Karina's pov:"Está ouvindo isso? Claro que não. É o silêncio da minha arte. Porque você não está mais aqui."
Vir ao Jardim Memorial de Seul nunca fica mais fácil. Nunca parece insignificante nem sem sentido ter que pegar o carro e dirigir por alguns minutos até ali. Um lugar ao qual eu desejei nunca ter que comparecer, um lugar onde eu tranquei 4 anos de lembranças, incluindo todas as relacionadas com minha namorada.
Ela morreu há um ano, tempo suficiente para que eu não me sinta péssima toda vez que falo nela. Mas ainda é pouco tempo para eu aceitar que tenho que seguir em frente. Que tenho que aprender a lidar com o que aconteceu.
Sento-me no último banco. Odeio cerimônias de homenagem. Por mais que reconheça que esse é um gesto de amor e respeito, eu não canso de pensar que não estaria aqui hoje se as coisas fossem diferentes.
É engraçado como mesmo depois de tanto tempo sempre que alguém passa por mim, reage com hesitação, pensando que eu vou desmoronar a qualquer momento.
Seus pais se sentam na primeira fila — onde eu também deveria estar. Nós não nos falamos muito desde que Somi morreu. Eu nunca me dei muito bem com seu pai, mas sua mãe sempre gostou muito de mim. Não era segredo. A sra. Jeon gostava das coisas que eu gostava, como música e arte. Sempre que eu ia na casa deles passávamos horas conversando sobre meu estágio na galeria de arte da minha família.
Um sonho distante hoje em dia.
Eu sabia que nosso relacionamento ia mudar depois do que aconteceu, mas não os culpo. Eles ainda me respeitam o suficiente, mas com certeza não gostam mais tanto assim de mim. Por mim, tudo bem, porque continuo gostando deles.
Com um aperto no peito, suspiro. Um dos amigos da família Jeon fala de Somi como se a tivesse conhecido. Ele não a conheceu. Somi nunca foi muito ligada ao círculo social ao qual pertencia, por isso o fato de aquela pessoa estar ali agora parece um pouco forçado. E não sou eu quem vai ficar aqui dentro assistindo esse teatro. Para um lugar de acolhimento e paz, o ambiente propaga uma sensação de asfixia.
Levantando-me do banco, ando até o lado de fora, sentindo o frio do inverno resvalar contra minha pele. Está mais frio do que nos anos anteriores. Preciso puxar meu cachecol para me aquecer antes mesmo de eu chegar aos degraus.
Com as mãos nos bolsos do casaco, caminho pelo gramado bem cuidado até um pequeno lago que ainda não congelou. Fico ali parada diante das suas margens, olhando para minha imagem refletida nas águas cristalinas. Meus olhos estão cansados, e eu não consegui dormir nada nos últimos dias. Fiquei acordando durante a madrugada, sempre atormentada pelo remorso e pela culpa.
Eu estava no tribunal no dia que o assassino foi condenado. Fiquei lá sentada enquanto a mãe dele chorava, angustiada. Vi quando ele começou a lamentar e quando seu pai ficou sem reação ao ouvir a sentença: prisão perpétua, sem direito a condicional.
Ele vai passar a vida inteira atrás das grades pelo assassinato de Somi, e o mundo chamou aquilo de justiça.
Mas não há justiça quando um inocente morre pelas mãos de outra pessoa. Há apenas o vazio que cresce dentro de cada pessoa obrigada a se despedir antes do tempo.
Sim, aquele desgraçado vai passar a vida trancafiado, mas isso não me traz nenhuma paz de espírito. Nunca haverá paz, porque minha namorada ainda está morta, e tudo aconteceu em uma fração de segundos.
Fico de cabeça baixa enquanto estudo meu reflexo, tentando encontrar algo naquele olhar vazio pelo qual valha a pena lutar.
— Estou interrompendo? — Pergunta uma voz atrás de mim. A voz de Jungkook, irmão de Somi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Art and Soul - WinRina
FanfictionDepois de anos com a incerteza de quanto tempo ainda teria, Kim Minjeong recebe uma segunda chance da vida. Cursando o último ano do curso de Artes, ela muda-se para Seul com o objetivo de concluir sua faculdade e consequentemente trabalhar com uma...