Capítulo 42

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Simon

Quando falaram para Simon, em uma de suas aulas na faculdade, que os olhos eram como janelas para a alma, ele duvidou. Como era possível olhar nos olhos de uma pessoa e saber o que ela pensa?

Porém, ao abrir os olhos e encarar o rosto aflito de Wilhelm, compreendeu.

Com os olhos, quase nada precisava ser dito. Os olhos expressavam sentimentos. Olhos diziam palavras não ditas. E naquele momento os olhos de Wilhelm pareciam dizer mais do que a boca dele.

Ele acordou. Graças a Deus.

"Você está bem?", ele perguntou.

"Onde eu tô?"

"No meu quarto."

"O que aconteceu?"

"Você desmaiou. Eu te trouxe pra minha casa. Você dormiu a noite toda."

"Eu desmaiei?"

"Você tava muito fraco." Ele se levantou da cama e foi em direção a porta do quarto. "Eu preparei algo para você comer."

Durante o tempo que ficou sozinho, Simon procurou tocar seu corpo inteiro. Por debaixo do cobertor, suas mãos passearam pelas suas pernas, pelos seus braços. Sua mente estava em silêncio. Os dedos em sua pele não criavam ruídos na sua cabeça. Seus ouvidos captavam apenas o barulho dos pesados pingos de chuva batendo contra o vidro da janela.

Diferente de quando estava com Wilhelm.

Sem ele dizer uma palavra sequer, sabia que ele havia preparado sopa e que sentia dor de cabeça por ter ficado acordado a madrugada inteira.

Como ele sabia disso, se nada disso foi dito por Wilhelm?

Um calafrio gelado varreu seu corpo quando seu cérebro assimilou essa informação.

Wilhelm apareceu no quarto com uma bandeja em mãos. Em pé ao lado da cama, o entregou com cuidado um prato, que cheirava bem e a sopa tinha aparência de dar água na boca. Estava faminto.

"Cuidado, está um pouco quente", Wilhelm o avisou e, ao pegar a colher que ele o oferecia, seus dedos encostaram na mão dele.

Tomara que ele goste, não sou muito bom em cozinhar.

A colher caiu no chão.

Simon mirou os olhos apreensivos de Wilhelm. Cheios de linguagem, eles queriam dizer muito, mas não eram eles os causadores dos ruídos.

Era o toque.

E isso era loucura.

Em um segundo, a mente de Simon voltou a ser um mar agitado de pensamentos. Seus pensamentos e os pensamentos de Wilhelm.

Pensamentos de Wilhelm.

"Wilhelm", disse, sua voz saindo fraca. Limpou a garganta e tornou a falar. "Tem algo muito errado acontecendo dentro da minha cabeça."

Wilhelm pegou a colher no chão e a limpou com o pano de prato que havia trago. "Tome a sopa primeiro."

"Eu preciso te falar uma coisa. É sério."

"Coma primeiro, vai ser melhor."

Será que ele já compreendeu toda situação? Não. Impossível. Ninguém normal adivinharia o que estava acontecendo dentro de si.

O quarto ficou em silêncio por todo o momento que Simon tomou a sopa. Se fosse realmente verdade o que estava vivendo, como iria explicar para Wilhelm?

O prato se esvaziou, a chuva parou e as nuvens se abriram. Se sentia menos exausto e os raios de sol que invadiram o quarto o tranquilizaram um pouco. Respirou fundo e se espreguiçou. Talvez tudo foi uma alucinação da sua cabeça.

Sem Deixar Vestígio [Wilmon]Onde histórias criam vida. Descubra agora