NOVE

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Era óbvio que ela não tinha escutado Lauren entrar. Estava em pé, em cima de uma cadeira, tentando pregar um prego com o fino salto de seu sapato. A visão dos ombros nus dela, de seu cabelo solto pelas costas, sobre o vestido de verão verde-oliva, era tão simples e ao mesmo tempo tão sexy que dava água na boca. E completamente inesperada.

    “O que ela está fazendo?”

    Os seus estreitos quadris balançavam ao som da música que enchia a cobertura. Ela precisava dizer alguma coisa. De fato, quanto mais tempo ficava em silêncio, mais sua imaginação desenhava ideias sobre as várias maneiras de despir-lhe o vestido.

    Lauren caminhou pela sala e desligou o aparelho de som.

    Camila deu um salto, quase caindo da cadeira. Lauren a segurou a tempo, apertando-a contra seu corpo e deixando que os seus pés descalços deslizassem lentamente até o chão. Lauren podia tê-la soltado, mas quando Camila olhou para cima, Lauren viu uma recordação refletida em seus olhos — uma recordação de outro tempo e de outro lugar em que ela a havia agarrado assim, bem junto de seu corpo.

    — Achei que você só chegaria em casa amanhã — ela confessou, quase sem ar.

    — Viajei antes do esperado.

    — Fiz algumas mudanças, espero que não se importe.

    Ela se referia à sala em que eles estavam, como se Lauren, ao entrar, não tivesse visto mais nada senão ela. Lauren não a via com os cabelos soltos e usando um vestido desde…

    — Não, não me importo — disse Lauren, enquanto suas mãos pousavam naturalmente na cintura dela e a puxavam ainda mais contra seu corpo, sem se preocupar se ela notava o que a proximidade estava provocando no corpo dela.

    A aceitação de Camila era excitante, apesar de Lauren se sentir um pouco decepcionada por a caçada haver terminado mesmo antes de começar. Ela estava ali, nos braços dela, os mamilos entumescidos contra o fino tecido de algodão do vestido, desejando a atenção dela. As próximas semanas iriam ser bastante cansativas mas, ah!, muito prazerosas também.

    Lauren se inclinou para tomar-lhe os lábios, mas a moça desviou o rosto e Lauren beijou sua face e não sua boca. Lauren recuou e fez uma careta. Desde a terceira série, quando sua primeira paixão por uma menina não fora correspondida, ela não era vítima de uma recusa daquelas.

    Lauren não gostou nada. Camila se liberou dos seus braços e se distanciou um pouco.

    — Lauren, acho boa ideia discutirmos algumas regras básicas.

    — Regras básicas? — Lauren repetiu.

    — Sim, para não haver confusões.

    — Eu não estou confusa Camz. — Lauren se aproximou.

    Ela se afastou outra vez:

    — Nosso acordo é estritamente comercial.

    — Mas não precisa ser.

    — Estou aqui apenas para salvar a empresa do meu pai. Em alguns meses nossas vidas estarão de novo separadas.

    — Mais uma razão para aproveitarmos esse tempo juntas.

    — Eu não concordo, e por isso transformei seu escritório em um outro quarto.

    “Meu escritório?”

    Lauren caminhou até a porta daquela sala onde, normalmente, proibia que outras pessoas entrassem, e que jamais estava com a porta aberta. Nossa! Os móveis de escritório pretos e cinza foram substituídos por uma explosão de branco e lavanda, bem feminino. De um lado da sala, onde costumava ficar a mesa de trabalho, estava agora uma cama. Ela até tinha mandado pintar as paredes de branco, com uma tira de flores junto dos rodapés.

    — Que diabo você fez com minhas coisas Camila? — ela gritou.

    Camila não pareceu se intimidar.

    — Tudo o que parecia importante foi embalado e enviado para seu escritório principal. As outras coisas foram armazenadas. Não foi para isso que você mandou a empresa de mudanças? Para eu me sentir em casa? — O seu tom inocente parecia um pouco calculado.

    Lauren subestimara Camila e isso era incrivelmente sexy. A excitação fazia o sangue de Lauren correr mais rápido e levou para bem longe a irritação que sentia minutos antes. Lauren estava com vontade de arrancar o vestido de Camila e provar o seu gosto ali mesmo sobre aqueles lençóis novos.

    — Quanto tempo você acha que vai dormir aqui? — Lauren ronronou.

    Em vez de fingir que não havia entendido ou de recuar, Camila o surpreendeu se aproximando mais. Ela parou antes de seus corpos se tocarem. Perto o suficiente para Lauren poder sentir o calor da pele dela. Quase em um sussurro ela disse:

    — Se você quer dormir comigo, Lauren, você precisa de bem mais do que essas frases baratas. De fato, você vai precisar fazer uma coisa que sequer é possível. Só um grande controle de sua vontade o impediu de colar o corpo dela no seu. Por um momento, a mútua atração fez o tempo passar mais devagar e tudo em volta desaparecer, como se só elas duas  existissem. Ela levantou uma mão e todo o corpo dele se retesou, na expectativa da carícia que ela faria.

    Céus! Lauren a desejava. Estava pronto para prometer tudo o que fosse necessário para levá-la para sua cama. O tapinha brincalhão que Camila deu no rosto de Lauren o apanhou completamente desprevenido.

    — Vai precisar me fazer gostar de você — ela disse, empurrando um atordoado Lauren para fora de seu quarto e fechando a porta.

    Camila apoiou as costas contra a parede e deixou escapar um suspiro. A cara chocada de Lauren era inesquecível. Ela não estava acostumado a levar foras. O seu ego precisava ser posto em ordem.

    Jogar duro com ela lhes daria o tempo necessário para redescobrirem sua antiga paixão ou ela perderia o interesse e voltaria sua atenção para outra pessoa? Dessa vez a incerteza não assustou Camila.

    Os desafios que ela havia enfrentado e superado ultimamente a faziam se sentir mais poderosa. Apesar de seus sentimentos, ela havia convencido Lauren a ajudá-la. A Cabello Ltda. e seus funcionários em breve estariam salvos. Mal os documentos ficassem prontos ela poderia começar a tirar a empresa do vermelho e mostrar para todo mundo que não era uma vítima trágica e desamparada que precisava ser salva.

    Ela havia vencido. Finalmente havia vencido.

    Sentia-se confiante e isso lhe permitia olhar o futuro com mais força. O passado era parte de sua história, mas só governaria sua vida se ela permitisse. E ela se recusava a aceitar ser apenas a soma de todas as coisas que haviam acontecido. Estava na hora de decidir exatamente o que precisava para ser feliz. E batalhar por isso.

    Isso poderia significar redescobrir o amor com Lauren, se ela estivesse preparada para algo sério. Ou podia significar deixá-lo para trás, como o seu passado. De uma maneira ou de outra ela assumiria o controle de sua vida.

    “Cuidado, Lauren. É tudo ou nada, e eu cansei de viver segundo as regras dos outros.”

Amor por interesseOnde histórias criam vida. Descubra agora