VINTE

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Camila sentou na velha cadeira de couro de seu pai, atrás da enorme mesa de mogno.

"Como eu cheguei até aqui? Deve ter existido uma época em que fui feliz", pensou.

Ela se lembrava de quando sua mãe ainda não tinha ido embora, uma época entre os ataques de fúria do pai, quando ela vinha com a mãe visitá-lo naquela sala. Ela sentia tanto orgulho de seu poderoso pai. Ele comandava todos à sua volta como um rei liderando um exército e aquela cadeira era o seu trono. O pai permitia que Camila subisse para o seu colo e tocasse os botões do interfone para pedir um copo de leite para a secretária. Não, ela não tinha sido sempre infeliz. Mas reconhecer esse fato não dava a ela a resposta de que tanto precisava. Por que a mãe tinha regressado agora e onde ela tinha estado durante todo esse tempo? O que Sofia pensava quando garantiu que queria fazer parte da vida dela de novo?

"Como eu pude me enganar tanto a respeito de Lauren?" Camila acariciou com as mãos o tampo da mesa e surgiu em sua mente uma outra pergunta: "É aqui mesmo que eu quero estar?"

Havia duas semanas que ela sentava nas reuniões de diretoria, dirigindo a empresa do pai, esperando que uma sensação de euforia a atingisse, mas isso jamais aconteceu. Mesmo enquanto negociava novos contratos e definia estratégias para tirar a empresa do vermelho, Camila não sentia prazer algum.

"A verdade é que eu não tenho nenhum interesse em computadores e softwares. Como eu só fui descobrir isso agora?"

Camila olhou em volta, observando a sala do pai, a sua empresa, com uma nova perspectiva.

"Eu estive tão ocupada tentando ser a pessoa que achava que deveria ser que nunca me perguntei o que, de fato, eu queria ser."

No início, aprender sobre computadores havia sido uma maneira de ganhar o amor do pai. Depois, salvara a empresa para manter por perto as pessoas de que ela gostava e não para entrar no mundo empresarial.

Ela pegou o telefone e ligou para uma pessoa em quem sabia que poderia confiar. Alguém que sempre havia estado do seu lado.

- Niall, o que você acha de nós escolhermos um novo CEO? Não, eu não vou sair de férias, vou mudar de profissão.

Ele não pareceu surpreso e fez apenas uma pergunta:

- O que você vai fazer?

Ela pensou no abrigo para vítimas de violência, no leilão da casa do pai, e respondeu:

- Não sei bem, alguma coisa no setor beneficente.

Sofia não estava sozinha em sua sala. O sempre presente Jake estava encostado numa estante, perto o bastante para ouvir a conversa, mas suficientemente longe para ser apenas um observador. Lauren entrou com a determinação de uma mulher que só sairia dali depois de resolvido o assunto.

Surpreendentemente, Sofia havia incluído sua noiva naquela reunião. Ela estava ao seu lado, segurando a sua mão, e essa talvez fosse a única razão pela qual ela não tinha esganado Lauren.

- Lauren - disse Sofia, em um tom de voz que não deixava dúvidas sobre o desagrado que sua visita causava. - Sente-se, mas por favor, não demore mais tempo do que o necessário. Você disse que tinha informações para mim. Alguma coisa que não podia falar por telefone.

Lauren reuniu forças mentalmente e disse:

- Não existe uma maneira de fazer isso ser menos pior, por isso vou direto ao assunto. Seu servidor chinês foi atacado por um hacker e eu sou o responsável. Não o coloque online no próximo mês sem antes o verificar completamente para desativar o vírus, faça todos os testes possíveis.

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