Dangerous Game

Capítulo XIV

O choro e a crise não fizeram a dor desaparecer, provavelmente nunca desapareceria o peso de ver seu melhor amigo sendo consumido pelo fogo, injustamente sorrindo para o terrível fim que escolheu ter, pedindo que Harry vivesse para fazer tudo aquilo valer a pena, mas foi bem menos doloroso acordar após sonhar com Ron mais uma vez. Dessa vez sonhou com ambos mais velhos, quando treinavam juntos durante o verão as técnicas de duelo ensinadas por Grindelwald, o quanto se divertiam mesmo as vezes sendo obrigados a fazer tantos exercícios físicos que no fim do dia não conseguiam levantar do gramado para tomar um banho e jantar, sempre ficavam rindo enquanto resmungavam de dor.

Não quis perder muito tempo pensando na amarga ironia de estar novamente acordando desnorteado após ter contato direto com Tom, mesmo as circunstâncias sendo diferentes agora, ainda lembrava muito do terror noturno que sofria na adolescência por causa da legilimência dele. Estava, como aos quinze anos, suado e atordoado quando abriu os olhos. Sua cabeça estava explodindo por sequela da noite anterior e demorou a recordar que não estava em sua casa mais, estava no que parecia ser o quarto de Tom, apesar de não lembrar ter ido para a cama, tinha quase cem por cento de certeza de ter caído no sono no sofá. Parando para pensar sobre isso, mal lembrava como era o sofá ou a sala, o que fez e falou na noite anterior também era um grande borrão.

Focando melhor no ambiente, percebeu que as paredes eram escuras, um tom chumbado, havia um painel de madeira ao redor da porta, o teto ficava alto o bastante para fazer Harry em pé se sentir minúsculo. As janelas pareciam ser do tipo que iam do chão ao teto, mas estavam cobertas por uma cortina branca que não cortava por completo a luz, mesmo assim não trazia uma iluminação que incomodava seus olhos. O piso ao redor da cama era de madeira no mesmo tom do painel, mas o resto do quarto era revestido por um piso marmorizado cinza que permitia ver até o próprio reflexo se prestasse atenção. Toda a decoração tinha tons acinzentados, um toque luxuoso e clássico, ao mesmo tempo moderno, era um tanto confuso definir e estranhamento harmonizava. Mais estranho que isso era perceber que mesmo a paleta sendo tão cinza, o cômodo era aconchegante e claro. Tudo ali era uma antítese harmônica.

O quarto não era tão grande em diâmetro, poderia ser muito maior considerando ser uma propriedade de luxo. No canto paralelo ao pé da cama estava a porta do banheiro, Harry caminhou até o cômodo para lavar o rosto e encontrou mais uma brincadeira entre paredes escuras – sendo que a parede ao redor da pia era de um luxuoso mármore preto com linhas brancas -, um piso cinza e também não era tão grande assim. Não tinha banheira, apenas um generoso chuveiro. Em cima de um pufe branco estava uma muda de roupas e ao lado uma toalha pendurada, pronta para o uso. Harry sabia que não adiantaria de nada trancar a porta se Tom estivesse determinado a tirar sua paz, mas mesmo assim o fez e tomou um banho longo, permitiu que a água batesse em sua nuca numa temperatura fria para despertar não apenas do sono, mas também trazer lembranças à tona da noite anterior, organizar sua linha de raciocínio.

Estava na casa de Tom Riddle, ele era seu único provável aliado naquele momento, precisava permanecer "morto" e matar sua figura paterna. Tudo bem, poderia fazer isso. Grindelwald agora era a pessoa mais poderosa tanto em magia quanto política, mas poderia fazer isso. Dumbledore estava vivo, o bruxo mais poderoso vivo atualmente, e estava ao lado de Grindelwald.

─── Tudo bem ── suspirou contra a cascata gelada caindo em sua cabeça ── Eu posso fazer isso.

Harry saiu do banho, averiguou as roupas antes de vestir e novamente ficou surpreso com o que descobriu: Tom Riddle não tinha um estoque infinito e exclusivo de roupas sociais. Contudo, claramente havia um senso de humor na escolha das peças que fez Harry estalar a língua e resmungar, a blusa era do time de quadribol da sonserina, a calça era um moletom preto esportivo que não pertencia ao uniforme, mas combinava e tinha uma maldita serpente verde bordada na lateral da perna direita da barra ao cós.