Não sei dizer o que aconteceu após bater o carro. O homem do outro carro, ironicamente, era um conhecido meu. Era o Denis, um dos prováveis pais do meu filho, ele era um conhecido que eu saia de vez em quando. Normalmente, quando estávamos sem mais nada para fazer. O padre conversou com ele, não faço ideia do que eles falaram, eu estava paralisada. Padre Miguel também me ajudou a mudar para o lado do passageiro e me levou até sua igreja. Agora, estávamos numa cozinha que eu nem sabia que existia dentro da Igreja. Ele havia misturado água com açúcar e dado para eu tomar.
- Eu... – tentei falar. – Eu... Eu... – segurei com mais força o copo com água.
- Não precisa se explicar. – ele se sentou à minha frente. – Está melhor? – perguntou com calma.
Mas, eu não estava melhor.
- Você quer que eu chame sua amiga Melina?
Eu esbugalhei meus olhos e prendi o ar. Ele percebeu claramente que ela não sabia nada do que estava acontecendo. O meu medo não era ouvir aquela voz. Sinceramente, eu já estava acostumada. Não que fosse bacana dizer que está acostumada com alguém te xingando pelo telefone. Se eu estivesse ouvindo sozinha, eu ia rir e nem ia me dar ao luxo de ficar chocada. Ele não merecia a minha atenção. Eu já nem ligava mais. Mas, foi a primeira vez que alguém realmente ouviu ele falando assim comigo. Ainda mais alguém que não tinha nada a ver com a situação. Foi... terrível! Porque pela primeira vez eu senti muita vergonha disso. Claro que senti vergonha com o sextape e quis morrer naquela época, mas eu não me sentia envergonhada por ninguém. Na verdade, a vergonha era minha. Como eu me sentia. Mas, desta vez, era vergonha de ter alguém por perto e ver esse lado ruim. Essa situação em que eu não conseguia fugir. Os anos passavam e eu continuava escrava disso tudo. Como pode existir pessoas capazes de nos aprisionar sem usar nenhum tipo de amarra? Sem usar nenhum artificio, além de sua própria existência.
- Quer mais água? – o Padre perguntou olhando o copo vazio. Eu nem me lembrava de ter tomado todo o conteúdo.
- Não, obrigada. – eu tentei sorrir, mas dei um sorrisinho bem torto.
- Está melhor?
Eu assenti positivamente. – Sim, sim, sim... – eu encarei o Padre e vi os olhos dele cheio de dúvidas. – Eu não quero me explicar. – falei sem rodeios.
Ele deu um sorriso reconfortante. – Não se preocupe. Não estou pedindo para se explicar.
A resposta direta fez eu me sentir pior ainda do que já estava me sentindo.
- Desculpe, eu não quero parecer intrometido. – ele começou. Já estava esperando um verdadeiro discurso. Mas, não veio. – Eu lembrei que tenho uma amiga que trabalha com terapia.
- O quê? – eu não estava entendendo o que ele queria dizer com isso. Terapia? Quem ele achava que era para sugerir que eu deveria me consultar com uma terapeuta? Que grande besteira!
Ele se levantou e sumiu pela porta. Simples assim. Havia passado quase cinco minutos quando ele voltou. Eu estava ainda meio confusa, nem mesmo mexi um músculo. Continuei sentada à mesa. Uma parte de mim nem queria acreditar que tudo isso estava acontecendo. A ligação, a perseguição, a gravidez, a confusão que estava a minha vida... Eu sabia que eu não estava, novamente, no meu melhor momento da vida. Eu sabia que as coisas não estavam se encaixando e que havia muitas coisas que eu não queria enxergar. Mas, eu...
Nem terminei o que pensava. O Padre voltou balançando um papel na mão. – Aqui, achei o cartãozinho dela! Achei que havia perdido. – ele caminhou em passos largos até o lado da mesa que eu estava sentada e me estendeu o cartão. Confesso que peguei apenas porque ele era Padre e era um cara legal. Senão, eu teria gritado com ele!
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O número da sorte e a busca do pai perfeito
ChickLitUma garota maluca com nome de boneca de filme de terror, uma gravidez indesejada, uma tentativa de aborto malsucedida, uma decisão: ser mãe! 15 possíveis pais para o bebê e 15 encontros não tão legais em busca pelo pai (de preferência que seja o per...