DOIS

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“Então, foi bem pior do que o esperado”, pensou Camila enquanto saía do elevador para o saguão do edifício onde ficava o escritório de Lauren. O tic-tac dos saltos de seus sapatos Louis Vuitton chamou a atenção dos dois homens no balcão de segurança. Eles levantaram o olhar e logo depois, simultaneamente, voltaram a baixar os olhos com um desinteresse ultrajante.

    Haveria algum sabor de sorvete que tornasse aquele dia suportável? Talvez não, mas Camila planejava comer uma ou duas caixas logo mais à noite. Sua incapacidade para engordar era um dom e uma maldição. Na adolescência, era uma menina tímida com mais de um metro e oitenta de altura, quase sem curvas, parecendo mais um espantalho, só pernas e braços. E foi assim por muitos anos. Os homens e as mulheres não costumavam olhá-la duas vezes. Os anos haviam suavizado os ângulos de seu rosto, mas as curvas que ela tanto desejava jamais apareceram em seu corpo. Ela não comprava roupas sexy simplesmente por que seu corpo não tinha como segurá-las. A falta de atenção das pessoas não a incomodava. Ela focou sua atenção em seus estudos e em vários treinamentos ao longo dos anos com um único objetivo em sua mente – salvar a empresa de seu pai. Um objetivo que jamais parecera tão longínquo como naquele momento.

    Sofia não se preocuparia com os executivos que trabalhavam para a Cabello Ltda. por mais de vinte anos. A empresa havia sobrevivido às crises econômicas e a uma sabotagem deliberada apenas por causa da lealdade e integridade dessas pessoas. Eles eram mais do que antigos funcionários, eram a única família que Camila teve. E ela não estava conseguindo defendê-los.

  — Você está se sentindo bem? — perguntou a secretária de Lauren enquanto elas caminhavam pelo saguão principal. Mesmo grávida, ou talvez por causa disso, ela merecia a demorada atenção dos guardas. Camila sentiu um pouco de inveja da confiança natural daquela mulher. Seu vestido de gestante, esvoaçante e cor de ameixa, acentuava suas formas delicadas e celebrava o estado temporário do seu corpo.

    — Sim, estou ótima — Camila respondeu automaticamente.

    — Você não parece estar se sentindo bem — a moça insistiu.

    Apesar da diferença de cor, os olhos dela lembravam os de Lauren.  Mike Jauregui sempre havia defendido dar emprego para a família. Certamente Lauren tinha mantido essa tradição.

    — Taylor, certo? Obrigada por sua preocupação, a verdade é que minha semana foi bem dura e estou sem nenhuma vontade de falar sobre isso.

    Graças a Deus! Sua limousine a esperava junto da calçada. Camila se despediu e saiu pelas portas de vidro.

    Taylor a seguiu até à rua como se estivesse querendo falar mais alguma coisa. Camila reparou como a moça se esforçava por recuperar o atraso e a esperou, um pouco a contragosto.

    — Pensei que você já tivesse ido embora.

    — Dei minha limousine para Lauren. — Taylor fez uma careta. — Não conte nada para ela. Essa viagem é importante demais e eu pedi para mandarem outro carro para mim.

    — Mas? — “Por favor, não fale uma razão para eu não poder deixá-la aqui sozinha na calçada. Oh, céus! Será que a gente vai para o inferno por pensar uma coisa dessas sobre uma mulher grávida?” Camila olhou em volta, esperando ver aparecer, miraculosamente, outra limousine.

    — Não estou me sentindo bem. — Taylor colocou uma mão nas costas.

    “Droga!”, Camila levantou a mão, chamando sua limousine. O motorista fez marcha à ré e abriu a porta.

    — Por que você não senta um pouco? Quer que eu ligue de novo para saber o que aconteceu com seu carro?

    Acomodando-se no banco de pelúcia, Taylor disse:

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