Eu havia acabado de sair da clínica. Tinha feito tanto exame que estava zonza. Lucas estava dirigindo o meu carro e havíamos combinado de ir tomar um sorvete, porque por algum motivo eu sentia que se não tomasse um sorvete de manga, o meu bebê nasceria com uma cara longa e tortinha igual uma manga Espada. Com uma vida sexual tão maluca somada a irresponsabilidade, eu estava rezando para não ter nenhuma doença sexualmente transmissível.
Puxei o caderninho da bolsa, eu comecei a recapitular todos os caras:
Haviam 5 que eram desconhecidos. Sendo 2 que tinham ligação com a Mel e outros dois com a Pamela (que eu tentei ligar e mandar mensagem, mas me ignorava completamente) e o cara do bar, que eu havia deixado de ir conferir. Sinceramente, depois de tudo, eu não queria que meu filho fosse filho desses 5. Como eu poderia contar ao meu filho que nem sabia o nome do pai dele? Incrível como as coisas podem tomar outra perspectiva quando você está em outro momento da vida. Sinceramente sem um filho, era maravilhoso não saber o nome deles. Não ter um vínculo.
O sexto era Thiago, que desde o nosso encontro só havia mandando uma mensagem dizendo que ele só assumiria a responsabilidade depois de comprovado a paternidade e que caso eu ficasse o ameaçando ele tomaria as devidas decisões legais. Senti uma verdadeira raiva dele.
O sétimo era Lucas, o mais decente, que era estéril comprovadamente (ele havia até me mostrado o exame depois) e parecia ser o que mais se importava com tudo. Afinal, era quem estava dirigindo o meu carro nesse exato momento. Ah, tinha Victor, meu vizinho padeiro, que era incrível também.
Eu havia desmarcado todos os encontros, enquanto eu me dedicava a só cuidar da minha saúde e do bebê. Por isso, não havia encontrado o oitavo, Leonardo, que também era amigo de Pamela.
Luiz Carlos, o nono, nem havia me retornado mais depois de nosso encontro. Também havia me pedido para encontrá-lo no tribunal. Eu me senti a verdadeira idiota. O problema não é transar com mil caras. Isso nunca será um problema. A mulher tem total e plena liberdade de escolher o que fazer, com quem fazer e quando fazer. As mulheres têm liberdade sexual para determinar com quem querem perder o tempo. Não existe mais isso de casar virgem. Casa virgem, quem anseia isso e fim. Mas, tudo nessa vida tem consequência e escolher uma vida sexualmente ativa, significa lembrar que o seu corpo merece cuidados, como, por exemplo, ir numa ginecologista, usar métodos anticoncepcionais, tomar cuidado para não ficar sem memória depois de transar e ter dúvidas se usou ou não anticoncepcional, entre outras coisas necessárias que envolviam ser responsáveis por suas escolhas.
Ainda não havia me encontrado com Nicolas, Rafael, Denis ou Bernardo. Eu havia desmarcado todos os encontros. Antônio havia me mandado mensagem desesperadas dizendo para eu não falar nada até ter certeza da paternidade. Victor era tão bom quanto Lucas. Ele vinha em casa e me trazia pães, havia até me convidado a conhecer a sua nova namorada, mas eu havia rejeitado. Afinal, se ele fosse o pai, eu sentia que estava pela primeira vez estragando a vida de alguém.
E o décimo sexto... Eu...
- Como está o progresso? – Lucas perguntou sorrindo e interrompendo os meus pensamentos.
Eu dei um sorriso meio amarelo. – Não muito bom. Sabe, eu não sei bem o que fazer. Eu acho que fui muito inconsequente com tudo isso.
- Não se preocupe com isso. Você tinha a sua liberdade.
- E se eu tiver alguma doença? Ou se isso tiver alguma doença? – apontei para a barriga, ainda sem nenhum sinal de que havia algo dentro de mim.
Ele pensou um pouco. – Bem, não é o fim do mundo. Porém, é sempre bom pensar nas consequências dos nossos atos. Isso evita muita dor de cabeça.
Era engraçado ouvir isso agora e tudo fazer sentido. Quando Melina me avisava, eu simplesmente ria da cara dela.
- Existem momentos que não adianta ninguém nos aconselhar, a gente não pensa e faz o que quer, nada nos faz parar. Mas, um dia o futuro chega e temos que lidar com o que chegou das consequências dos nossos atos passados. – Lucas disse com um jeito de sabichão e depois começou a rir. Eu o acompanhei. Nesse momento, meu celular vibrou três vezes.
Leonardo: "Gatinha, vamos nos encontrar?"
Eu não tinha plena certeza sobre encontrar as pessoas que marcaram a semana mais maluca da minha vida. Mas, respondi: Sim. Mas, tem que ser semana que vem.
A outra mensagem era de um número desconhecido.
"Tic tac, é questão de tempo."
Havia uma medida protetiva que dizia que ele precisava ficar a vários metros de distância de mim. Mas, eu mesma havia quebrado isso. Eu havia concordado quando há poucos meses atrás, ele me mandou uma mensagem querendo conversar. Dizendo que havia aprendido a sua lição, dizendo que ia se redimir... Deve ser um tipo de doença, provavelmente. Uma doença que você não consegue fugir. Talvez, eu devesse ir numa reunião do MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas). Eu realmente não sei. Não sei...
Pamela: "Melina me disse que eu devia dar mais uma chance para você"
A mensagem de Pamela era só isso.
Eu respondi na hora: "Vamos no ver? Tenho muito para contar"
Pamela: "Sim. Eu vou ver meus horários e te retorno"
- Chegamos. – Lucas anunciou parando na frente de uma sorveteria de rua. Uma raridade na cidade de São Paulo. Uma sorveteria por quilo no bairro do Ipiranga. O local lembrava um pouco sorveteira de beira de praia.
Entramos e já fomos pegando as casquinhas para nos servir. Olhamos com curiosidade os sabores de sorvete antes de escolher. Era algo tão simples e comum... Mas, parecia que eu tinha fugido da realidade. Lucas escolheu sabores exóticos como Nata, Gengibre e Jaboticaba. Eu preferi Chocolate trufado, Morango e Limão.
Comendo sorvete numa tarde qualquer com um cara parecia algo tão fora da minha realidade.
- Está gostoso? – Lucas perguntou e roubou um pedaço do meu sorvete.
- Uhum. Bastante. Muito obrigada por tudo. – Agradeci. Não só pelo sorvete. Mas, por tudo. Era ele quem estava me acompanhando para cima e para baixo com os exames, as consultas e tudo mais. Queria sentir algo além da amizade por ele, porque talvez desse modo, eu não precisasse descobrir quem era o pai.
- Você quer ser o pai do meu filho? – perguntei sem pensar.
Lucas deu um sorriso e passou a mão pelo moicano branco. Encarou-me com seus olhos lilás. – Quem me dera, mas, eu acho que você quer saber quem é o verdadeiro pai. – ele me olhou profundamente. – Ou melhor, talvez você queira eliminar ao menos alguém para que não seja o pai.
Ele não podia estar tão certo. Eu queria achar o pai entre os quinze da lista, só para provar para mim mesma que meu erro não seria definitivo.
Mas, algo me dizia que talvez eu não tivesse tanta sorte assim.
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Obrigada pela leitura!
Primeiro livro da Herdeira:
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Outros livros:
Em busca da felicidade: https://www.wattpad.com/story/32695243-em-busca-da-felicidade
Uma garota que ama festa, sexo e drogas se descobre grávida. Primeiro, ela pensa em abortar, mas acaba conhecendo um padre que começa a colocar mais juízo em sua cabeça. Por isso, ela, o padre e sua amiga transsexual, Melina, se juntam para que eles possam descobrir o mistério da gravidez e encontrar o verdadeiro pai da criança numa lista de quinze caras possíveis.
A mulher que mudou a minha vida: encurtador.com.br/lxLSU
Um homem atropela uma mulher.
Uma mulher sem memória e sem ter para onde ir.
Esse homem acolhe a mulher porque se sente culpado.
E a vida dele se transforma para sempre.Poemas e outras coisas: http://dani-i.blogspot.com/
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O número da sorte e a busca do pai perfeito
ChickLitUma garota maluca com nome de boneca de filme de terror, uma gravidez indesejada, uma tentativa de aborto malsucedida, uma decisão: ser mãe! 15 possíveis pais para o bebê e 15 encontros não tão legais em busca pelo pai (de preferência que seja o per...