Far From Home, Sam Tinnesz.
Quente. Estava muito quente. A pele dele fervia.
A questão era: o Inferno amanhecera mais quente, ou sua raiva deixava seu sangue em combustão?
Vhermuri voltava do primeiro batalhão, treinamento diário. Teria acontecido tudo como de costume se não tivesse recebido no campo um grupo peculiar. Crianças. Recrutamento obrigatório, pelo que ouvira.
Ordenado por quem, se tinha sido claro quanto às regras e princípios para o recrutamento? Nada de crianças. Nunca. Ninguém que ainda não tivesse Estabelecido, o que costumava começar a acontecer aos vinte e um anos.
Até que um de seus serventes lhe informou da mudança. A idade baixara. Assustadoramente. De vinte e um para quinze anos.
Obra de seu pai, é claro, o governador dos Sete Infernos. O Rei.
Vhermuri passava seus anos fazendo o que seu pai não fazia. Era o intermediário, calculando cada palavra para convencer seu pai a não tomar uma decisão que ferrasse mais o povo, ou ao menos diminuindo os impactos. A barreira para a avalanche de problemas que seu pai não cansava de causar.
Mais uma avalanche estava em suas costas. Uma com a qual ele não podia lidar sem perder a cabeça.
Vhermuri voava pelos céus vermelhos, tão rápido que era apenas um borrão negro no meio da fumaça e do calor. Abaixo dele, casebres de barro rubro e madeira podre tão pequenas e tão juntas que podiam ser uma só, subindo e descendo pelos morros, sumindo nas fossas fundas e ravinas, onde estava o submundo do submundo.
Mal conseguia distinguir as criaturas no solo abaixo dele, diversas, algumas só de passagem, outras condenadas a passarem a eternidade. Mas ele ouvia. Era um som comum por ali; distante, mas sempre presente. Os gritos. Lamentos terríveis, choros sem esperança, gritos de dor e desespero. Vinha de todo lugar: das casas, das fossas, das fendas, das ravinas... E, principalmente, do castelo.
E era para lá que as asas negras em suas costas o levavam, tão furiosas quanto o dono.
Ninguém teve coragem de pará-lo quando pousou no castelo, os pés batendo no chão com um impacto que teria quebrado a obsidiana na qual o castelo fora construído, seu rosto sombrio. As sombras rodeando seu corpo, descontroladas como o coração acelerado, afastavam qualquer um de seu caminho, preferindo se fundir às paredes de pedra negra a entrar na frente do príncipe.
Exceto por um, corajoso - ou estúpido - o suficiente para estourar a bolha de silêncio bufante e correr pelos corredores atrás dele.
- Vher, pense bem no que vai fazer! - Era o conselheiro de Vhermuri, seu assassino mais temido, e seu melhor amigo. A única criatura que poderia desafiar Vhermuri sem ter a cabeça arrancada. - Seu pai te alertou sobre o que aconteceria se interferisse mais! Não estamos em condições de sustentar uma guerra entre vocês dois, porra!
Foi ignorado, é claro. A raiva de Vhermuri o ensurdeceu. Só conseguia pensar nas crianças, confusas entrando no campo de treinamento. Só conseguia pensar no que ele próprio fora obrigado a fazer na idade delas, e jamais daria aquele tipo de lembrança a quem não merecia.
Seu pai sabia... Seu pai sabia o quanto crianças mexiam com ele. Talvez fosse um castigo. Há pouco Vhermuri enfrentara o pai; ele lhe alertou sobre as punições que sucederiam. Mas crianças? Aquilo Vhermuri não aceitaria.
- Vher! - Seu conselheiro tentou outra vez - Por favor, você sabe onde isso vai acabar!
- Saia da frente! - rosnou Vhermuri, não diminuindo sequer um dos passos pesados.

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Love is a Sin
Fantastik"Não pode ser real. Não pode ser real, mas Jungkook está me dizendo que é. Ele está bem aqui. Está me abraçando, está dizendo que está aqui e que vai ficar tudo bem e que vamos conseguir e que é real. É real, é real, é real. Não pode ser real, porqu...