Capítulo VII

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Quando uma figura encapuzada tentou cruzar o primeiro degrau, a lança do serafim desceu de uma só vez e bateu no corrimão. Os olhos de pedra ganharam vida e moveram na direção do bruxo que escondia o rosto, este, sempre grosseiro em seus hábitos, tentou passar pela lança e foi punido com o cabo de pedra erguendo de uma só vez e chocando em seu pomo.

─── Estou com pressa.

"Grindelwald não espera visitas."

A voz ecoada da estátua – que sequer movia os lábios – censurou em tom de ameaça. Rendido, o bruxo tirou o capuz e encarou com impaciência aqueles olhos opacos e incolores. Demorou alguns segundos para obter uma resposta, então a lança ergueu devagar para voltar a sua posição original e permitiu a passagem do rapaz.

─── Andorinha de pedra idiota. ── resmungou esfregando a região dolorida enquanto subia a escadaria.

Tudo estava quieto, mas o simples fato de ter sua entrada permitida já garantia que Grindelwald estava em casa. Não estava com paciência para sentar e esperar, já conhecia aquela casa bem – desconsiderando as passagens e cômodos secretos que apenas Harry teve mais tempo de mapear – e poderia ir até o velho por si só. Numa breve vasculha concluiu que ele estaria no terceiro andar, então subiu com a expectativa de encontrá-lo no escritório.

Abrindo a porta, deparou-se com mais um cômodo vazio e revirou os olhos, já estava fechando a porta novamente aos resmungos por não o encontrar quando sua atenção foi para o divã marcado por alguém que havia sentado ali pouco tempo antes, ao lado tinha um livro marcado em uma página e julgou ser interessante averiguar, então voltou para dentro do cômodo.

─── Grindelwald? ── chamou apenas para ter certeza de que estava sozinho. Não obtendo resposta, prosseguiu abrindo o livro. Não era nada muito relevante, apenas marcava uma narrativa do conto de Pátroclo e Aquiles, e por isso fechou bufando com frustração. Contudo, mais uma vez sua atenção voltou ao estofado do divã ao notar que tinham duas marcas, uma ao lado da outra.

Grindelwald não costumava receber visitas ali, não dentro do horário necessário para manter a marcação de quem havia sentado naquele divã. O rapaz colocou o livro exatamente onde encontrara e ergueu as almofadas que forravam o encosto a fim de encontrar alguma pista de quem era. Não podia ser Harry, concluiu imediatamente, pois este foi visto uma hora atrás por Mundungus solicitando uma viagem através de uma chave clandestina para a Estônia. Não havia nada debaixo das almofadas, todas foram colocadas no mesmo lugar.

Cruzou os braços e estalou a língua algumas vezes enquanto pensava, então agachou para olhar embaixo do móvel.

Bingo!

Abriu um largo sorriso ao encontrar uma foto caída de ponta cabeça. Ainda ajoelhado no chão, observou a imagem que se movia: Dumbledore, muito mais jovem, posando com uma postura desconfortável para quem quer que fosse o fotógrafo. Seus olhos não tinham brilho, seu sorriso era melancólico mesmo que fosse perceptível seu esforço para esconder a tristeza e o cansaço. Ao seu lado estavam alguns líderes políticos do mundo bruxo na época e em sua mão estava a varinha antes pertencente a Grindelwald. Era uma foto muito comum nos jornais e livros de história para retratar a vitória de Dumbledore no lendário duelo, mas havia um grande diferencial: essa era a original.

Talvez fosse útil, mas a bem da verdade é que apenas guardou a fotografia no bolso por tratá-la como um artefato colecionável.

Levantou do chão e direcionou à saída do escritório, preferia não subestimar a capacidade de levantar suspeitar em Grindelwald. Abrindo a porta, acabou dando de cara com o bruxo e deu um pulo leve para trás pelo susto.

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