Capítulo 24

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Simon

Na segunda-feira, Simon chegou no estágio quase uma hora adiantado, como sempre fazia.

Chegar um tempo antecipado era uma recomendação do seu pai, que dizia que o funcionário que agia assim, era o último a ser despedido. Riu ao lembrar da fala do pai. Já sua mãe dizia para ele ficar esperto, porque muitas vezes oportunidades são perdidas por elas estarem vestidas de jaleco e parecerem um trabalho pesado.

Abriu a porta da sua sala e começou seu ritual da manhã.

Ler as notícias do dia, estudar sobre as mais últimas tendências, fazer a ponte entre a redação e os repórteres e responder e-mails importantes.

No momento em que terminou, Gregory entrou marchando na sua sala sem ao menos bater na porta. 

"Você sabe me explicar porquê nosso projeto está sendo lançado na nossa concorrente?", ele vociferou e jogou na mesa um papel com a impressão de um e-mail. 

"Como assim?" Simon pegou a folha e começou a ler o conteúdo. "O que é isso? Nosso concorrente vai lançar um programa igual ao nosso?"

A ideia era idêntica, até o nome do programa era semelhante. E já tinha data marcada para o lançamento. Como era possível?

"Ah, você não sabia?" Gregory rebateu, seus os olhos ardiam em fúria.

"Claro que não!"

"Não mente para mim!" A voz dele se elevou. "Eu sou seu chefe e você me deve uma explicação."

"Você acha que fui eu que vazei o projeto?"

"Eu não acho, tenho certeza." Ele apontou para a folha de papel em cima da mesa. "O e-mail saiu da sua caixa."

"O que?" Simon piscou os olhos várias vezes com o queixo caído. Não esperava isso nem nos seus piores pesadelos. "Eu não mandei e-mail pra concorrente, Gregory."

"Você não só fez isso, como deu permissão para eles usarem a ideia."

"Que loucura!" Simon se exaltou. "Eu não fiz isso."

"Você está fora, Simon."

"Por quê?", pediu, sentindo o desespero acelerar seu coração. "Eu não mandei e-mail nenhum."

Quem da emissora faria entregaria o pote de ouro de bandeja para a concorrente? Que pegadinha sádica era aquela?

Nervoso, acessou seu e-mail corporativo. Sua mão tremia, mas conseguiu fazer com que seus dedos guiassem o mouse e clicassem na caixa de enviados. Nada. Caixa de Spam. Nada. Lixeira. Puta que pariu. O e-mail estava na lixeira e parecia gritar na sua cara o quanto estava fodido. Foi enviado há duas semanas atrás.

"Eu sugiro que você procure um bom advogado."

"Por favor, você tem que confiar em mim", sua fala saiu como uma súplica. "Eu não enviei o e-mail, alguém deve ter enviado, um hacker pode ter invadido meu e-mail, isso acontece toda hora."

Gregory o encarou com um olhar frio. "Agora eu tenho que confiar em você?"

"Não leve isso para o lado pessoal, Gregory. Você sabe que eu nunca faria isso. Eu não sou estúpido."

"Eu não estou fazendo isso para me vingar de você, Simon."

"Eu sei, eu sei", disse, tentando manter a calma. "Não foi isso que eu quis dizer, eu só quero que você acredite em mim."

"Junte suas coisas", ele mandou, sem lançar um olhar para seu rosto. "Hoje é o seu último dia."

***

Simon disparou pelos corredores da emissora em direção ao departamento de TI, com seu notebook debaixo do braço. Desviou de umas quatro pessoas e foi por pouco que não derramou um copo de café na roupa de uma. Seus nervos estavam revoltos e sua cabeça não conseguia processar como o e-mail saiu da sua caixa de entrada e foi parar na lixeira.

Entrou sem aviso na sala de tecnologia, assustando os três funcionários que trabalhavam concentrados no computador, e foi para a primeira mesa que alcançou.

"Por favor, eu preciso de sua ajuda. Agora." Sem pedir licença, colocou o notebook na frente da máquina do funcionário e procurou o crachá para saber seu nome. "Luiz, eu preciso que você descubra quem enviou esse e-mail aqui."

"Certo, mas eu estou no meio de um código-."

"Não, não, não", Simon protestou e não deixou ele terminar. "Isso aqui é mais importante. É caso de vida ou morte."

Encurralado, Luiz ficou sem muita escolha. Seus dedos se moveram rápido pelo teclado. Roendo os dedos, Simon esperou ele revelar de alguma forma a origem de todo o problema. Se não foi ele, quem invadiu sua conta e enviou o e-mail para o concorrente?

"Pronto", Luiz avisou depois de longos e atormentados quinze minutos. "Foi esse IP que enviou o e-mail."

"IP? E o que isso quer dizer?", perguntou, sem paciência. "Eu preciso de nome, se possível endereço."

O funcionário tentou não fazer uma careta antes de continuar. Mais alguns minutos depois, ele encontrou a resposta e apontou o dedo para a tela do computador.

"O usuário logado no IP e o nome da máquina é", ele disse e parou para soletrar o nome. "WHphoto."

W.

H.

Photo.

Puta merda.

Wilhelm. Fotógrafo.

Sem Deixar Vestígio [Wilmon]Onde histórias criam vida. Descubra agora