“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
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Embora Geleia estivesse bem convicta de seu plano para juntar Estêvão e Maria, eles pareciam não estar muito de acordo (mesmo não estando a par do assunto).
Uma semana após a desafortunada conversa, e ambos mal trocavam palavras. Na verdade, Maria se esquivava de Estêvão feito um peixe escorregadio. No trabalho, só falava o estritamente necessário, e quando isso ocorria, não conseguia manter seu olhar no dele mais que cinco segundos. Quando se tratava de Geleia, era ainda mais arisca: só ia ao apartamento quando tinha certeza que ele não estava. Nada muito educado, mas já não estava se importando com os bons modos.
E dessa forma eles seguiam, ou seguiram, já que Maria provavelmente se enrolou nos cálculos dos horários de Estêvão em casa, pois, quando olhou para trás (enquanto esperava o elevador no prédio dele) ele se aproximava, tumultuando todos seus sentidos.
— Pudinzinho, que surpresa vê-la! – a saudou sorridente, o modo que ela conhecia bem, como se tudo estivesse normal entre eles.
— Estêvão – deu a ele um sorriso sem graça.
— Quanto tempo não nos vemos, não é? E pelo que sei, você tem vindo todos os dias aqui, ou estou errado?
— Não, não está – Maria desviou seu olhar do dele, pois tinha o pressentimento que a qualquer momento seria petrificada.
— Espero que não esteja me evitando, Pudinzinho, eu ficaria chateado.
Se a atitude amigável dele era para fazê-la se sentir mal, culpada, estava conseguindo. Aquela simpatia, aquele sorriso em excesso estavam cauterizando-a, mas tudo bem, ela até que estava merecendo.
— Não estou te evitando, Estêvão – tomou coragem para encará-lo – apenas nossos horários não estão batendo.
— Hum.
Para sorte dela, as portas metálicas se abriram. Para seu azar, os dois ficariam a sós naquele pequeno espaço pelos próximos minutos.
— Elevadores me trazem boas lembranças, sabia?
Seu coração pulou quando ele voltou a falar, depois de longos segundos quieto.
— Ah, é? – perguntou ela, com o olhar fixo na porta.
— Me remete ao tempo que nos conhecemos. Ainda tenho aquela vontade.
— Que vontade? – o fitou curiosa.
— De te beijar dentro de um elevador, creio que seja um fetiche – ele respondeu tão leve quanto uma pena.
Onde estava o ar quando mais precisava dele?
— Mas fica tranquila – ele falou quando notou que ela não tinha estruturas para manter o assunto – não pretendo fazer isso agora. Não fiz naquela época, quando achei que te conhecia, não farei agora que conheço você.
Aquela frase acertou Maria em cheio. Se ele tivesse dado um soco em seu estômago, teria doído menos. Mas ela nada respondeu.
— Chegamos – sorriu quando o elevador chegou ao andar. – Primeiro as damas.
— Obrigada – curvou um canto do lábio.
Assim que ela saiu, Estêvão tomou a dianteira e abriu a porta do seu apartamento. A surpresa viria a seguir.
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Sintomas de Amor
RomanceMaria levava a vida no modo automático, e isso não parecia incomodá-la, e por que incomodaria, já que vivia, a seu modo, um conto de fadas? Porém seu "felizes para sempre" chega ao fim. Num minuto Maria tem a vida perfeita, e no outro vê seu casame...