SETE

147 28 2
                                    

Mesmo através da porta fechada, Camila podia ouvir as vozes dentro da enorme mansão. A casa de Clara e Mike ficava no topo de uma pequena colina com vista para o lago, como uma mansão de Newport, mas de arquitetura mais contemporânea. Só uma família como aquela podia ser dona de uma propriedade de cento e cinquenta mil metros quadrados e enfeitar o enorme relvado com uma grande variedade de triciclos e máquinas de ginástica. Camila levantou a mão para tocar a campainha, mas a porta se abriu antes de chegar a fazer isso. Um menino de cinco anos passou por ela correndo e desceu os degraus. A mãe dele segurava um bebê nos braços. Ela apontou para o pequeno fugitivo:

    — Pode agarrá-lo, por favor?

    Primeiro Camila olhou para os sapatos Christian Louboutin da moça, pretos e com tira no calcanhar, e para suas calças creme, e depois olhou para o menino que parecia ter brincado com as mãos na lama. Todas as famílias que ela conhecia tinham babás, mas os Andrade não gostavam delas.

    O menino estava parado, porém pronto para correr, apenas a quatro passos dela.

    — Agarrá-lo? — perguntou Camila, sem imaginar direito como poderia fazer isso.

    A mãe confirmou:

    — Pegue-o. Agarre-o. Puxe-o. Leve-o ao banheiro. Ele não quer lavar as mãos antes do jantar.

    O menino mostrou a língua para Camila e correu em volta da casa.

    “Ah, o pirralho!”

    Camila descalçou os sapatos e correu atrás dele.

    Ela o perseguiu em volta de dois carros estacionados, mas ele se esgueirou e fugiu pelo gramado inclinado. Os dois corriam com velocidade quando o menino tropeçou e rolou pelo chão. Camila tentou frear para evitar pisá-lo mas também acabou caindo. Os dois rolaram pela grama alta de verão antes de pararem na base da pequena colina. O menino se levantou primeiro e ficou olhando para ela, acusador:

    — Você quase rolou por cima de mim.

    Camila tentou manter uma cara séria:

    — Me desculpe.

    Ele levantou o queixo, desafiador:

    — Eu não vou lavar minhas mãos com o sabonete da vó ‘Clara. Não quero ficar com cheiro de menina.

    — Então eu vou levar você na marra — respondeu Camila com calma, como se estivesse falando sozinha.

    O menino inclinou a cabeça para um lado, avaliando o que ela havia dito.

    — Você é engraçada — ele decidiu, e estendeu a ela uma de suas mãozinhas enlameadas. Camila deixou ele acreditar que a estava ajudando a levantar do chão. O menino acrescentou: — É rápida, também.

    Camila sorriu:

    — Quem diria! — Ela continuou segurando a mão do menino. Não ia deixar ele escapar outra vez. — Vamos entrar. Sua mãe deve estar preocupada.

    — Eu não…

    Camila sugeriu:

    — E se nós procurarmos um sabonete de homem? Eu aposto que seu vô Mike também não gosta de cheirar como menina.

    Clara apareceu na porta dos fundos da mansão e apontou um dedo para seu neto:

    — Matteo, venha já para dentro. Olhe como você sujou as calças da Camila!

    Camila olhou para o menino e depois para Clara e tomou uma decisão rápida:

    — Não é culpa dele. Eu caí colina abaixo quando corria. Matteo me ajudou a levantar.

Amor por interesseOnde histórias criam vida. Descubra agora