"Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.”
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Quando saiu de casa, Estêvão tinha certeza que a Maria que encontraria não seria sua doce Maria de riso fácil, de olhar nobre e acolhedor, mas quando seus olhos bateram nela, tinha que confessar que vê-la naquele estado deplorável o deixou destruído por dentro.
Esqueceu-se de Helena (que estava aterrorizada na sua cola) por alguns segundos e correu como um louco em direção à esposa.
Maria estava praticamente deitada sobre o túmulo da mãe. Seu silêncio indicava que já havia chorado mais que seus olhos poderiam aguentar, e sua falta de força mostrava que havia atingido seu limite. Havia sido forte por tempo demais, havia segurado a onda, mas chegou a um estágio que seria impossível seguir adiante sem antes desabar.
— Meu amor, meu amor...
Estêvão, sem muita força aparente, levantou-a do chão e a protegeu na segurança de seus braços.
Nenhuma palavra foi dita da parte dela, tampouco da dele. Helena os observava com uma vontade crescente de chorar.
Os três fizeram o caminho de volta ao carro dele. Ele a ajudou a se acomodar ao seu lado e em seguida deu a partida.
Maria seguia em silêncio, mas notava-se de longe a dor que insistia em fazer morada naquele par de olhos verdes. Estêvão também optou pelo silêncio, embora seu único desejo fosse arrancar todo o sofrimento que sufocava sua amada e depositá-lo em si mesmo.
O carro, que seguia com menos pressa, correu durante dez minutos sem interrupções. Foi no undécimo minuto que Maria assustou a todos com um grito que pareceu ter saído de sua alma:
— Para esse carro!
Estêvão, tomado pelo sobressalto, freou o carro imediatamente, e o estacionou de qualquer forma numa rua com pouco movimento.
Logo que o veículo parou, Maria saiu, mas ficou por perto. Estêvão foi atrás dela, como era de se esperar. A mais nova, no primeiro momento, apenas os observava da janela.
— Maria... – tentou dissuadi-la a voltar, tocando seu braço por trás
Maria se virou para ele de repente.
— Eu não posso fazer isso com você! – ela gritou; as lágrimas voltaram a se fazerem presentes. – Eu. Não. Posso! – esbravejou.
Qualquer palavra que ele escolhesse para dizer naquele momento parecia ser a palavra errada, então ele simplesmente a abraçou.
— Pare de se martirizar – falou ao pé do seu ouvido.
— Não é justo, Estêvão – tentou focar os olhos deles, mas os seus estavam tão embargados que foi difícil. – Eu não posso te prender a mim, eu não posso fazer você desistir do seu sonho.
A resposta dele foi um sorriso.
— Quem disse que já não realizei meu sonho?
— Mas... – o olhou confusa.
Sem que eles percebessem, Helena saiu do carro e passou a acompanhá-los mais de perto.
— Sem mais, meu amor – ele acariciou seu rosto, secando suas lágrimas.
Mas seu gesto não foi o suficiente para fazê-la se recompor. Maria se afastou alguns metros.
— Eu sou uma mulher vazia, Estêvão – o encarou com dor. – Não posso ser tão egoísta a ponto de te obrigar a ficar do meu lado.
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Sintomas de Amor
RomanceMaria levava a vida no modo automático, e isso não parecia incomodá-la, e por que incomodaria, já que vivia, a seu modo, um conto de fadas? Porém seu "felizes para sempre" chega ao fim. Num minuto Maria tem a vida perfeita, e no outro vê seu casame...