Presa ao passado

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A brisa fresca da noite acariciava meu rosto enquanto eu me aconchegava um pouco mais sob o guarda-sol do terraço. O som das ondas quebrando na praia lá embaixo se misturava com a melodia suave que tocava nos meus fones de ouvido. Eu tentava me perder na leitura, mas minha mente teimava em se dispersar, voltando para os acontecimentos do dia.

Foi então que uma voz gentil interrompeu meus pensamentos.

— Ah, então era aqui que você tava se escondendo.

Levantei os olhos do livro e vi Yamaguchi parado ali, me olhando com um sorriso leve. Ele se aproximou devagar, enfiando as mãos nos bolsos da bermuda.

— Não sabia que você gostava tanto de ficar sozinha — ele continuou, se sentando na beira do terraço, ao meu lado.

Tirei um dos fones e dei de ombros.

— Não é bem isso… só queria um tempinho para mim.

Ele assentiu, como se entendesse perfeitamente.

— O dia foi bem agitado, né?

— Sim… — suspirei, olhando para o mar. — Mas foi bom.

Ele soltou uma risada leve.

— Eu quase morri afogado, então não sei se concordo com essa parte.

Soltei uma risada surpresa.

— O quê?!

— O Nishinoya e o Tanaka me jogaram no mar — ele fez um biquinho indignado. — Eu nem tava preparado! Fiquei bebendo água salgada por uns bons segundos antes de conseguir levantar.

— Meu Deus! — Ri ainda mais. — Você tá bem?

— Bom, estou vivo. Então acho que sim.

Ele sorriu, e eu balancei a cabeça, rindo.

— Ah, os dois são impossíveis…

— Sim… — Ele olhou para o céu por um instante, parecendo relaxado. — Mas, no fim, foi divertido.

Ficamos em silêncio por um momento, apenas ouvindo o barulho das ondas. Era um silêncio confortável, nada forçado. Então, Yamaguchi olhou para mim novamente.

— Mas e você? Por que realmente veio parar aqui?

Pisquei algumas vezes, surpresa com a pergunta direta.

— Eu já disse… só queria um tempo para respirar.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Aham, sei.

— Que foi?

— Nada, só acho que talvez tenha alguma outra coisa incomodando você — ele deu de ombros. — Mas se não quiser falar, tudo bem.

Olhei para ele, hesitante. Yamaguchi sempre foi observador, então não era surpresa ele ter notado que algo estava diferente.

— Eu só… — comecei, escolhendo as palavras. — Acho que me senti meio deslocada hoje.

Ele inclinou a cabeça.

— Como assim?

Suspirei.

— Foi um ótimo dia, mas às vezes… parece que eu não deveria estar aqui.

Ele me olhou por um momento, pensativo.

— Você já pensou que, talvez, esse seja um pensamento seu e não o que os outros realmente acham?

Mordi o lábio.

— Talvez.

— Eu acho que ninguém aqui se divertiria tanto sem você — ele sorriu. — Principalmente o Hinata.

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