Capítulo IX

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A luz do sol que invadia o quarto indicava ter passado do meio dia, um feitiço de aquecimento permitiu que Harry se livrasse do moletom em torno de duas horas depois do início da busca por alguma pista do que Regulus tinha descoberto e Tom já tinha as mangas da camisa erguidas até os cotovelos e botões superiores abertos. Quanto mais tempo passava, mais buscavam formas de ficarem confortáveis naquele minúsculo quarto que ficava cada vez menor conforme os livros eram colocados no chão. Nenhum dos dois parecia querer tomar contato demais com a realidade dentro daquele espaço, cada um por suas razões, mas chegara um ponto em que o silêncio tornava mais lenta a passagem de tempo e mais frustrante a falta de novidade.

─── Talvez tenham levado embora.

─── Não ── Riddle respondeu com um imediatismo passivo, parecia estar esperando esse tipo de afirmação. Seus olhos seguiam focados no caderno que folheava ── Pegue qualquer coisa desse quarto e tente passar pela porta ou aparatar para fora daqui. Se conseguir, darei a você todos os meus contatos, aliados e até minha casa.

Já tinha entendido haver algum mecanismo de proteção naquele quarto, mas Harry era orgulhoso demais para aceitar calado que Tom estava certo em algo. Levantou do chão carregando um pergaminho qualquer e caminhou até a porta, Riddle ergueu o olhar e observou o rapaz bater ser atirado contra a lareira apagada. Harry não se deu por vencido e tentou aparatar para qualquer lugar que fosse, mas acabou sendo transportado para a cama e levantando uma nuvem de poeira que o fez tossir copiosamente.

Tom caminhou até a borda da cama e inclinou a cabeça para observar o rosto, que sob sua perspectiva estava de ponta cabeça, de Potter. O sorriso condescendente do sonserino fez Harry bufar e murmurar um palavrão.

─── Dizem que a terceira vez dá sorte, quer tentar a rede de flu?

Potter lhe mostrou o dedo do meio e rolou para fora da cama, preferiu não arriscar a rede de flu mesmo sendo tentador para massagear seu ego ferido. Considerando as wards dali e o quanto Regulus gostava das artes das trevas, esperava que acabasse sendo queimado vivo ao atirar o pó nas cinzas.

─── Já esteve aqui antes?

─── Não tive a oportunidade, mas Regulus sempre foi muito criativo com feitiços e odiava que mexessem em suas coisas.

Brilhante, Harry lembrou do adjetivo usado por Tom mais cedo. Tinha de concordar com isso, provavelmente o quarto devia ter toneladas de maldições para invasores enxeridos se Regulus era mesmo tão apegado aos seus bens e quase todas deviam ter caído com a sua morte, o fato de ainda haver proteção ali só mostrava que o garoto era um gênio. Tinha o pressentimento que desfazer não seria tão simples, se fosse, Tom já teria desfeito, mas quis arriscar derrubar seja lá o que foi feito ali.

Brandindo a varinha, Harry expôs toda a magia que rodeava aquele quarto e o que viu foi tão surpreendente que arrancou as palavras de sua boca: linhas e mais linhas de runas, cálculos de aritmância e inscrições em grego antigo, todos alinhados para que formasse o desenho de um corvo devorando uma serpente nas quatro paredes do quarto. Regulus ainda teve o capricho de deixar essa mensagem.

─── Puta merda!

Sussurrou quase não conseguindo emitir som. Quando virou a cabeça para Tom, flagrou um sorriso de pura satisfação, ele parecia estar extremamente orgulhoso daquele desrespeito à sua própria pessoa, como se visse com saudosismo uma piada interna.

─── Esse era Regulus Black. ── murmurou segurando um riso. ── havia uma piada interna sobre ele ser a encarnação do deus Dólos.

Harry lembrava vagamente sobre essa divindade quando leu um livro da própria biblioteca dos Black, tinham raízes fortes com a cultura grega. Dólos era narrado como um deus ardiloso, trapaceiro, astuto, assemelhava muito com Loki tanto em habilidades quanto em personalidade.

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