Capítulo Três: A confissão

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 Em busca da Felicidade - foi o nome da primeiro rádio-novela transmitida no país. Foi ao ar em doze de julho de 1941. Através da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.


Em 6 de setembro de 1965 foi ao ar na extinta TV Excelsior a adaptação televisiva da história.


A história era patrocinada pela marca Colgate.


A obra era mexicana, escrita por Leandro Blanco e adaptada por Gilberto Martins. Só em 1947 seria transmitida Fatalidade, a primeira rádio-novela genuinamente brasileira.


Eu não usei nenhuma inspiração da trama, que falava sobre uma família classe média que tinha uma filha de criação que era filha do marido com a empregada. A história era carregada de tragédias que impediam a felicidade dos protagonistas, que continuavam a buscar pela felicidade - o que explicava o título.


A rádio-novela ficou no ar por dois anos! E foi substituída pela obra cubana intitulada O direito de nascer

***

          

 Não sei o que me deu. Quando vi eu estava dentro do carro e dirigindo para perto daquele lugar que fugi. Porém, dessa vez não era o endereço da clínica que estava no meu GPS. Era o da Igreja do padre Miguel. Desde minha conversa desastrosa e até mesmo vergonhosa com Antônio, eu não conseguia parar de pensar que talvez devesse me confessar. Afinal, eu tinha uma lista de quinze homens que podiam ser o pai do meu bebê (talvez até poderia ser mais do que 15... Não! Não, não... E NÃO, tudo menos isso). Sem falar no abuso de álcool e drogas. O que eu deveria realmente parar agora. Nesse ponto eu devia agradecer Melina. Era ela quem me controlava. Sem pensar em outras coisas que já fiz (ser a amante, por exemplo). Acho que com isso feri algum mandamento.  Tenho certeza. Aquele que fala de cobiçar à mulher do próximo. Acho que serve para homens também.       


                Nem sei de fato quais são os dez mandamentos. Só sei que a luxúria e a gula são dois pecados capitais e que fiz catequese e crisma porque minha mãe é mais religiosa do que meu pai. Fui obrigada.  Não que eu não creia em Deus, eu só não acho que eu devia gastar meu tempo indo à Igreja. Mas, agora que eu estava carregando uma miniatura de mim mesma no ventre (e de alguém que eu ainda ia saber quem era), talvez fosse a hora de colocar as coisas nos eixos. Melhorar como pessoa ou qualquer coisa parecida com isso.

                Quando estacionei numa rua próxima a Igreja, praticamente corri até chegar nela apenas para me deparar com uma Igreja vazia. As imagens daqueles santos e de Jesus estampando as paredes daquele lugar pareciam me olhar com desaprovação. Era como se eles pudessem me julgar e dizer: você é pecadora. Não que eu me sentisse assim. O que eu acho que podia ser ruim. Não havia um lance de você ter que se sentir culpado e querer o perdão ou qualquer coisa mais ou menos assim? Sinceramente eu não sabia. Caminhei um pouco pelo corredor lateral tentando não olhar muito para os quadros que representavam os últimos dias de Cristo ou para as imagens de santos espalhadas por ali. Sentei no banco de madeira e fiquei esperando. Talvez, o padre saísse dali em algum minuto. Nada. Havia uma portinha mais à frente escrito Confessionário. Talvez, eu devesse bater ali. Fazer TocToc e esperar que o padre viesse atender. Ou eu devesse ir embora.  Ali não era definitivamente o meu lugar.

                Mas, permaneci. Fiquei ali sentada por alguns minutos, sem me mexer. Talvez, o padre aparecesse em algum momento. Ficava olhando para todos os lados na esperança de aparecer o padre. Porém, só vi umas senhoras entrando, um mendigo parando como eu olhando para os santos e mais figuras estranhas rezando espalhadas pela Igreja. Eu não estava bem da cabeça, só pode ser. Levantei e me virei. Era melhor ir embora. Eu tinha que ir embora, ali não era mesmo o meu lugar não adiantava insistir.

O número da sorte e a busca do pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora