CAPÍTULO 17

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Ao despertar, Anne sente o mundo girar em um borrão. Ela esfrega os olhos vigorosamente, tentando dissipar a névoa que turva sua visão. Aos poucos, a sala sombria se materializa diante dela — um cubículo escasso de luz, com chão e paredes de pedra fria e implacável. Uma porta de grades, símbolo de sua prisão, destaca-se na penumbra.

—Você acordou! — A voz de Amirah, carregada de alívio e preocupação, corta o silêncio. Anne vira-se para encontrar a figura de Amirah ao pé do colchão rústico onde jaz. Ela se ergue, uma onda de confusão lavando sobre ela enquanto tenta se orientar na realidade de seu cativeiro.

—Onde estou? Por que estou aprisionada aqui?—Anne indaga, sua voz um sussurro trêmulo na escuridão da masmorra.

—O rei te encarcerou aqui, e bem sabes o motivo, jovem insolente!—A expressão de Amirah é um misto de raiva e preocupação.

—Eu temia que ele fosse me executar. Por que ele me poupou?—Anne busca respostas, seus olhos varrendo a cela em busca de compreensão.

—Ele te poupou porque não é um monarca cruel. Mas que loucura te levou a tentar a fuga, Anne?— Amirah se ergue, sua postura rígida prenunciando uma reprimenda severa. —Tiveste sorte de não teres a cabeça decepada, pois em outros reinos, seria o teu destino certo! Estive à beira do desespero, preocupada contigo, menina! Por que cometeste tal loucura?— A preocupação de Amirah transborda, tingindo suas palavras com o medo de quem teme pelo destino de um ente querido.

Anne inclina a cabeça em um gesto de resignação, enquanto seus olhos se enchem de lágrimas que denotam a profunda mágoa que a assola.

—Ele consumou o ato comigo! Privou-me de minha virtude e, em seguida, me relegou ao frio desprezo! Tornei-me meramente um instrumento de sua luxúria egoísta! Tal não era minha aspiração para a vida!—Anne desabafa, sua voz impregnada de revolta e desilusão. Amirah, com um semblante compadecido, se aproxima dela e toma suas mãos com tristeza

—Compreendo seu sofrimento, querida... Mas Anne, ele é seu soberano, e você é a amante. Se ele a adquiriu, possui direitos sobre você, e sempre que desejar, vai compartilhar sua cama. Lamento profundamente, mas não há nada que possamos fazer. Com o tempo, você perceberá que ele não é tão mal quanto parece.

—Ele é maligno, Amirah! Um demônio sem coração!

—Isso não é verdade. Se fosse, ele teria te eliminado no momento em que você adentrou a sala do trono. Ele foi extremamente misericordioso contigo. Conheço o rei desde a infância, Anne, sei do que ele é capaz.— Amirah tenta sorrir, mas a expressão se desvanece rapidamente. Anne não se sente confiante em suas palavras.

—Seria melhor se ele tivesse me executado. Não quero ser a amante dele. Não nasci para isso. Quero recuperar minha vida.— Anne reclama, sua voz carregada de angústia e desespero.

Sobre qual vida Anne se refere? Seria a vida disciplinada onde era imposta a seguir a fé de seu pai? Onde lhe era negado ter amigos, sair de casa ou mesmo visitar uma praça desacompanhada? Ela se sentia cativa em sua própria casa, e agora, sente-se da mesma forma aqui.

—Não fale assim, Anne. É preciso aceitar que esta é a sua realidade agora. E procure não provocar o rei; você conhece bem o poder dele. Seja o melhor para ele, e eu lhe asseguro que o respeito dele você ganhará.— Amirah aconselha, com um sorriso genuíno ao concluir.

—Não consigo me conformar com isso, Amirah. Eu não posso simplesmente viver desse jeito, isso não pode ser considerado uma vida!

Amirah se distancia, apanha os lanches e a água que trouxera para Anne.

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