VINTE E DOIS

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Richard, o marido de Taylor, estava em pleno processo criativo preparando o almoço de domingo do clã Jauregui, e ameaçava quem se atrevesse a levantar uma tampa das muitas panelas que estavam no fogão. Abby estava bebendo o café que momentos antes Alexa oferecera.

    — Quando vocês me convidaram para cozinhar eu imaginei… bem, imaginei que eu mesma ia cozinhar — confessou ela.

    Clara indicou com a mão o homem que praguejava em francês enquanto cozinhava e respondeu:

    — Hoje é o dia de Richard preparar o almoço. Nós só estamos aqui para ficarmos longe dos homens e podermos conversar à vontade.

    Camila trocou um olhar de cumplicidade com Abby:

    — Eu sei. Pensei exatamente a mesma coisa na primeira vez que me convidaram. Me pareceu um pouco sexista todas as mulheres estarem na cozinha enquanto os homens ficam no salão, mas é aqui que as coisas boas acontecem.

    Taylor deitou Joseph no berço.

    — Eu cresci assim, mas confesso que quando era adolescente achei que estava perdendo alguma coisa por não estar no salão. Mamãe, a senhora lembra dessa fase?

    Clara respondeu sorrindo:

    — Ah, lembro, sim. Não demorou muito para você entender que todas as decisões importantes eram tomadas aqui.

    Camila perguntou, rindo:

    — Os homens sabem disso?

    Abby colocou uma questão mais séria:

    — Vocês estão aqui porque querem, né? Se vocês quisessem estar lá no salão, eles permitiriam, certo?

    Clara assentiu, tranquilizadora:

    — Ah, não se preocupe. Você pode ir para lá e ficar falando sobre design de microchips e plataformas de marketing, se gostar desses assuntos. Mas, por favor, me deixe ficar aqui.

    O olhar de surpresa no rosto de Abby fez Clara sorrir:

    — Abby, o movimento pelos direitos das mulheres nos tornou iguais, permitindo-nos escolher quem queremos ser. Ele não nos fez virar homens ou designers de software. Eu não tenho um emprego, mas apoio um monte de instituições beneficentes e considero minha família um trabalho de período integral. Alessandro me apoiaria se eu quisesse assumir algum setor da nossa empresa, mas eu não estou interessada. Uma coisa boa que a idade ensina é que a gente não precisa provar nada para ninguém. Eu me sinto feliz com as coisas como elas são.

    Alexa acrescentou:

    — Eu concordo plenamente. Mike e eu trabalhamos durante anos para que a jauregui Solutions tivesse sucesso. Ele sempre disse que eu era capaz de negociar até as asas de uma mosca, se fosse necessário, e muitas vezes foi difícil encontrar vendedores. Não conseguíamos lucro todos os anos. Nós precisávamos trabalhar, mas vocês, jovens, podem seguir suas paixões.

    Abby endireitou os ombros e disse:

    — Tenho de admitir que, nesse momento, não sei bem o que eu quero fazer. Sempre tive meu emprego. Por vezes, tinha dois. Não posso voltar a ser professora. Sofia me mantém rodeada de guarda-costas. Como conseguem ser vocês mesmas rodeadas por segurança que lançam uma sombra tão grande sobre a gente?

    Clara se inclinou, colocando a mão sobre a de Abby:

    — O segredo é você ficar do lado dele e fazer seu próprio caminho. Há um preço a pagar pela riqueza, mas também há liberdades que o dinheiro nos dá. Como professora, você tocava a vida de centenas de crianças. Agora, se quiser, pode tocar a vida de milhões. O maravilhoso sobre nossos homens e sua mulher é que podem fazer com que isso aconteça. Sofia também parece ser esse tipo de pessoa boa.

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