Capítulo 22

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“Você pode tentar encontrar mil definições para amor no dicionário. Nada chegará perto do real sentimento que tenho por você.”

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A expressão que Maria trazia em sua face era de surpresa.

Com passos hesitantes, ela entrou, sendo seguida por Geleia. Não quis reparar o ambiente, mas seu desejo de não ser inconveniente não foi maior do que sua indiscrição.

— Ia dizer para não reparar a bagunça, mas acho que é inútil, não é? – Estêvão comentou rindo, mas um tanto sem graça.

— Desculpe ser tão indelicada, Estêvão – o fitou, comprimindo um riso. – Juro que não esperava que sua casa fosse... uma zona?

Ele acabou cedendo, e riu.

— Se serve de consolo, tentei organizar isso aqui – olhou em volta – para não achar que sou um bagunceiro, embora eu seja – deu de ombros, agora com o humor concernente a ele.

— Você, hein, sempre me surpreendendo – deu um soco de leve no braço dele.

— Nem minha casa debaixo do viaduto é tão bagunçada assim.

Geleia, que até então estava alheia aos dois, disse. De repente os dois pares de olhos se viraram para ela, surpresos, como se tivessem se esquecido de sua presença ali.

— Vocês dois são namorados? – ela tentou ignorar o peso dos olhares sobre ela.

— Não! – eles responderam juntos.

— Ah – disse sem graça. – É porque você olha para ela como se quisesse beijá-la imediatamente, e ela te olha como se fosse morrer agora mesmo se você não a beijar – deu de ombros.

Maria corou. Estêvão só teve uma reação dez segundos depois.

— Posso saber quem é essa? – indagou ele, encrespando o cenho.

— Uma amiga – Maria, com um sorriso enorme, foi até a menina e passou o braço por seus ombros. – Uma amiga que vamos ajudar – intensificou o sorriso.

Estêvão estudou as duas minuciosamente.

Maria manteve seu sorriso aceso, mas não era um sorriso espontâneo, ou não somente espontâneo. Era um sorriso de uma criança travessa, que estava prestes a aprontar, ou que acabara de fazer uma traquinagem.

Enquanto a Geleia, bom...

Ele ainda não tinha desvendado o olhar, ou pelo menos não todo ele. A menina não o encarava. Hora fitava a mão, hora o chão, mas nunca os olhos de Estêvão, talvez por medo ou desconfiança. Não sabia ainda qual a intenção de Maria, mas se ela estava ali pedindo sua ajuda, certamente tinha bons motivos.

— Nós vamos? – perguntou ele, cético, segundos depois. – Posso saber de onde vocês se conhecem? – sentou-se no sofá (sobre uma pilha de roupas) olhando-as fixamente.

Ela encarou Maria com um olhar assustado, implorando para que ela inventasse alguma história, só não dissesse a verdade.

— Bom...

Uma crise de tosse surgiu.

Maria levou uns bons segundos em sua falsa coceira na garganta. Quando voltou olhar Estêvão, ele mantinha a mesma expressão, ainda esperava uma explicação.

Droga, a enrolação não tinha dado certo.

— A conheci na saída do supermercado – disse ela, por fim.

— Hum... – ele as analisou; ambas permaneceram com o mesmo semblante: Maria querendo pular aquela parte dos acontecimentos, e Geleia a tensão em pessoa. – Então você encontra uma criança na rua e leva para casa, sem mais nem menos?

Sintomas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora