Capítulo 56

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Simon

Simon encarava o convite com dourado nas bordas por pelo menos dez minutos, completamente rígido e incapaz de entender sua própria decisão de realmente ter aceitado o presente de Sara.

Tudo começou com a enigmática surpresa de aniversário que sua amiga disse que tinha preparado. Ela o contou tão animada que imaginou que seria um convite para uma daquelas festas que terminavam com a presença da polícia ou dos bombeiros, mas ela o surpreendeu com algo melhor – ou pior.

Era um convite.

Um convite para um clube.

Um clube de encontro às cegas.

No convite, o nome do clube estava discretamente escondido sob o acrônimo da CEC. Poderia viver sem saber o que aquelas três letras significavam, mas Sara achou que seria mais inteligente se descobrisse que existiam festas para sortear casais nesse mundo.

22 horas

Hotel Topo do Mundo

Subsolo

Ao passar pela porta do hotel, Simon amaldiçoou a amiga até os poços mais escuros e quentes do inferno, e então amaldiçoou a si mesmo.

Como maldição era algo que nunca mais queria lidar, resolveu por apenas xingar inúmeros palavrões quando um homem loiro e baixinho o guiou até as escadas que davam acesso ao subsolo onde havia um amplo salão.

As paredes eram forradas de papel carmim, cheias de quadros de paisagens e flores secas, e as cortinas aveludadas escondiam as janelas altas e envidraçadas.

Em um lado, tinham duas largas portas de madeira escura, do outro, um aparatoso bar e, no centro, uma mesa de madeira redonda com uma vasilha de vidro que refletia as luzes do lustre de cristal.

A vibração sexual era densa e abafada como o ar de verão. Meninos e homens ficavam em pares ou grupos no salão. Em meio a conversas e amassos, sua atenção foi atraída para um casal, que de mãos dadas, caminharam para o fundo do clube.

Simon ficou parado por um minuto inteiro, reavaliando as decisões da sua vida. E se aquele lugar fosse um encontro para swing? Nem parceiro ele tinha para participar de tal loucura.

"Primeira vez, Simon?", a voz masculina interrompeu sua linha de pensamentos como uma guilhotina e congelou no local, quase com medo de se virar e encarar o homem. Como ele sabia seu nome?

"Sim."

O loiro inclinou a cabeça para o seu lado e Simon permaneceu quieto, com medo até de respirar. "Você trouxe algemas?"

A pergunta dele enviou um sinal ao seu corpo para balançar a cabeça negativamente, mesmo que sua voz se recusasse a cooperar. "Claro que não!"

"Estou brincando", ele disse, com um sorriso, claramente achando graça do seu surto. "Você sabe como o clube funciona?"

"Não."

"Vou te explicar." Ele se aproximou e colocou um braço ao redor do seu ombro. "Você precisa deixar um item seu naquela vasilha de vidro no centro do salão."

Seus olhos se prenderam na vasilha mencionada. "E o que acontece depois?"

"Homens vão entrar por aquela porta." O loiro apontou para as duas largas portas no lado esquerdo do salão. "E vão pegar os itens na vasilha. Será assim que você vai conhecer alguém."

"E se eu não quiser o cara?"

"Pode recusá-lo, sem problemas. Aqui tudo é na base do consentimento."

Simon soltou o ar que prendia pela boca. Não era tão absurdo quanto pensava. Era só um encontro às cegas que podia terminar em sexo.

Respirou fundo, depois de novo, e andou lentamente em direção ao centro do salão. Tirou o relógio do pulso e o colocou dentro da vasilha, que já estava cheia de outros relógios e itens, como pulseiras e colares.

Nunca imaginou participar de algo assim. Não deveria ter aceito o convite disfarçado de armadilha. Sara iria deve-lo pelo resto da vida. Se ela realmente decidisse trabalhar com eles no site de finanças, cortaria o salário dela durante um ano.

No balcão, enquanto pedia uma bebida, escutou um homem falar que esperava encontrar o amor da vida dele. Simon segurou para não rir.

Definitivamente, não esperava encontrar algo do tipo naquela noite, apesar de que era da sua vontade encontrar um amor sem exageros, sem amarras. Depois de Wilhelm, queria um romance fluido, que surgisse de uma maneira tão natural que podia parecer que estava predestinado a acontecer.

As luzes do salão foram reduzidas e a porta ao lado esquerdo se abriu. Cerca de uns vinte homens entraram no salão e um electro-house, que eu não escutava há um bom tempo, começou a animar os presentes ali.

Simon bebeu um gole da caipirosca preparada pelo barman querendo pelo menos estar levemente bêbado para conseguir encarar o que estava por vir.

Em meio às sombras, sorveu seu drink antes de iniciar movimentos lentos, tentando acompanhar as batidas da música. Um homem ao seu lado fez o mesmo. Ele tomou um gole da bebida que segurava, olhos nos seus olhos, e começou a dançar, mantendo uma distância.

Simon ficou sem reação por um momento e sua falta de resposta pareceu um sinal verde para o homem que diminui o espaço entre seus corpos e pousou a mão na sua cintura, num toque leve, mas imperativo, o ordenando a seguir seus passos.

Os olhos do homem percorreram toda a extensão do seu corpo, dos pés até o rosto, e quando fizeram contato visual, Simon viu ele vacilar por inteiro. Notou pelo olhar dele que sua boca queria se perder pelo seu pescoço e sentir seus lábios.

Sorriu com o canto da boca e jogou a cabeça para trás, aproveitando a melodia e a gostosa sensação de relaxamento que o álcool causava. E então, começou a negociar com sua voz interior.

Era só uma dança, disse a si mesmo, era só diversão.

O homem usufruiu do seu estado de desinibição e levou uma mão para suas costas, o puxando para ele, eliminando qualquer espaço entre seus corpos.

Simon arqueou as sobrancelhas ao sentir a firmeza do abdômen do homem contra seu corpo.

Devagar, ele conduziu os movimentos, a ponta dos dedos dele tocando, suavemente, suas costas, subindo e descendo. A música pulsante, calor do ambiente e a leve embriaguez o deixaram meio zonzo. Dançava com o homem no centro da pista. Por vezes compartilhavam risadas sem motivos e carícias com segundas intenções.

De repente, alguém esbarrou em Simon por trás, o jogando em cima do homem musculoso, o que fez ele ficar terrivelmente próximo do seu corpo.

Suas mãos foram para o peito firme como uma rocha dele e, como se tivessem vida própria, seus dedos começaram a passear pelo abdômen dele. Quando o homem iria abaixar a cabeça para perto do seu rosto, as luzes se acenderam e uma voz preencheu o ambiente.

Aturdido, Simon olhou para os dois lados e viu os homens fazerem uma roda em torno da vasilha de vidro no centro.

"E o show vai começar!"

O homem afastou-se do seu corpo e Simon puxou o ar com força para dentro dos pulmões. Estava se deixando levar pela onda da euforia, mas até que gostou.

Se quisesse conhecer alguém de uma forma natural, tinha que permitir o acaso atuar em sua vida. Quem sabe ali iria encontrar uma pessoa interessante para namorar?

Os itens começaram a ser retirados da vasilha.

Simon avaliava cada homem que se movia para o centro e seus olhos se arregalaram ao reconhecer quem seria o próximo.

Sem Deixar Vestígio [Wilmon]Onde histórias criam vida. Descubra agora