Amor por interesse

DEZESSEIS

No domingo pela manhã, Camila sentou na pequena mesa da cozinha de Lauren… sozinha. No dia anterior, elas tinham voltado correndo para Nova York porque ela precisava resolver uma situação de emergência na empresa. Ela a mandara para a cobertura em uma limusine e seguira direto para o escritório. Camila esperou Lauren chegar até bem depois da meia-noite, mas ele não voltou para casa. Então, agora ela estava ali sentada, completamente sozinha, tendo à sua frente o café da manhã para dois que a cozinheira havia preparado.

    O motorista ligou da portaria, mas, em vez de descer, Camila mandou ele subir. Lauren olhou demoradamente o pijama da moça antes de dizer:

— Você não vai sair hoje?

    — Não.

    — Também não vai tomar uma ducha?

    — Talvez. Quer um café? — Ela fez um gesto em direção à xícara extra sobre a mesa.

    — A coisa tá preta, hein? — Jeff perguntou, sentando-se com ela à mesa.

    Camila colocou os pés sobre a cadeira e agarrou as pernas.

    — Eu estraguei tudo na Califórnia.

    Jeff arrastou os ovos mexidos pelo prato antes de comer um pouco e depois perguntou:

    — Qual é a sua definição de estragar tudo?

    — Tudo estava correndo superbem. Os amigos dela eram muito simpáticos. Nós estávamos superligados. Nos beijamos. Foi bem quente. Quer dizer, foi o melhor beijo da minha vida. Eu já transei antes, mas aquilo…

    Jeff a interrompeu:

    — Vamos direto ao ponto em que você estragou tudo.

    — Eu contei sobre a minha família.

    — E?

    — E ela quase não falou comigo no voo de volta. Ontem à noite não voltou para casa. Não quero ligar porque ele disse que nossa volta às pressas tinha a ver com alguma coisa do trabalho.

    — Mas?

    — Mas eu não acredito. Ontem ela estava superinfeliz. Não é que ela não tenha se interessado quando eu contei tudo, mas depois ela não voltou a me olhar. Eu não sei o que isso quer dizer.

    Jeff bebeu um pouco do café frio que estava em sua xícara.

    — Pode ser um sinal muito bom ou muito ruim.

    Camila quase sorriu:

    — Uau, você está me ajudando muito!

    Jeff afastou a cadeira e ficou em pé.

    — Eu não sou vidente, caso você ainda não tenha percebido. Mas se quer mesmo saber o que ela está pensando só há uma maneira de descobrir.

    Camila também ficou em pé.

    “Estou tão desesperada que faço qualquer coisa”, ela pensou e depois perguntou:

    — Qual?

    Jeff respondeu:

    — Pergunte a Sra Lauren. Eu estou lá em baixo, caso você precise de mim. — E saiu, fechando suavemente a porta ao passar.

    Uma hora mais tarde, vestindo sua calça de yoga, camiseta e tênis, Camila saiu do edifício onde Lauren morava. Havia uma pequena cafeteria uma quadra à frente. O sol estava brilhando.

    “Talvez uma caminhada ajude a esfriar minha cabeça”, ela pensou.

Jeff estava certo. Em vez de ficar dando voltas em sua cabeça, com medo de ofendê-lo ou irritá-lo, ela precisava perguntar para Lauren.