Capítulo 2 - Primeira parte

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Sem revisão... 

Angélica

Eu me sentei à beira da piscina, a noite estava fria, quase serenava, mas o engraçado é que eu não sentia frio. Não estava mais preocupada com o George. Sabia que ninguém faria mal a ele, afinal ele era branco. Fazia parte de uma raça "pura", "limpa" da qual nós os "negros" não sabíamos o que era pertencer... Engraçado como as coisas mudam. Até o dia em que entrei na clinica as coisas eram inversas. Eu havia escolhido um homem negro e alto de olhos negros, para que meu filho fosse parecido comigo... E por ironia do destino ele nascera branco.

Eu mesma havia feito uma escolha, mas não pensando e sermos melhores...

Eu era uma profissional de um dos maiores clubes de futebol americano, cursando pós- graduação em uma das maiores universidades de New Jersey... E agora estava passando por um momento de preconceito onde os protagonistas principais eram meu filho e eu.

Em poucos minutos atrás eu teria gritado, xingado e brigado, mas diante de tamanha besteira eu fiquei sem atitude... Um pai aceitar o filho por ele não ter traços negros... Isso me lembrava de longe à sogra da Helen.

E eu que achava que não podia ter pessoa pior no mundo e agora em deparava com ela em minha própria vida.

--- Angélica, não quer entrar? Está frio e você pode ficar doente...

--- Na verdade David eu queria morrer nesse momento... De boa. Quando eu penso que a humanidade está desse jeito eu fico descrente de viver nesse mundo.

--- Só que sua auto piedade não vai ajudar a criar seu filho nesse momento eu preciso descansar e preciso de um tempo. Então volte para seu quarto, por favor...

--- Que ele cuide do George, não é isso que ele quer? – Eu não aguentei e comecei a chorar...

--- Eu sinto muito... – Ele se foi e eu fiquei ali não sei por quanto tempo.

A chuva veio e como eu não encontrava forças para me levantar. Permaneci ali como se a água pudesse limpar toda sujeira que eu sentia em mim... Mas a sujeira não estava em mim... Estava nas palavras que eu tinha ouvido da boca do David, mas que nem pertencia a ele mesmo. Vinha de um ser vil, pobre de espírito e sem coração que não se importava com ninguém a não ser ele mesmo...

Fiquei por tanto tempo debaixo da chuva que comecei a ouvir vozes em minha cabeça... Mas só me lembrava das palavras os rostos não conseguia definir...

--- É assim que ela o ama? Tentando se matar?

--- Deixa de ser idiota, ela estava chateada com você. E não tentando se matar... Só isso.

--- Estão se apaixonando por ela... Estão caindo nos encantos dela... Os dois. – A pessoa estava brava... Essa voz é ele... Tentei abrir os olhos, mas não conseguia. O frio estava muito grande.

--- Não seja cretino. Estamos fazendo de tudo para ajuda-lo e você não reconhece o esforço de ninguém. – Agora é o... Voltei a sumir na escuridão... A vagar e a sentir muito frio. Não consegui a ouvir mais nada.

--- Boa tarde! – Disse o Ben. Sentado em uma cadeira próximo a minha cama.

--- Olá. Quantas horas? Onde está o George?

--- Respondendo suas perguntas... São cinco da tarde. E o George está com o David e o Hansi na Biblioteca. Lembra-se do que aconteceu?

--- Me lembro de que estou sendo vítima de preconceito do pai do meu filho... – Não consigo segurar meu choro... --- Não consigo ser eu. Não consigo encontrar a Angélica brigona, brava nesse momento por nunca ter passado por isso de verdade. Ouvir que uma pessoa só aceita seu filho porque ele não tem traços negros é doloroso... Não tem noção do quanto é. E meu filho não terá noção disso agora... Mas quando ele for adulto e souber que o pai dele pensou isso ele também irá sofrer... Eu pessoalmente escolhi todas as características do meu filho, nem por isso deixei de amá-lo quando ele nasceu branco. Agora o que me faz sofrer mais é pensar que meu filho pode ter esse pensamento racista do pai... Imagina? Não gosto nem de pensar...

Angélica - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora