Epílogo

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“Te confesso é mais que emoção
Nossos olhos denunciam o coração
Frases prontas se embaraçam
E o meu rosto até perde a cor,
Olha eu tô desconfiando
É sintoma de amor
Só que eu não sou vacinado
E te peço agora, por favor
Cuida do meu sentimento
Eu tive medo de me apaixonar
De repente, aconteceu
E algo me diz
Que eu vou te amar..."

****

— Olá, senhora, boa noite – Estêvão se aproximou da esposa com um sorriso torto e um olhar indecifrável. – Será que poderia me dar uma informação?

Maria, que da sacada do seu quarto observava a noite estrelada que se fazia, se virou de pronto logo que ouviu aquela voz grave. O mirou encucada, sem fazer ideia do que ele estava aprontando com aquele semblante matreiro.

— É que estou meio perdido – continuou ele, agora um pouco mais sério – e queria saber qual rua pego para chegar no seu coração.

No mesmo instante Maria pendeu a cabeça para trás e soltou uma gargalhada calorosa.

Quando conseguiu se conter, o abraçou.

Amava tudo em Estêvão, tudo mesmo, mas poderia dizer sem pressão nenhuma que a forma com que a fazia rir sem dificuldades aparentes era uma das coisas que preferia nele.

— Você é um bobo, sabia? – afirmou com o rosto colado no dele. – Onde foi que aprendeu essa?

— Um mágico nunca revela seus truques – sorriu convencido.

Antes que Maria pudesse tentar tirar aquela informação dele, ele a beijou.

Um beijo extraordinariamente doce.

Havia passado algum tempo, mas nem todo o tempo do mundo seria suficiente para apagar aquela chama, aquilo que eles construíram e seguiam construindo, aquilo que era só deles.

— Tenho que te falar uma coisa.

Maria voltou à posição que estava antes de ser abordada pela cantada original do marido. Estêvão, colado ao seu corpo, abraçando-a por detrás, agora também observava aquela linda noite.

— Alguma cantada? – sussurrou ao pé do seu ouvido, fazendo sua pele se ouriçar.

Maria ficou quieta durante alguns bons segundos.

— Vamos ter que ficar pelo menos quarenta dias sem fazer amor – encerrou o silêncio, virando levemente seu rosto para a direita.

A testa de Estêvão franziu.

— Por que? É algum jejum espiritual?

Maria riu.

— Claro que não – revirou os olhos ainda rindo. – Mas não é agora, só daqui uns oito meses.

Maria perdeu as contas de quantas vezes notou o marido abrindo a boca para questionar e parando no meio do caminho.

— Não estou entendendo, meu amor – sua feição era de quem realmente não entendia bulhufas.

Maria se soltou e se virou para ele.

— Não sabia que depois que os bebês nascem são necessários pelo menos quarenta dias de resguardo? – e então o sorriso mais lindo surgiu em seus lábios.

Um riso estranho saiu da boca de Estêvão.

Se afastou alguns metros e, incrédulo passou a encarar a esposa sem dizer uma só palavra. Ele ficou assim por exatamente vinte segundos, só então explodiu e abraçou Maria, tirando-a do chão.

— Outro bebê? – perguntou com os olhos banhados em lágrimas, já no meio do quarto.

Ela confirmou com um sorriso.

— Mas o Vicente acabou de completar um ano. Meu Deus, Maria, vamos ser pais de novo!

Mais uma vez a abraçou. Logo após se ajoelhou e passou a falar com a barriga da esposa:  

— Seja muito bem vindo à família. Já estou contando as horas para te ter em meus braços – selou suas palavras beijando a barriga.

Ele tornou à esposa.

— Quem diria, há alguns anos eu chorava para ter um bebê e em menos de dois anos, dois filhos. Estou vivendo um sonho – declarou ela emocionada.

Estêvão segurou as mãos dela.

— Meu pai sempre dizia que tudo acontece no tempo certo, nada vem antes ou depois, tudo no tempo certo.

— Eu te amo, Estêvão – confessou, como se não fosse óbvio demais. – Amo o que somos, amo o que construímos e tenho certeza que meu maior acerto foi ter dado trela para um certo mala – rindo, ela tocou os lábios dele com os seus.

— Também te amo, meu Pudinzinho – juntou sua testa com a dela. – E só tenho duas certezas nessa vida.

Ela o fitou encucada.

— Que meu amor por você jamais vai acabar – prosseguiu – e que esse bebê vai ser um menino.

— Menino, Estêvão? – afastou seu rosto do dele. – Não acredito que está com trauma de adolescentes?

— Geleia é a culpada – deu de ombros.

— Ah, mas essa aqui vai ser menina, está na hora de empatarmos isso aqui.

— Nada de empate. É menino!

— Menina!

— Menino!

— Menina!

— Que tal se pararmos de discutir e aproveitar enquanto aqueles quarenta dias não chegam?

Findado o bate boca, Estêvão a envolveu e destilou beijos por todo o corpo da esposa.

Amou-a àquela noite como jamais antes, e nas seguintes ainda mais, e nas que sucederam, amava-a com todo o seu ser, com toda a sua força.

E seguiram assim durante muito tempo.

Mesmo quando estavam velhinhos, continuavam se amando, e quando olhavam para trás, só se sentiam gratos pela bela e grande família que constituíram com todo o amor que lhes cabia.

****

Fim.








Sintomas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora