DEZENOVE

146 21 1
                                    

– Camila deve ser mesmo muito boa de cama para você estar com tantas ilusões, minha amiga.

    — Deixe Camila fora disso — Lauren murmurou. — Você pode remover o vírus? Não interessa quanto vai me custar, você pode reverter o processo?

    — Acho que você não entendeu o que eu disse. Eu não quero remover o vírus. Eu infectei aquele sistema para ficar famoso no mundo dos hackers, no mundo dos hackers anônimos. Não quero ficar famoso por ser estúpido, voltar atrás e entrar no programa para desfazer o que havia feito. Isso não é um jogo. Não existe um botão para desligar.

    — A situação mudou. Eu não posso continuar com isso.

    — Para mim não mudou nada. No próximo mês, quando Sofia conectar o software dela, o servidor vai dar tanto problema que ela vai ser a gozação de toda a comunidade informática. E eu serei famoso para sempre.

    — Não posso deixar você fazer isso.

    — Tarde demais, Lauren. Está feito e eu não vou agir como idiota só porque sua vagina ganhou consciência. Não volte a me telefonar. Se eu for pego, você vai pagar por isso. Eu sou coisa pouca. Quem eles vão querer ver nos jornais e na prisão? Um nerd que ninguém conhece ou… você, Lauren? Pense nisso. Se eu for pego, acabo indo trabalhar para algum departamento do governo, ajudando na busca por fragilidades de software, enquanto você vai apodrecer na prisão. Não volte a me telefonar.

    O celular ficou mudo.

    Lauren viu seu próprio reflexo no espelho, do outro lado da sala, e odiou o que viu. Como foi chegar até ali? Quando é que salvar o planeta e sua família virou aquilo?

    Ela se tornou uma mulher igual àquela que queria destruir.

    Se, pelo menos, Camila fosse matreira e desprezível como ela imaginava, no final ela conseguiria se afastar sem problemas. Mas, não. Ela era o tipo de mulher que uma mulher ou um homem sempre sente que precisa proteger – até dela mesma. Ela não odiava verdadeiramente a irmã e isso tornava ainda pior aquilo que Lauren havia feito. Ela precisava contar para ela. De alguma maneira. Camila estava acabando com as mentiras. Acabando com os jogos. Ou Lauren a amava ou não.

    Ela entrou de rompante na sala de Lauren.

    — Eu amo você — disse ela, desafiante. — Amo desde aquela época, sete anos atrás, quando me importunou até eu aceitar sair com você. Eu o amei mesmo quando achei que você me odiava. E essas três semanas em que estamos juntos estão sendo a melhor época da minha vida. Mas preciso saber se você está mentindo para mim, Lauren. Isso é verdadeiro? Você me ama ou é apenas um jogo doentio de vingança contra o minha irmã? Eu preciso saber a verdade. Eu mereço saber a verdade. Sofia acha que tudo tem a ver com ela. Diga que é mentira.

    Ela ficou de pé, na frente da mesa de Lauren, respirando e esperando. Camila se sentiu golpeada no peito quando ela não respondeu. Ela continuou ali sentada, com um ar de culpa.

    — Cafajeste… Quando você ia me contar?

    Ela ergueu um ombro, indiferente.

    — No início não importou porque eu aceitei, não é? Eu usava você da mesma maneira que você me usava.

    — E o que você ganhou ficando minha noiva? — Lauren ia responder, mas ela o interrompeu: — Não, eu não quero saber. Estou de saco cheio de tudo isso. Você, minha irmã, essas mentiras. Eu não aguento mais tanta mentira.

    — Camila, eu…

    — O quê? Você vai dizer que também me ama? — Ela riu sem humor. — Droga, por que não? Diga! Mesmo que seja mentira, não interessa… Parece que eu  conheço ninguém capaz de falar a verdade.

Amor por interesseOnde histórias criam vida. Descubra agora