O número da sorte e a busca do pai perfeito

Capítulo Treze: A Dupla

Achei que estava vendo dobrado. Mas, não era o caso. Padre Miguel tinhaum irmão gêmeo igualzinho a ele em aparência. Os dois tinham o mesmo tom no cabelo, os mesmos olhos castanhos claros e a mesma covinha no sorriso. Era muito impressionante. Confesso que até o momento da minha vida eu nunca tinha encontrado pessoas gêmeas adultas. Não sei se depois que crescem cada um toma um rumo na vida e você acaba não os encontrando. Eu cheguei a estudar com dois garotos gêmeos, mas depois do fim do ensino médio eu nunca mais os vi. Na verdade, eu até conheci um cara que tinha um irmão gêmeo, mas eu nunca os vi no mesmo lugar. Então, era como se ele não tivesse um gêmeo. A gente só cai a ficha dessas coisas quando vê os dois juntos. E ver o padre com o seu irmão era uma experiência no mínimo peculiar. Ainda mais peculiar era encontrar o padre sem querer mais de uma vez.

Acabamos entrando num café para conversar, quem me convidou foi o próprio Miguel com apoio de Rafael, era o nome do irmão dele.

- Então, a família de vocês é bem religiosa, né? Colocou o nome de vocês de arcanjos. - comentei tentando puxar papo. Os dois estavam sentados à minha frente com duas xícaras de café preto e eu estava com um capuccino e um croissant. Ser grávida não era fácil, mesmo quando sua barriga ainda não aparece, você sente fome. Bem, ao menos, eu sentia muita fome. Estava entrando numa onda de comer por dois, literalmente.

- Engraçado saber que é um arcanjo, todo mundo diz anjo. - Miguel comentou.

- Sim, nossa mãe é muito religiosa. Tanto que meu irmão seguiu o caminho do Senhor! - Rafael disse de um jeito descontraído apontando o dedo indicador da mão direita para cima. Eu dei um sorriso debochado em reação.

- Como vocês se conheceram? Tão difícil Miguel ter amizade de uma mulher que não seja uma papa-hóstia. - Rafael disse rindo e tomando um gole do café.

Miguel revirou os olhos e cruzou os braços a frente do peito. - Por favor, Rafael, mais respeito com as mulheres da paróquia. Ele estava usando uma camiseta preta com uma clérgima, aquele negócio branco que fica como um quadradinho nas roupas clericais.

Rafael o encarou. - Desculpe. - Pareceu sincero.

Era como ver dois padres com personalidades diferentes e rostos iguais. Confesso que era meio maluca essa situação, eu, o padre e o irmão do padre tomando um cafezinho no centro da cidade. Mas, a conversa estava interessante.

- O que há com as mulheres da paróquia? - questionei com curiosidade.

Rafael virou a mão e começou a contar. - Um, elas amam meu irmão mais do que tudo. Claro que ele é um ótimo padre e bondoso, mas não é sempre que o Padre tem um tanquinho e gostar de praticar esportes desde criança.

- Você tem um tanquinho? - perguntei com curiosidade dando risada. Mas, me arrependi. Miguel ficou vermelho feito um pimentão e não me respondeu.

- Dois, - Rafael continuou ignorando minha pergunta. - elas seguem meu irmão para cima e para baixo, quase como um sombra dele, esse homem não está em paz nunca.

- Por que elas seguem você?

Outra pergunta minha que foi ignorada com sucesso.

- Três, pelo menos uma vez por mês ele recebe uma declaração de amor. Mas, o único que esse homem ama é o Senhor. - E abraçou o irmão. - Não é? - ele fez cafune no irmão que começou a tentar se desvencilhar. - Ah, ele também ama a família dele. Mas, às vezes, esquece que ela existe. - e fez bagunçou o cabelo do irmão.

- PeloamordeDeusRafaelmesolte. - Miguel disse entre os dentes.

Soltei uma gargalhada com a situação e os dois pararam porque minha risada foi ainda mais escandalosa do que o que os dois estavam fazendo e chamou muita atenção.