Capítulo 12

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Wilhelm

Na semana seguinte, Wilhelm e Felice foram para Two31 para uma segunda reunião.

A conversa com Gregory não foi difícil, como Felice achou que seria. Ele estava receptivo às ideias, então, as sugestões para o projeto foram aceitas sem grandes argumentos.

O difícil mesmo foi Wilhelm encarar Gregory.

Sendo bem honesto, Wilhelm ficou ofendido com o desprezo dele. Ele machucou o orgulho que nem sabia que tinha. Quando chegou em casa depois da festa, se sentiu envergonhado pela sua atitude infantil.

Queria que ele tivesse apertado sua mão. Queria fazer ele perder a compostura. Seria engraçado ver ele implorar por um beijo.

Droga. Estava tendo pensamentos infantis novamente.

Wilhelm olhou para a porta pela milésima vez. Simon não estava na reunião. Ele não ligou, nem enviou mensagem desde a festa.

Droga. Estava pensando no que não devia de novo.

"As sessões vão ser sensacionais", Gregory falou. "Eu já consigo escutar o choro da concorrência daqui."

Felice riu. Wilhelm revirou os olhos de uma forma discreta. Nesse instante, a porta da sala de reunião foi aberta. Simon entrou.

"Olha quem apareceu! Nosso prodígio."

Wilhelm assistiu Gregory puxar Simon para perto e escutou ele elogia-lo para Felice. Enquanto os três conversavam, seus olhos seguiam os toques dele.

Ele tocou o braço de Simon, tocou o ombro de Simon, tocou a cintura de Simon.

Eram muitos toques. Wilhelm arqueou as sobrancelhas, impressionado, até um pouco admirado. Deveria ser legal receber tantos toques assim. Ou dar tantos toques assim.

"Só queria me despedir. Tenho que ir pra aula agora", Simon disse e eles começaram a se despedir.

Wilhelm já estava na porta, pronto para ir embora. Eram seis horas da noite, todos já estavam deixando suas mesas. A última coisa que queria era pegar o elevador cheio.

"Amanhã vou pedir Wilhelm para trazer o contrato de confidencialidade assinado", Felice avisou.

Pela primeira vez, Gregory olhou por mais de três segundos para seu rosto, mas ainda assim, sentiu que era uma parede lisa, porque ele olhava como se não estivesse vendo nada.

"Combinado."

Wilhelm lançou um olhar rápido para Simon e ele já estava com os olhos focados nos seus. Várias possibilidades passaram pela sua cabeça. Pensou em dizer um "Até mais", pensou em mandar um tchau com a mão, pensou em dizer "Te espero lá fora", pensou em sorrir... Mas, no fim, apenas acenou com a cabeça e acompanhou Felice para fora da sala.

No corredor, espiou pela persiana que cobria as paredes de vidro. Simon e Gregory continuaram lá, conversando.

Wilhelm não tinha contato com pessoas, mas conseguia ver quando uma pessoa queria contato com outra pessoa. Principalmente, quando a pessoa queria despir a outra. E esse era o caso de Gregory com Simon. Estava escancarado para qualquer um ver.

Trocou olhares com Felice no elevador.

"Você viu a mesma coisa que eu vi?", ela perguntou e apertou o botão do térreo no painel.

"Eu vi."

"Está cada vez mais comum isso."

"Mais comum o que?"

"Homem ficando com homem."

"Pois é."

"Acho que o estagiário gostou de você."

"Por que acha isso?"

"Aposto que ele indicou o estúdio por sua culpa", ela disse. "Eu se fosse você, tomaria cuidado."

"Não se preocupe", falou, achando graça, e colocou as mãos nos bolsos da calça. "Droga, esqueci meu celular em cima da mesa."

"Vai lá, eu te espero no saguão."

Felice saiu do elevador e três pessoas entraram. Wilhelm apertou o andar da sala de reunião, puxou as mangas do seu blazer para baixo e foi para o fundo, pedindo aos céus para ninguém encostar nele.

De volta ao corredor, correu para a porta e, quando estava prestes a dois dois toques, viu o que seus olhos não esperavam ver. Pela persiana, flagrou Gregory apoiar Simon contra a parede.

Seu coração deu um pulo dentro do peito. Simon parecia surpreso e ele olhou em volta como se quisesse certificar se havia alguém.

Wilhelm se moveu para onde a cortina estava fechada. Será que ele o viu? Passou uma mão nervosa pelos cabelos. O que estava acontecendo? Não sabia se ficava ou ia embora. Como se não tivesse um pingo de vergonha na cara, tornou a espiar.

Simon dizia algo. Mesmo que fosse um expert em leitura labial, não iria conseguir saber o que era. Outro solavanco no peito. Gregory se inclinou e capturou a boca de Simon em um beijo que interrompeu qualquer um dos seus protestos.

As mãos de Gregory seguraram ele no lugar. Por um momento, prendeu a respiração e engoliu em seco. Alguma parte distante na sua cabeça disse para sair dali. Já seu coração o dizia para entrar naquela sala e fazer Gregory parar o que estava fazendo com Simon.

Cogitou mesmo abrir a porta, mas descartou a ideia ao ver Simon se afastar do beijo e inclinar a cabeça para trás, com a boca aberta e os olhos fechados. A boca do Gregory desceu pelo seu pescoço.

Os lábios de Wilhelm secaram. Ele estava gostando? Num ímpeto, seus pés se moveram para longe dali. Não iria ficar para ter certeza.

No saguão do prédio, encontrou Felice.

"O que foi? Por que tá com essa cara?", ela perguntou.

"Não foi nada. Já vou indo. Tenho aula às sete."

Wilhelm chegou na faculdade vinte minutos atrasado, porque errou o caminho duas vezes. Não conseguia conter a agitação que sentia por dentro. O pior era que nem conseguia dizer o porquê se sentia daquele jeito.

Assistiu a primeira e segunda aula sem saber se os professores falavam em inglês ou português. Sua cabeça estava em outro lugar. Não conseguia concentrar. Tudo que conseguia pensar era no beijo de Simon e Gregory. Sentia um misto de incômodo com excitação. E isso o confundia.

Simon claramente estava gostando do beijo. E um beijo do Gregory, Gregory. Aquele babaca.

Será que era porque ele era rico? Ele era razoavelmente bonito e vestia só terno de marca, mas mesmo assim, ão acredita que Simon ligava para essas coisas. E outra, ele estava amaldiçoado. Era para ele querer apenas seu toque.

Será que ele não estava apaixonado de verdade? Não literalmente de verdade, porque não era um sentimento real, mas o feitiço deveria fazer ele ficar cego de amor. Pelo menos era assim que as outras pessoas ficavam.

No intervalo, Wilhelm foi para o banheiro.

Seu corpo estava quente. Droga. Não queria admitir, mas o beijo o afetou. Talvez seja porque há muito tempo não beijava ninguém daquele jeito que os dois estavam se beijando. Talvez seja porque Simon foi a última pessoa que beijou, se podia chamar aquilo de beijo.

Abriu a torneira e jogou água no rosto. Ao se olhar no espelho, pegou um homem olhando-o. Puxou toalhas de papel para se secar. Após alguns instantes, voltou a olhar para o espelho. O homem ainda o perseguia com o olhar. Devagar, se virou para ele e os olhos dele foram de baixo para cima do seu corpo.

Ele era bonito, tinha braços fortes, com certeza era veterano na faculdade. Sem quebrar o contato visual, arremessou o papel na lixeira e esperou. Não sabia exatamente o que estava esperando, mas também não esperava que ele simplesmente saísse do banheiro sem nem falar um "Oi".

Bufou, frustrado, e olhou para o teto, achando que o gesso branco iria magicamente fazer sua agitação desaparecer.

Só que não.

Saiu do banheiro atrás do homem.

Sem Deixar Vestígio [Wilmon]Onde histórias criam vida. Descubra agora