Capítulo 4 - 1C- Final

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Angélica

Na quarta-feira de manhã o George ainda estava dormindo quando me sentei à mesa só encontrei o Ben. Estava com um olhar pensativo...

--- Bom dia Angélica... O David acabou de sair disse que depois terminam o assunto de vocês...

--- Hum...

--- Ele está te contando sobre o dia do inferno? – Olhei meio que sem saber se era esse o nome...

--- Creio que sim... Ele contou sobre as vasectomias...

--- O Dr. Esthen era o cirurgião clinico que realizou os procedimentos... Durante todo momento ele chorava sobre a mira da arma dizendo que não iriamos sobreviver e que tinha família... Aquilo fica ecoando na mente da gente. E parece que ele estava adivinhando ele foi o primeiro... Assim que terminou o procedimento o Jan... O tal amante da minha mãe matou ele em nossa frente. Achamos que parava por ali... Mas o grande terror estava só começando... Ele achando que minha mãe poderia demorar começou a violentar a May... O aviso dele era que se algum de nós fechássemos os olhos ele mataria alguém... E de duas em duas horas ele violentava a May e quando o Hansi não aguentou e fechou os olhos ele matou a esposa do Hansi com dois tiros...

--- Para Ben... Pelos fragmentos eu já deduzi o resto e não preciso confirmar já estou com ânsia de vômito...

--- Ele fez isso à noite toda diante de nós e não podíamos fazer nada... Amarrados e minha mãe não chegava... A May estava sangrando e não tinha como ajuda-la o filho do Hansi começou a chorar de fome então em uma atitude das mais monstruosas já vistas ele simplesmente calou o menino matando o inocente. Ele só não fez mais barbaridades porque estava cansado... E quando minha mãe chegou ao outro dia, os planos dele era matar a todos nós, mas ele foi tão covarde e se rendia a tudo que ela queria que ao invés de nos matar suicidou-se diante dela. Agora... Imagina o psicológico de cada um ali presente... Dela mesma. Sabendo de tudo o que podia ter evitado. Esse foi o dia em que minha mãe cresceu, envelheceu e morreu. Embora ela tenha levado dois anos em cima de uma cama sendo cuidada por sua família... até que realmente fosse enterrada, eu acredito que ela tenha morrido ali. Os jornais noticiaram com o dia do "Grande massacre" embora alguns detalhes eles não tenham tido acesso.  Sabiam que havia sido mortos três pessoas e a suspeita da violência da May ainda que ninguém nunca tenha confirmado a imprensa a pedido dela mesma.

--- Agora que sei gostaria de não ter ouvido nenhuma palavra...

--- Bem-vinda a essa família complicada e cheia dos traumas e tristezas, lamentações e lamurias... Só não deixe que a dor dilacere seu coração ao ponto de não enxergar as alegrias da vida salpicada pelo caminho. Essas dores não são suas. Nem sua culpa.

--- Eu sei, mas...

--- Mas nada. Viva sua própria dor. Você já as tem o suficiente. E está dispensada do trabalho o resto da semana.

Pela primeira vez não reclamei de não trabalhar eu queria colocar em ordem meus pensamentos... Saber que o Hansi havia sido casado e perdeu a esposa e o filho assim... Vê-los morrer em sua frente deve ter sido morrer também um pouco... Eu teria morrido junto.

Eu estava julgando a May em todo esse tempo como uma menina sem objetivo, ela era uma psicóloga que não clinicava e agora eu entendia o por que... E minha mãe sempre pedia que eu não julgasse as pessoas pelo sorriso que elas me davam ou me ocultavam... E mais uma vez eu havia feito.

Levantei-me e fui até o quarto tomando um susto ao notar que o George não estava mais na cama...

--- George... – Procurei pelo quarto. --- Filho... – Eu só pensava no cachorro e naquela mulher que tem acesso à casa sem que ninguém saiba.

Angélica - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora