Capítulo 19

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“O mais terrível não é termos nosso coração partido (pois corações foram feitos para serem partidos), mas sim transformar nossos corações em pedra.”

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Estêvão teve de se esforçar como nunca para não mostrar sua frustração a Maria. Deu sorte que, logo após seu veredito, ela lhe deu as costas, não sabia se conseguiria atuar. Fingir sentir coisas que não sentia não era bem seu forte.

Permaneceram dialogando durante algum tempo – ela falava, ele respondia – até que ela pegou no sono.

Não tinha dúvidas sobre seu amor por Maria, era algo indiscutível. Ao seu lado sentia-se leve, completo, vivo; não tinha como não ser ela. Então ela vem e, com apenas algumas palavras faz seu mundo desmoronar.

Tentou adormecer, fazer com que a noite passasse rápido, mas aconteceu o oposto. A insônia e seus pensamentos eram suas companheiras naquela noite que dava a entender que seria longa.

Tinha perdido Maria.

Ele riu de si mesmo. Como poderia ser tão ingênuo? Como perder algo que nunca fora seu?

No fim foi vencido pelo cansaço. Seu sono era tão pesado que não notou quando Maria, logo cedo saiu da cama.

― Bom dia, dorminhoco – seus lábios se curvaram em um sorriso terno. Tinha acabado de sair do banho; ela vestia um roupão branco, e secava os cabelos com uma toalha. – Você estava num sono tão profundo que fiquei com pena de te acordar.

Ele sorriu. Bem, só uma pessoa com um grave problema visual chamaria aquilo de sorriso.

― Não quero ser grossa, mas você precisa ir, se meu pai descobre que você dormiu aqui, te obriga a casar comigo amanhã mesmo – disse ela, séria, sentando-se na beira da cama.

― Mesmo? – arregalou os olhos inchados.

― Não – deu uma sonora gargalhada e se levantou. – Mas melhor ele não saber que passou a noite aqui, ele vai querer explicações que não vou dar – sorriu. – Vou lá embaixo saber se já se levantaram.

Maria deu a entender que sairia do quarto, mas logo voltou a ele:

― Ah, se quiser tomar um banho, fica à vontade. Tem toalha no armário e escova de dente extra – explicou com um sorriso amável. – E até vou deixar você usar meu sabonete – falou baixo, com um sorriso provocante.

― Isso sim é tentador – sorriu, um sorriso de verdade, e  se sentou na cama – seu corpo no meu corpo – piscou, mordendo o lábio.

― Eu uso sabonete líquido, seu bobo – deu uma risada. – Vou descer.

Ela o fitou por mais alguns segundos e então se retirou.

No caminho até o andar de baixo notou que seu coração não batia de forma normal, e se deu conta que, todas as vezes que estava com ele, seu coração perdia o controle. Batia de forma tão acelerada que chegava a doer.

Havia algum tempo que ele deixara de ser uma pessoa comum em sua vida, e ela tinha convicção disso, mas também estava convicta que havia muitos “poréns”. Estêvão era perfeito, mas seria perfeito para ela?

― Sabrina? – quase deu um salto ao ver a madrasta voltando da cozinha. – Acordada a essa hora? – fitava-a como se tivesse visto um fantasma.

Sabrina passou por ela e, chegando à sala, sentou-se em um dos sofás. Maria a seguiu, mas permaneceu de pé.

― Deu sede – deu um sorriso dissimulado a ela, como se soubesse de algo, erguendo o copo. – E você, o que faz de pé a essa hora da manhã? Foi dormir tarde ontem, pensei que acordaria mais tarde.

Sintomas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora