Amor por interesse

DEZESSETE

No domingo à noite, Camila decidiu ficar acordada esperando Lauren voltar para casa. Elas precisavam conversar. Ela havia tomado decisões que diziam respeito as duas.

    Depois de sair da cafeteria, Camila deu um longo passeio pelo Central Park. A brisa fresca e o sol quase haviam desaparecido enquanto ela passeava no meio da multidão que também quis aproveitar aquele lindo dia de verão ao ar livre.

    Antes de voltar para casa, ela parou no Belvedere Castle e ficou vendo o lago Turtle. Quando era criança, vinha até ali com Sofia muitas vezes. Aquele era o lugar preferido das duas para passear com a mãe quando vinham à cidade. Os Cabello's, tal como os Jauregui, não tinham babás para as crianças, mas por razões bem ruins. Os serviços de limpeza podiam ser marcados e cancelados sem necessidade de interação com a família. Mas com babás era diferente, elas saberiam o que acontecia na casa.

    Elas brincavam nas pedras em volta do castelo e Nicole costumava fingir que era uma princesa presa em uma masmorra por um dragão malvado. Na fantasias das irmãs, Sofia sempre a salvava das garras do monstro.

    “É isso que eu receio quanto a ela? Que, no final, não seja um herói, mas apenas uma pessoa que a machucou? Ela é a única família que me resta”, ela pensou. Niall e os outros eram pessoas de quem gostava muito, e que gostavam muito dela, mas não eram família de verdade. Os jauregui eram a família que ela sempre sonhou ter, mas não eram a família dela. Não por enquanto. E talvez nunca chegassem a ser. Apesar das desavenças entre eles, Sofia era sua irmã. Abby disse que ela a amava e Camila começava a acreditar nisso.

    Ela telefonava todos os dias desde que se encontraram para a leitura do testamento e apesar de ela jamais ter atendido os telefonemas, Sofia não desistia. E se Abby estivesse certa, e ela estivesse tão arrependido de toda a situação como ela própria? Conseguiriam ultrapassar as mágoas para voltar a ser uma família? Ou era tarde demais?

    Camila se assustou ao ouvir o clique da porta se abrindo. Lauren chegava em casa. Ela não ia gostar do que ela tinha a dizer, mas talvez era disso que precisassem – honestidade, simplesmente. Camila precisava parar de tentar fazer com que Lauren agisse como ela queria. Parar de esconder dese os seus sentimentos. Se não fossem capazes de conversar – conversar de verdade – então não valia a pena lutar para ficarem juntos.

    Camila o encontrou no saguão, enquanto Lauren ainda tirava o paletó e afrouxava o nó da gravata. Ela parecia não ter dormido desde o momento em que se separaram.

    — Você não voltou para casa ontem — ela disse, tentando manter um tom de voz neutro.

    — Verdade. — Lauren passou a mão por seu cabelo negros e despenteado. — Me desculpe, mas eu precisei resolver um monte de coisas.

    — Sério? — ironizou Camila, caminhando atrás de Lauren até o salão. — Não acredito.

    Ele não se voltou para olhá-la.

    — Não faça isso, Camila.

    Ela se colocou bem diante de Lauren e o olhou diretamente nos olhos:

    — Faço, sim. Tenho o direito de saber o que aconteceu. Antes de viajarmos para a Califórnia eu achei que, no mínimo, éramos amigas. Depois, na casa do Zayn e Gigi, rolou todo um clima entre a gente. Não é imaginação minha, rolou mesmo. Então, o que mudou? Por que você não olha mais para mim?

    — Vamos parar com isso, tá? — A voz dela ficava mais alta a cada palavra.

    Camila sentiu seu corpo ficar tenso mas não tinha medo. Lauren não era o seu pai. Ela não precisava ter medo. Afinal, naquele mesmo dia, Camila havia entendido que desempenhava um papel importante na maneira como os outros a tratavam.

    — Não grite comigo, Lauren. Eu não admito que você faça isso.

    O rosto de Lauren se contorceu com uma emoção que ela não sabia como classificar.

    — Eu jamais bateria em você, Camila.

    — Eu sei — Camila disse suavemente, e era a verdade. A família dela falava aos gritos mas não era cruel. Ela se aproximou mais. — Eu confio em você, Lauren.

    Ele deu uns passos para trás, se afastando dela.

    — Mas não deve. Eu não sou a mulher que você imagina, Camila. Bem que eu gostaria. Eu só queria transar com você. Isso é tudo o que pode existir entre nós. — As mãos delas estavam fechadas e havia tanta emoção nos seus olhos que Camila não podia acreditar em nada do que estava dizendo. Se ela dizia a verdade, se ela não significava nada, então por que ela parecia atormentada pelas suas próprias palavras?

    Lauren disse:

    — Camila, lá na Califórnia eu percebi que você estava certa quando disse que a gente precisava ter um acordo puramente comercial e nada mais. Sexo só iria confundir essa situação que, de qualquer maneira, em breve estará terminada.

    Camila se aproximou.

    — Não precisa ser assim, Lauren.

    Os olhos verdes se enfureceram com alguma coisa que ela não podia ou não queria dizer.

    — Precisa, sim.

    “Por que você não olha para mim?”, Camila pensava.

    Aquela conversa estranha não os levaria a lugar algum naquela noite. Então, o melhor mesmo era mudar de assunto:

    — Vou telefonar para o minha irmã.

    Lauren levantou a cabeça, surpreso:

    — Por quê?

    “Eu preciso fazer isso, mesmo correndo o risco de perder ela de novo”, Camila pensou, esfregando suas mãos geladas.

    — Eu vou encontrar com ela amanhã, na casa do meu pai. Não posso passar o resto da minha vida odiando-o por causa do que meu pai fez com a nossa família. — Camila não disse nada. Ela apenas balançava ligeiramente a cabeça. Camila continuou a falar: — Mas isso não muda nada. Eu não vou contar a ele que nós não estamos noivas de verdade e você continuará sendo o dono da patente.

    — Eu não quero a patente — ela disse, áspero, e mais uma vez deu as costas a ela.

    — Mas foi por causa dessa patente que você fez tudo isto, certo? Em parte por que eu ajudei Taylor e em parte pelo lucro que você vai ter com a conversão do software… — Ela pôs a mão nas costas de Lauren, tentando obrigá-lo a se virar. Os músculos dela latejaram com o toque de Camila.

    — Vá encontrar sua irmã — disse Lauren se afastando. Antes de Camila ter tempo de perguntar mais alguma coisa, Lauren entrou no quarto e fechou a porta.