Prólogo

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              Minhas pernas estavam cansadas. Carregava comigo um peso. Não sei como as coisas aconteceram. Meu corpo bateu contra o carro e eu vi o chão todo vermelho. Mesmo com a vista embaçada, eu ainda conseguia ver as pontas dos meus dedos manchadas de vermelho. Tudo havia acontecido tão rápido que eu não conseguia entender. Um minuto aquele homem estava atrás de mim, no outro, o carro me atingiu.

                               - Respire fundo, Anna. – aquela voz que eu amava tanto estava ali. Ele estava ali. Queria dizer para que ele tomasse cuidado, aquele homem estava aqui, estava correndo atrás de mim. Mas, por mais que eu mexesse os lábios nada saía. Eu precisava dizer tantas coisas. Por que as coisas tinham que ser dessa forma?

                               - Tudo vai ficar bem. A ambulância está a caminho. – Não sabia como o dono da voz que eu amava estava aqui. De onde ele surgiu? Eu não o vi! Mas, ainda bem que ele estava aqui. 

                Eu segurei suas camisa preta com toda força que consegui. Ele estava aqui. Ele veio... Um gosto amargo dominava a minha boca. - S-salve o b-bebê  - murmurei. Foi tudo o que consegui ter forças para falar. Queria realmente falar sobre aquele homem, para ele ter cuidado, mas minha vista estava embaçando e uma dor me atingiu.

                               - S-salve o meu b-be-bê. - estava cada vez mais difícil falar.  Mas, eu implorava, mesmo num tom rouco e falho, eu implorava e ordenava ao mesmo tempo. Tudo o que desejava é que ele me obedecesse.

                 Tentei encará-lo, mas seu rosto se tornou um borrão salmão com pontos negros. O negro do borrão foi se espalhando por toda a minha vista.

                 - Anna, por favor, aguenta firme! Anna... Anna... Anna... não durma, Anna, por favor, Anna, fique comigo, Anna, fique comigo, não durma, eu...

                 A voz dele foi ficando cada vez mais distante. A minha vista foi ficando cada vez mais turva e a dor aumentou de um jeito tão estrondoso que não consigui achar as palavras certas para descrevê-la. Em menos de um segundo, eu senti que o meu mundo inteiro mudou e tudo ficou negro como carvão. A minha mente se desligou e com ela, os meus pensamentos partiram. Não era para ser assim...

O número da sorte e a busca do pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora