Capítulo 77

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— Me beija. — Harry pediu, sem saber por quê.

Severus lançou-lhe um olhar completamente perplexo.

— O-o quê? — Ele gaguejou, estranhamente perturbado.

— Me beija. — Ele pediu novamente, esperando que o outro homem o atendesse. Severus se aproximou mais, com a suspeita clara em seu rosto.

— Por que? — Ele perguntou, quando estava a uma distância tocante.

Harry encolheu os ombros.

— Porque... porque eu sou péssimo com palavras. Não sei o que dizer ou como dizer, para fazer você se sentir melhor. Mas... mas posso pelo menos mostrar que não me importo. Isso não me faz pensar menos de você. Isso não me faz achar você menos... atraente. — Ele disse, corando ligeiramente.

O homem mais velho se aproximou ainda mais, ainda olhando para Harry como se esperasse ser mandado embora a qualquer momento. Os dedos se levantaram e roçaram a bochecha de Harry, enquanto ele permanecia imóvel. Severus se inclinou, seus olhos nunca fechando, mesmo enquanto inclinava a cabeça para seguir o pedido de Harry.

Em vez disso, ele fechou o seu, determinado a mostrar ao outro o que sentia, já que não conseguia fazer isso com palavras.

O beijo foi gentil – claro que foi. Lento, principalmente casto, enquanto Harry tentava transmitir o quanto sentia muito – e o quanto admirava o homem mais velho por sua força. Ele também sabia – não conseguia imaginar com o que mais o outro homem poderia estar convivendo. De repente, muitos de seus problemas, suas hesitações fizeram muito mais sentido... e Harry foi atingido pela vontade absurda de beijar, de tocar cada centímetro do outro homem, só para melhorar, por mais estúpido que isso fosse. Não de uma forma sexual - ele simplesmente queria embrulhar Severus até que ele não sentisse mais dor.

É claro que ele sabia – melhor do que a maioria – que o trauma não funcionava dessa maneira, mas enquanto soluçava baixinho durante o beijo, apoiando-se nos braços que lentamente se arrastavam ao redor de seus ombros, ele também não se importou com isso. Seus próprios braços agarraram os do outro homem, puxando-o para mais perto, segurando-o enquanto se beijavam.

Ele sentiu gosto de sal – suas próprias lágrimas – mas não se importou. A única coisa com que ele se importava era como Severus se sentia – se talvez ele conseguisse fazer o homem mais velho se sentir melhor.

Pela primeira vez – talvez pela primeira vez – foi Severus quem se afastou primeiro, quem quebrou o beijo. Harry abriu os olhos, apenas para descobrir que não conseguia ver – uma mão desceu sobre seus olhos, cobrindo-os e protegendo o sonserino de seus olhos.

— Severus? — Ele perguntou, um pouco sem jeito.

— Um... um momento, Harry. — Ele solicitou em um tom áspero.

Harry cuidadosamente estendeu a mão e passou os braços em volta dos ombros do outro homem, puxando-o para um abraço adequado. Seus dedos roçaram a cicatriz – era facilmente identificável, mesmo sem poder vê-la. Ele pressionou a mão sobre ele de forma quase desafiadora, puxando o outro homem o mais perto que pôde. A mão de Snape desapareceu quando Harry o puxou para mais perto - agora as duas estavam em volta de Harry. Mesmo na água quente, ele podia sentir a temperatura levemente úmida que parecia aderir ao outro homem.

Por vários minutos, quase o mesmo tempo que eles se beijaram, eles ficaram ali sentados, daquele jeito, torcidos desajeitadamente enquanto se abraçavam. Harry desejou, com todas as suas forças, poder desfazer o dano causado ao homem em seus braços. Ele tinha quase certeza de que nunca se sentiu tão ferido por outra pessoa antes - e se perguntou, pela primeira vez desde que aceitou a existência deles, quais eram realmente os 'sentimentos' que ele tinha por Severus.

.

— Eu... peço desculpas pela forma como isso aconteceu. — disse Severus mais tarde, enrolado em um roupão de banho grande e fofo que ele havia enfeitiçado de preto. Harry, em seu roupão branco sem feitiço, sorriu para ele.

— Tudo correu bem. — Ele prometeu.

— Tenho certeza que você tinha outros planos.

— Bem, eu poderia ter pensado em nos cobiçar um pouco em nossos calções, mas estamos aqui por mais dois dias, temos tempo. — Ele disse com um bocejo enquanto se sentava na cama. Eles escolheram o quarto de cima - bem, Harry escolheu, porque ele insistiu que a vista era melhor - e era.

Severus revirou os olhos e caminhou com ele.

— Não vejo razão, especialmente não agora, para você querer me cobiçar. — O homem mais velho disse, apertando ainda mais seu manto.

Harry sorriu fracamente.

— Você ainda é a mesma pessoa. O fato de eu ter visto suas cicatrizes não muda isso. Além disso, não me senti atraído por você por causa da sua pele ou algo parecido. Só por causa de quem você é, sabe? — Ele disse com um pequeno sorriso.

O outro homem ficou quieto, sentado ao lado de Harry por vários longos momentos – tempo suficiente para Harry perceber que ele basicamente disse que não achava o homem mais velho atraente.

— Erm, para que conste, eu acho você atraente. Isso também não mudou. Mas não é... não é a razão pela qual me senti originalmente atraído por você. Isso é tudo que eu quis dizer.

Uma risada suave soou.

— Eu sei o que você quis dizer. Obrigado, Harry.

Ele sorriu suavemente e rolou até poder olhar para Severus novamente.

— Não foi a mesma coisa com você, certo? Você apenas achou que eu era atraente? — Ele brincou.

Para sua surpresa, o homem mais velho se inclinou e deu um beijo em sua testa.

— Eu não sou cego. Eu achei você... atraente há algum tempo, mas não foi isso que realmente me atraiu em você. — O sonserino disse com uma voz suave, como se estivesse contando um segredo a Harry.

Ele se sentiu estranhamente perturbado.

— Ah, ah? Não foi?

— Não. — Severus confirmou. — Mas certamente você não precisa que eu lhe diga isso? — Ele disse.

Harry piscou para ele, surpreso como tudo.

— Não, eu... presumi que fosse porque eu era o seu tipo. Erm...

Snape lhe lançou um olhar incrédulo.

— Às vezes, eu realmente me pergunto se você está presente, Potter. — Ele disse em um tom exausto.

Ele bufou e, pela primeira vez, decidiu deixar para lá – afinal, ele também estava se sentindo um pouco idiota.

— Deve ser porque ainda não tomei café da manhã. — Ele disse, sorrindo – na esperança de dissipar a tensão entre eles.

— Mh, provavelmente posso ser persuadido a fazer panquecas para você... se você quiser. — Severus ofereceu, sem olhar para ele.

Harry percebeu duas coisas ao mesmo tempo - Severus o observava tomando café da manhã o suficiente para saber suas preferências, e que Severus nunca tomava um café da manhã doce.

— Vou fazer o almoço para nós? Talvez algum tipo de carne de porco? — Ele sugeriu, só para mostrar que era igual, que também prestava atenção.

O olhar que Severus deu a ele parecia o sol em sua pele.

— Se você quiser. — Ele disse calmamente.

Blowing Smoke | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora