Capítulo IV

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A viela da Mortgramit Square, em Woolwich, fedia urina das mais variadas espécies e parecia estar quente mesmo sendo inverno, ou talvez o rapaz só estivesse suando de medo por ser seu primeiro trabalho. As mãos estavam dentro os bolsos do sobretudo, aquela garoa fria típica de Londres era barrada pelo chapéu e seu parceiro estava vestido da mesma forma. Sempre discretos, porque em um lugar como aquele era perfeitamente comum adultos andando como gangsters da velha Chicago dos anos 20. Na verdade, Joel acreditava que mais nada podia ser classificado como anormal naquele mundo, afinal cinco anos atrás estava roubando lojas de conveniências para quitar uma aposta ruim feita no pior cavalo possível e agora estava ao lado de um cara que apontava um graveto para alguém e fazia essa pessoa explodir.

Como se isso não fosse absurdo demais para seu cérebro, sua consciência fez questão de recordá-lo que estava andando em uma viela suja carregando uma maleta que continha apenas uma pedra ridícula e sua vida valia mais do que aquela pedra ridícula porque um estranho sem rosto disse isso. Sem rosto e com um nome ridículo, mas não se permitia pensar demais nesse detalhe porque aparentemente Voldemort estava em todos os lugares e lia mentes.

─── Ali está a chave de portal. ── Tiberius, o parceiro de Joel, disse apontando para um balde velho ao fim de um beco assim que pararam a caminhada bem no meio da rua de paralelepípedos.

Ele recebeu instruções muito rasas sobre as tais chaves de portal, ou ao menos parecia ser algo raso demais já que "você vai colocar seu pé dentro e transportar para a Romênia" parecia simples demais. Magia era estranho, mas não tinha muito o que fazer além de aceitar essa loucura. Não é como se pudesse olhar para Tiberius agora, rir da sua cara, jogar aquela maleta estúpida com aquela pedra estúpida no chão e ir embora, tinha uma dívida com Voldemort e aprendeu que ter uma dívida com ele era perigoso demais.

Não sabia quem era pior, ele ou o tal Potter. Farinhas do mesmo saco provavelmente. Joel cometeu apenas um erro: levou sua família para um passeio de domingo, sua filha queria ir à London Eye e ele aceitou o pedido da pequenina, mesmo sabendo que estaria fodidamente lotado de turistas. O resultado? Um bando de pessoas estranhas começou a brigar no meio da praça em frente à roda gigante e não usavam armas comuns, eram bruxos usando feitiços muito mais perigosos do que uma pistola. Foi caótico, os bruxos apareciam de fumaças escuras e desapareciam da mesma forma, outros simplesmente retorciam em espiral como se algo os sugasse de um ponto e os levasse a outro. Fachos de luz de variadas cores cortavam o ar e acertavam civis que tentavam fugir, sua família quase foi atingida por um feitiço de um dos homens de Potter e foi um homem mascarado – que depois veio a descobrir ser Voldemort – quem evitou a tragédia, mas isso não veio de graça. Agora Joel estava pagando sua dívida, assim esperava pelo menos, mas Tiberius disse que as vezes um único trabalho não era o bastante.

Nessa confusão toda até mesmo a própria roda gigante despencou que só não custou vidas porque mais bruxos surgiram e colocaram algum tipo de escudo que impediu de esmagar quem não foi capaz de correr a tempo.

Mesmo tendo sido um terror para quem esteve lá, esse dia ganhou até mesmo um capítulo inteiro nos livros de história daquele mesmo ano com o nome de "Grande Duelo de 2001", como se fosse algo bom para a sociedade, uma revolução social maravilhosa. Uma ova.

Acontece que desde 1998 já havia um burburinho sobre pessoas fazendo coisas extraordinárias, os tais bruxos, mas era tratado como teoria da conspiração, coisa de gente com mente muito fértil ou que andou abusando demais de substâncias ilícitas. Isso, Joel não sabia e muitos trouxas também, era graças a ninguém menos que Harry e sua iniciativa de integração forçada. Queria quebrar as leis de sigilo do mundo de forma irreversível e para isso iniciou com incentivos para que bruxos não escondessem seus filhos em casa, que os colocasse em escolas trouxas nos primeiros anos e que vez ou outra usassem sua magia em locais públicos, afinal ninguém conseguiria provar que um estranho fez uma xícara de chá virar um jornal ou que um cachorro de repente virou um adulto.

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