“O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem?”
****
Maria terminou de entrar no cômodo vagarosamente, mantendo o contato visual com o atrevido que invadira seu aposento, e então fechou a porta, colando as costas na mesma.
― Estou esperando uma explicação, Estêvão – ela não estava necessariamente zangada, mas sua expressão não era muito convidativa.
Contudo, ele exibiu um sorriso típico. Arrumou sua postura, coçou a garganta, e então estava pronto para sua defesa:
― Não é o que parece.
A pose de mulher de ferro de Maria se desmontou e ela acabou rindo.
― É sério – tentou ficar sério, mas não resistiu. – Perguntei à sua mãe onde era o banheiro e ela me indicou essa porta. É no segundo andar, segunda porta à esquerda – explicou gesticulando e tentando imitar a voz de Sabrina.
Maria caminhou até ele.
― Não acredita?
― Na verdade acredito sim, é bem a cara de Sabrina fazer isso. Mas claro que o senhor não ia deixar de fuxicar, não é? – perguntou, estreitando os olhos quando o viu com um porta retrato na mão.
Ele sorriu uma vez mais. Maria revirou os olhos, rindo também.
― O que está vendo? – parou ao seu lado.
― Realmente você se parece muito com a sua mãe – ele elevou o quadro que estava em sua mão, de modo que os dois o viam perfeitamente. – Pensei que pudesse ser exagero, mas não, você é a verdadeira cópia dela – concluiu sorrindo.
Claro que Maria deu seu melhor sorriso a ele diante da informação.
Pegou o porta retrato de sua mão e foi até a cama, onde sentou-se, e o convidou a fazer o mesmo. Ambos estavam sobre a cama, recostados na cabeceira com os pés sobre a mesma.
― Você acha mesmo que somos parecidas? – suas írises cintilavam enquanto encarava sua mãe abraçando-a em meio às risadas.
― Tenho certeza – ele tomou o quadro de volta. – O cabelo de vocês tem a mesma tonalidade, o sorriso também é o mesmo, e olha só a forma como vocês fecham os olhos para rir, é idêntico!
O coração de Maria já não aguentava mais dentro do peito.
― Aposto que quando ela olha para você lá do céu, ela se sente muito orgulhosa pela mulher que se tornou – comentou após por o porta-retrato deitado sobre o baú do seu lado da cama.
Mas Maria não o respondeu, e eles ficaram quietos, com o olhar à frente durante alguns minutos. Foi Estêvão quem interrompeu o silêncio:
― Essa aqui só pode ser a Helena – ergueu a boneca de pano antiga, rindo.
― Sim, essa é a Helena – pegou a boneca e colocou uma das mãos debaixo do vestido dela e levou-a em direção a ele. – Dá um oi para o Estêvão, Helena. Olá, Estêvão.
Estêvão riu tanto da imitação de Maria, que suas costelas começaram a doer. As gargalhadas eram tão altas que Maria teve que dar um ou dois tapas nele para que ele parasse de rir, senão acabaria chamando a atenção de alguém.
― Nunca mais imito nada perto de você – colocou a boneca no baú que estava do seu lado.
Ela o olhou emburrada, fazendo biquinho, mas ele sabia que não era sério.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sintomas de Amor
RomanceMaria levava a vida no modo automático, e isso não parecia incomodá-la, e por que incomodaria, já que vivia, a seu modo, um conto de fadas? Porém seu "felizes para sempre" chega ao fim. Num minuto Maria tem a vida perfeita, e no outro vê seu casame...