Capítulo 3

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Simon

Simon tomou um gole de chá gelado e inspirou fundo, depois soltou o ar em um suspiro que, de tão longo, pareceu um bocejo.

"Ainda pensando naquele cara?", Sara perguntou e ele soltou mais um suspiro, um dramático dessa vez.

Simon se recusava em perdoar a amiga por não tê-lo ajudado a pegar o contato da visão do paraíso. Claro que Sara não se incomodou nem um pouco. O nome dela estava já estava há anos na sua lista negra, e, mesmo assim, eram inseparáveis. Além de trabalharem juntos, estudavam na mesma faculdade.

"Eu só queria saber o nome dele."

"Não é culpa minha ele não ter falado. Outra coisa, você nunca dá em cima de alguém, nunca dá o primeiro passo. Eu fiquei assustada. Fora que a cantada foi horrível."

Simon começou a mexer nos papéis espalhados em sua mesa pensando que não era uma verdade inteira.

Ele já tomou iniciativa antes.

No primeiro semestre da faculdade de Jornalismo, puxou conversa e flertou com o atacante do time de futebol do curso de Educação Física. O namoro foi breve, porque o garoto gostava de ser amarrado e Simon não queria isso para sua vida. Como um cara nos seus vinte anos não conseguia se satisfazer sem esse fetiche estranho?

Simon perguntou-se onde ele estaria agora se tivesse cedido a vontade desse namorado. Será que ainda estariam juntos? Perguntou-se também o que teria feito se a visão do paraíso tivesse falado, além do nome, o número do celular.

Se tivesse o contato dele, com certeza ele não estaria no estágio numa plena sexta-feira às oito horas da noite.

"Não sei o que deu em mim", disse, tomando mais um gole do chá.

"Amor à primeira vista", disse Sara.

Simon sentiu o rosto ficar vermelho. "Não faz sentido."

"Então foi um encontro impactante, daqueles que te convidam a refletir se é realmente amor à primeira vista."

"Você e suas filosofias." Simon recuou sua cadeira para trás, fazendo os pés de metal rasparem no chão do escritório, e foi para a máquina de xerox. "Ele só era bonito. Nada demais."

Nada demais? Quem ele queria enganar?

Simon simplesmente não conseguia parar de pensar no homem. Até voltou nos dias seguintes na mesma esquina, na mesma rua, no mesmo quarteirão, na esperança de vê-lo novamente, mas nada dele aparecer.

O pior que nem sabia se o homem era gay.

Simon suspirou, frustrado.

Não conseguia dar um nome para o que estava sentindo, nem uma explicação fácil para esse sentimento estranho dentro de si. Parecia que o significado para o que sentia só podia ser articulado pela linguagem inaudível do coração.

Era confuso, pra não falar loucura.

Não podia ser amor à primeira vista.

Para ser considerado amor, Simon precisava ter passado tempo suficiente com o homem e, definitivamente, não foi isso que aconteceu. Nem a voz dele conseguiu escutar.

Uma vez leu que a euforia era uma compensação pelos momentos tediosos da vida. Talvez era só isso. Um frenesi momentâneo. Iria passar. Simon confiava que iria.

O escritório ficou em silêncio. Os dedos de Sara batiam nas teclas do notebook, parando de vez em quando para apanhar sua caneca cheia de café. Volta e meia soltava um "hummm" baixinho, como se o artigo sobre geossintéticos fosse o assunto mais fascinante do mundo.

Sem Deixar Vestígio [Wilmon]Onde histórias criam vida. Descubra agora