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Winter's pov:

"A vida não é justa, e eu me sinto uma tola por pensar que devia ser."

É o coração da Somi.

Olho para o teto do meu quarto e outra onda de pesar me agita por dentro com intensidade. Sinto cada ponto da cicatriz arder no meu peito. Os pontos que seguram meu coração no lugar. Sinto-o batendo contra o osso do tórax. E fico deitada ali respirando, usando as técnicas que aprendi para controlar a dor e o pânico.

Quando cheguei em casa na noite anterior, subi direto para o quarto, peguei meu notebook e pesquisei o nome de Somi no Google.

O primeiro link foi o anúncio do funeral. Meus olhos começaram a ler a notícia, mas então se deteram na data. Na data da morte de Somi.

Foi o mesmo dia da minha cirurgia. Na minha cabeça, ouço, “Achamos um doador compatível. Uma jovem morreu de forma trágica em Seul, mas a família acatou o seu último desejo." Um calafrio percorre minha espinha, desce pelos braços, pelas pernas, e me deixa eletrizada, como se eu tivesse colocado o dedo numa tomada. A incisão no meu peito começa a formigar.

— Droga!

Coloco a mão no peito. Sinto a batida sob a palma da mão e uma lembrança me invande. Avanço até minha escrivaninha e vasculho alguns desenhos até encontrar aquele em que estava trabalhando há algumas semanas. Enfim esses traços fazem sentido para mim.

É como se durante todo esse tempo o órgão dentro do meu peito estivesse tentando me dizer através da arte a quem ele pertencia. Estivesse tentando me contar a sua história. 

Respiro fundo, volto até a cama e começo a fazer meu ritual da manhã: verifico minha temperatura e minha pressão.

A temperatura está normal. A pressão sanguinea está…? Olho para o aparelho. Está… Pisco, olho direito, forçando a vista como se isso bastasse para mudar o que vejo. Nada se altera. A pressão está alta. Eu me lembro dos acontecimentos do dia anterior e do estresse que isso está causando. Tenho certeza de que esse é o motivo da alteração.

Eu me sinto bem, não me sinto? O medo atravessa minha mente como uma faca afiada. Lembro-me de tudo pelo que passei nos últimos dois anos. 

Lembro-me de ouvir meus pais lamentando toda noite quando eu estava doente. Lembro-me da minha tia viajando para Busan sempre que possível. Com tanto medo…

Verifico meus sinais mentalmente. A respiração está normal.

Nenhuma dor.

Nenhuma sensação de letargia.

Coração acelerando? Só quando estou perto de Jimin ou quando estou em alguma situação estressante.

Lembro-me da noite anterior. Eu estava assustada, só isso.

Concluo que estou bem. Não sou médica, mas, depois de tudo pelo que passei, deveria ter pelo menos recebido um diploma de auxiliar de enfermagem.

Faço uma pausa e me sinto melhor ao lembrar que tenho uma consulta com a dra. Moon na sexta-feira.

Levanto-me para pegar meus comprimidos e tentar comer alguma coisa no café da manhã. Tenho certeza que minha tia já preparou tudo, como sempre. 

— Bom dia, querida — Ela sorri quando entro na cozinha.

Minha mente está tomada por pensamentos conflitantes, mas não quero que minha tia perceba isso. Por isso eu os afasto e abro um sorriso para ela. Quero abraçá-la, mas tenho receio de que ela perceba o quanto estou emotiva.

Art and Soul - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora