CAPÍTULO 52

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Com um gesto suave e silencioso, o rei Damien fechou a porta do quarto, selando o espaço onde apenas ele e Anne existiam. O ar carregava uma tensão palpável, mas ele não pronunciou uma única palavra, movendo-se com uma gravidade que parecia pesar sobre seus ombros. Anne observava, quase hipnotizada, enquanto ele selecionava uma garrafa da sua coleção — um cristal reluzente que capturava a luz tênue do quarto. O líquido âmbar deslizava para dentro de um copo de drink, cujos detalhes intricados brilhavam contra o contraste do sofá preto de veludo no centro do quarto.

— Por que Hemera estava na casa da Freya? Elas se conhecem? — Anne perguntou, sua desconfiança tingindo cada palavra, enquanto observava Damien aproximar-se com o copo em mãos.

Ele se acomodou ao lado dela, o peso de suas preocupações compartilhado naquele simples ato de proximidade.

— Não, elas não se conhecem... — começou Damien, a seriedade emoldurando seu rosto enquanto ele ponderava as implicações daquela visita inesperada. — A ida de Hemera à casa de Freya não me pareceu inocente. Se ela tivesse intenções puramente sociais, como alegou, estaria acompanhada pelos guardas de seu pai. — Ele pausou, olhando diretamente nos olhos de Anne, buscando ali alguma pista que pudesse ter escapado. — Ela mencionou algo quando retornou ao Palácio?

— Hemera chegou como uma tempestade, com o semblante carregado de ódio.— Anne revelou, sua voz um sussurro de sinceridade. — Seus olhos lançaram faíscas de rancor em minha direção e na da rainha, e ela murmurou algo sobre suas preces serem sempre ignoradas. — A confissão de Anne pairou no ar, carregada de perplexidade.

Damien, após um gole contemplativo de sua bebida, pousou o copo com delicadeza na mesa de centro, o som suave do cristal contra a madeira ecoando no silêncio que se seguiu.

— Deixaremos que o rei Phillip desvende esse enigma — disse ele, aproximando-se de Anne com a graça de um predador consciente de seu poder. Seus dedos traçaram o contorno do rosto dela, um toque tão leve quanto a brisa da primavera. — O restante do dia é seu, e somente seu.— murmurou Damien, cada palavra um carinho, enquanto seus olhos se perdiam nos dela.

Um sorriso floresceu nos lábios de Anne, um gesto involuntário que ela tentou esconder, baixando a cabeça em um gesto de modéstia fingida. A mão de Damien continuou sua dança suave, desenhando caminhos invisíveis sobre a pele dela.

— E o que sugere que façamos com este tempo que o destino nos presenteou? — indagou Anne, sem erguer o olhar, brincando com a tensão entre eles. Ela conhecia as intenções veladas nas palavras do rei, mas desejava ouvi-las pronunciadas por ele, uma confirmação audível de seus desejos tácitos.

Com um gesto terno, Damien afastou uma mecha rebelde do cabelo de Anne, colocando-a delicadamente atrás de sua orelha. Seus olhos brilhavam com uma sinceridade quase infantil enquanto ele propunha um escape da rotina da realeza.

— Olha... Podemos nos aventurar ao ar livre, talvez um passeio contemplativo por um parque, ou um piquenique íntimo no campo, só nós dois — disse ele, sua voz tranquila traçando as possibilidades. — Ou quem sabe uma escapada até uma cachoeira escondida para nadar como viemos ao mundo, em comunhão com a natureza. A escolha é sua. — Ele terminou a sugestão com um olhar tão aberto e honesto que Anne não pôde conter uma risada mais sonora.

— Você não está falando sério, está? — Ela perguntou, sua indignação tingida com diversão, desafiando-o a confirmar suas palavras audaciosas.

Damien respondeu com uma gargalhada que ecoou pelo quarto, um som rico e despreocupado. Ele recuperou seu copo, ainda sorrindo, e fez uma careta teatral de reprovação.

— Não, de fato não — admitiu ele, a diversão dançando em seus olhos. — Mas a expressão no seu rosto valeu a brincadeira.

Anne ficou dividida entre a vontade de rir pela ousadia dele e uma ponta de decepção pela sugestão não ser verdadeira. No entanto, a sinceridade e o calor da risada dele eram contagiantes, e ela se viu sorrindo junto, apreciando a leveza do momento.

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