Capítulo 29

1K 136 4
                                    

Ele nem pediu permissão antes de se deitar na cama, mal conseguindo distinguir de que lado Severus dormia e ficar do outro. Ele ficou ali sentado, de pernas cruzadas, olhando para onde a cabeça do homem estava na escuridão.

— Eu nunca pensei sobre isso. — Ele admitiu, sentindo-se absolutamente péssimo.

— Não? — Snape perguntou, seu tom quase zombeteiro.

— Não. Não até você... você disse, agora há pouco. É... era isso mesmo que estávamos fazendo? — Ele perguntou, parte dele esperando que Snape lhe dissesse não, que lhe dissesse para não se preocupar com isso.

— Você me diz. — Ele disse em vez disso, seu tom tão gentil...

Harry se sentiu mal.

— Mas eu... eu não faria isso. Eu não a trairia. — Ele sussurrou, uma sensação como se um torno se fechasse em seu peito. Ele teve uma fração de segundo para perceber que sentia que não conseguia respirar antes que o outro homem se movesse, saindo da cama e atravessando o quarto, enquanto Harry estava sentado ali, com o coração disparado, as palmas das mãos suando e, muito provavelmente, tremendo como uma folha.

— Beba. — Snape ordenou – ele obedeceu, engolindo reflexivamente a poção que foi praticamente colocada em sua boca um momento depois. Demorou apenas alguns segundos, desta vez, antes que ele pudesse respirar novamente, antes que seu peito parecesse se libertar do que quer que ele sentisse que o estava esmagando.

Ele pressionou a mão ali, sobre o coração, descobrindo que ele batia um pouco mais devagar também. A única coisa que não se acalmou foram suas emoções – ou mesmo o tremor que ele agora sentia em seu corpo. Ele foi puxado para frente, colidindo com algo imediatamente familiar - de onde Snape estava parado ao lado da cama, ele puxou Harry contra si, quase os pressionou violentamente, seus braços em volta dos ombros e costas de Harry, enquanto os braços de Harry o rosto estava pressionado contra o peito.

Ele estremeceu ainda mais fortemente, por um momento, antes que pelo menos diminuísse e ele pudesse finalmente pensar novamente também.

— Eu não sabia. — Ele sussurrou. — Eu não... por que não sabia?

Snape o silenciou, os dedos penteando o cabelo de Harry.

— Porque sou um homem, imagino. — Ele disse, sua voz estranhamente distante. — Suspeito que você teria... notado antes, se eu fosse mulher.

Harry abriu a boca para negar, mas depois pensou melhor. Ele tentou imaginar isso. Uma mulher, qualquer amiga, nas situações em que estiveram. Rolando no chão. Lábios roçando a pele, dedos pressionando um charuto na boca um do outro.

Merlin, ele nunca teria feito isso.

Suas mãos se ergueram e apertaram a camisa de dormir de Snape.

— Viu? — O homem mais velho disse, quase suavemente. — Você não poderia ter visto isso, já que você não... gosta de homens. — Ele disse sem jeito.

Harry mal conseguiu engolir a risada nervosa que o tom gentil ameaçava arrancar dele.

— Mas isso não torna as coisas melhores, não é? Eu ainda... ainda... — ele sussurrou.

Os dedos em seu cabelo acariciaram-no suavemente.

— O que está feito está feito. Você... você tem minha palavra de que nunca darei um suspiro sobre isso para ninguém, enquanto eu viver. — Snape disse. — Ela nunca saberá. Ninguém vai.

Harry se encolheu.

Eu sei! — Ele gritou, apenas para perceber que tinha falado muito alto, muito repentino.

Por vários longos segundos, nenhum deles disse nada.

— Se... se você está me pedindo para obliviar você... eu sou proficiente com o feitiço. — Snape ofereceu. Harry se afastou, olhando para cima, apenas para descobrir que não conseguia ver nada, que estava muito escuro. Reflexivamente, ele estalou os dedos, lançando o feitiço de fogo sem varinha e sem palavras que Snape lhe ensinou e usando a pequena chama para olhar para cima.

Seu amigo parecia... se não aterrorizado, pelo menos magoado.

Doeu nele, vê-lo assim.

Ele congelou completamente, simplesmente estudando o outro homem por vários segundos.

Ele sabia, sabia o quão solitário o outro homem era – ou tinha sido. Sabia que ele era seu único amigo. Severus havia dito isso antes. Ele sabia que Severus se importava com ele, ou não teria feito metade das coisas que fez.

E agora ele estava se oferecendo para tirá-lo, para fazer Harry esquecer, apenas para desfazer o que perturbava Harry – sua própria traição. Ele se lembrou estranhamente do Natal - como Severus prontamente deu a Harry pedaços de si mesmo. Ele não foi tão estúpido dessa vez – ele sabia que era a mesma coisa, que seu amigo estava oferecendo pedaços de si mesmo para o bem-estar de Harry.

A chama entre seus dedos se apagou, mas ele não se moveu por mais alguns segundos, ainda segurado suavemente por braços longos.

— V-você faria isso? — Ele verificou, embora soubesse a resposta.

— Sim. — Snape confirmou, parecendo, de alguma forma, como se estivesse envergonhado disso.

Harry saiu da cama e saiu pela porta, pelo corredor, em segundos.

Blowing Smoke | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora