DEZOITO

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Na manhã de segunda-feira, Camila tomou o seu café da manhã sozinha antes de pedir para Jeff a levar até a antiga casa de seu pai. Pensou em vários locais onde poderia encontrar a irmã. No fim, decidiu que elas precisavam se encontrar no mesmo lugar onde tudo começou.

    Camila acabava de abrir a porta que dava para o enorme saguão da casa do pai quando a limusine de Sofia entrou no jardim e estacionou atrás da sua. Ela o viu sair do carro e, depois, oferecer o braço para Abby. Ela falou com ela como se estivesse preparando Abby para o que aconteceria a seguir e depois se inclinou e a beijou gentilmente, segurou a sua mão e caminharem juntos até a casa.

    “Ela a ama. Ela a ama de verdade”, pensou Camila.

    Ela os esperou no saguão e então os três ficaram em um penoso silêncio até que Camila disse:

    — Obrigada por ter vindo aqui.

    — Você achou que eu não viria? — perguntou Sofia, asperamente.

    Abby deslizou para baixo do braço dela e o abraçou. Era muito bem-vinda naquele encontro. Camila e Sofia nunca foram muito bons em puxar papo.

    Camila ofereceu uma trégua:

    — Se você não viesse, eu não o culparia.

    Abby olhou em volta, para as caixas espalhadas por todas as salas.

    — Você está se mudando?

    — Sim. Decidi que vou leiloar a casa e todas as coisas que estão dentro dela. Por isso, Camila, se você quiser alguma coisa, pegue agora. A leiloeira vai mandar alguém para fazer a avaliação e o catálogo, e me pediu para separar as peças que eu quero guardar.

    Sofia fez uma careta.

    — Não quero nada dessa casa.

    Camila respondeu:

    — Eu também não. — Ela hesitou um pouco e depois acrescentou: — Eu vou dar o lucro da venda para um abrigo de vítimas de violência.

    Abby comentou:

    — Você vai fazer uma coisa linda!

    — Me pareceu… apropriado. Está na hora de enterrar meu passado.

    Sofia – a forte e cruel Sofia – corou e seus olhos brilharam de emoção. Ela deu uns passos na direção de Camila, depois pareceu pensar melhor e parou.

    — Lamento muito, Camila. Lamento muito mesmo por não ter sido a irmã que você precisava.

    Camila esfregou as mãos, tentando manter a compostura:

    — Nosso pai destruiu nós duas, Sofia.

    Inacreditavelmente, Sofia disse:

— Eu quero compensar, Camila. Preciso compensar.

    A reflexão sempre trazia o entendimento.

    — Você não pode, Sofia, e talvez nossa cura comece quando aceitarmos isso. O passado está lá atrás. Precisamos enterrá-lo junto com papai.

    — Então, onde vamos parar? — perguntou ela, em um tom de voz quase humilde.

    — Não sei. Mas nunca pensei que pudéssemos chegar tão longe.

    Não houve abraços. Era demasiado cedo para fazerem algo além de olharem um para o outro através de um abismo, sabendo que a culpa de tudo aquilo não era delas.

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