Capítulo XXII

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O ar não entrava em seus pulmões, não importava o quanto puxasse e muito menos a força, mas sabia não ser culpa do veneno, sentira aquilo tantas vezes quando a lucidez foi recobrada que compreendia desde o primeiro suspiro em falso que estava tendo uma crise de pânico. Harry cambaleou e escorou na borda da mesa, mas transmitia uma sensação de tranquilidade que o irritou. Como podia estar tranquilo o abandonando assim? O traindo de tal forma depois de prometer que estaria ali? Deixá-lo era tranquilizante?

As lágrimas que ardiam na linha d'água vieram por ver ali mais uma pessoa escapando de seus dedos, viu Regulus sorrindo para si como sorria quando ganhava um elogio pela sua genialidade, via o sangue que provavelmente foi tirado de seu corpo quando os inferi agarraram seu peito para arrastá-lo ao fundo do lago, a sombra de um sorriso por baixo daqueles olhos que refletiam exaustão, perguntou-se se Regulus também sorriu daquela forma quando percebeu que iria morrer.

─── Não, não, não, não! ── correu até Harry e pressionou a ferida, como se o único problema fosse o sangue. Não conseguia ser racional, racionalidade traria mais pânico ainda.

─── Essa merda dói mais do que eu lembrava. ── Harry resmungou levando a mão sobre a sua, mas não pressionou, apenas acariciou.

─── Você prometeu. Você... Você prometeu que não faria isso, que não faria o mesmo que ele!

─── Tom...

─── Você jurou...

─── Tom! ── sentiu a mão umedecida pelo sangue tocar seu rosto. ── Você está surtando e me fazendo surtar, respire. Lembra? Respire, calado.

Apoiou a testa para que pudesse respirar o ar quente que Harry expulsava, precisava sentir sua respiração, precisava lembrar segundo por segundo que estava vivo. Ele o beijou suavemente, mas a dor no local do ferimento impedia que parasse de tremer ou que as lágrimas parassem.

─── Dumbledore pegou seu sangue naquele dia, quando você estava acordando, depois deixou isso para mim. ── indicou com a cabeça para a caixa vazia, a presa de basilisco ensanguentada do lado e a profecia atrás, ocultada do campo de visão de Hermione.

"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar do sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar..."

Uma voz sussurrava vindo de dentro daquela pequena redoma de vidro. Nunca foi mentira de Dumbledore, sempre foi a porra de um jogo feito por Grindelwald.

─── Aquele velho desgraçado. ── sussurrou com a voz trêmula, levando os dedos ensanguentados até o vidro e o manchando.

─── Dumbledore deixou que eu o visse limpar você, nos mostrou a nova ancoragem e suspeito que ele seja âncora de Grindelwald, enquanto você é a âncora dele. Eu tomei a liberdade de mudar o final, porque... você sabe, não tínhamos muitas opções e eu cumpro minhas promessas, acredite se quiser.

─── Por que fez isso? Podíamos arranjar outra forma, eu já tinha um plano e-

─── Eu vi seu plano. Senti, na verdade. Péssimo, seus planos não são tudo isso, só para deixar claro. ── soltou um riso mole que foi seguido por um gemido de dor. Os rostos se uniram novamente, sentia tantas coisas que nem sabia descrever, medo, agonia, angústia, sendo que a única fagulha de calma não era um sentimento seu. ── Hey... vamos ficar bem, teremos todo tempo do mundo ainda, okay? Mas agora, você precisa terminar isso, porque eu tenho um tempo, aquela coisa de anticorpos por ter sido envenenado antes, cer... certo Mione?

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