito nisso.
— Vai dar tudo certo, Estêvão – ela segurou a mão dele. – Geleia é esperta, daqui a pouco, quando a fome apertar, ela aparece nesta porta – olhou a entrada rapidamente, sorrindo – como se nada tivesse acontecido – sua fala era repleta de entusiasmo.
— Tomara, viu – suspirou, baixando os olhos para o copo, agora vazio.
— É bonito ver você assim, todo preocupado, sinal que você será um bom pai no futuro.
Ele a olhou assustado.
Não tinha ligado uma coisa a outra. Sua tensão estava além do que já vivera, mas não havia associado ao sentimento paterno. Então era assim que um pai ficava quando um filho se metia em roubadas?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sintomas de Amor
RomanceMaria levava a vida no modo automático, e isso não parecia incomodá-la, e por que incomodaria, já que vivia, a seu modo, um conto de fadas? Porém seu "felizes para sempre" chega ao fim. Num minuto Maria tem a vida perfeita, e no outro vê seu casame...