Capítulo 3 - Vingança?

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Capítulo 3

Não consigo explicar esse sentimento... Como a luz do sol me trouxe um novo sentido, mesmo que por poucos segundos.

Carregando algumas sacolas e com um sorriso irônico desenhado em seus lábios, o homem do olhar vazio cujo se chama Pedro estava logo na minha frente. A luz fraca do sol iluminou o seu rosto, e foi nesse instante que eu vi um certo brilho em seu olhar.

Talvez eu tenha julgado mal e haja muito mais que apenas... vazio. Mas essa sensação durou pouco tempo, pois assim que ele jogou as sacolas em cima da cama eu saltei, mais uma vez assustada.

— Você parece com medo. — Ele murmura e eu aperto o travesseiro contra o meu corpo, em pé e o encarando. — Huum, Mia deve ter te assustado em relação a mim.

Ele diz com um sorriso de canto, me encarando com as mãos no bolso. Eu não sei o que responder, e tenho certeza que gaguejaria, lembrando do que Mia disse sobre ele perder a cabeça muito fácil. Porém, se eu pudesse falar com ele... talvez possa conseguir que ele me deixe ir! Mas eu não consigo abrir a boca!

— Você está tremendo... ela deve ter dito para não se aproximar de mim, não foi? — Ele diz como se fosse algo divertido e eu apenas aperto minhas mãos no tecido do travesseiro, me sentindo fraca. — Não vai me responder?

Não importa como eu tente enxergar, eu ainda consigo ver o vazio em seu olhar e a sensação de impiedade também! É quase como se eu estivesse frente a frente com algum tipo de assassino em série, que não sente pela morte das pessoas, e a qualquer momento eu fosse virar o seu alvo.

— E-Ela... Ela falou algo parecido. Mia disse para eu não... contrariar você. — Digo baixinho, levando o meu olhar até o chão.

Eu me sinto tão vulnerável. Sei que não posso fazer nada além de aceitar o que está acontecendo, mas eu odeio sentir que sequer sou suficiente para me proteger.

— Bem, ela está certa. — Ele diz seriamente e eu apenas desvio o olhar para as sacolas em cima da cama. — Eu fui buscar isso. Também estou deixando um celular nas suas mãos, porém já deixo avisado que tem alguém monitorando vinte e quatro horas o que você faz nele. Por isso se pensar em fazer alguma gracinha eu não vou conseguir cumprir a promessa que fiz a minha irmã de não te machucar.

Dou um passo para trás, sentindo uma pressão no peito indescritível. Ele... Ele está me ameaçando! Nunca nada assim aconteceu comigo, e eu sequer posso me defender. Por que isso tinha que acontecer comigo? Por que o meu pai permitiu que isso acontecesse? Onde eu errei como filha?

— Ah, não me olhe assim. É só não fazer nada de errado, que quando seu pai chegar com o dinheiro, você vai embora sem nenhum arranhão. Você já deve ter uma ideia do porquê está aqui, então nem vou me dar ao trabalho de te explicar. Mas já vou deixar avisado... — De repente o seu olhar está tão frio em consideração ao normal, como se estivesse falando com um objeto ao invés de uma pessoa. — Você não vai sair desse quarto se não for com a companhia da minha irmã, e não pense que pode fazer ou falar o que bem entender simplesmente porque a idiota da Mia me pediu para não te deixar presa vinte e quatro horas nesse quarto. E vou te dar um conselho... não tente fugir, você não vai conseguir.

Engulo em seco processando as suas palavras. Eu já devia ter entendido, mas só agora percebo que tive a minha pequena liberdade arrancada de mim. Eu sou apenas uma prisioneira dele.

A essa altura lágrimas já ameaçam descer.

— Ele não vai... Ele não vai voltar por mim. Por favor me deixe ir embora. — Suplico apenas com um rastro de voz, me segurando o máximo para não desabar nas lágrimas mais uma vez.

Minha cabeça já está doendo e eu não aguento mais!

— Mia me pediu para deixar você ir num lugar com ela ainda essa semana. Se você se comportar posso estar deixando, isso é tudo.

Ele está me ignorando, porém me sinto desesperada ao ponto de me ajoelhar aos seus pés para que ele me deixe ir, então ignoro o medo e vou até ele, dessa vez sem conseguir conter as lágrimas.

— Por favor, eu não sei porque precisam de mim! Você tem tanto dinheiro... Eu posso trabalhar durante a minha vida inteira para pagar essa dívida se você quiser... mas por favor, me deixa ir embora. Posso pagar com juros e o valor que quiser adicionar, mas eu não quero ficar aqui. Por favor...

Uma pontada na minha cabeça é o que eu sinto antes que eu consiga me aproximar dele.

Isso está acontecendo de novo... Eu estou entrando em pânico e eu não quero! Preciso convencê-lo, mas o sorriso em seu rosto me deixa aterrorizada já que eu me encontro aos prantos, suplicando por piedade.

— Ah, pequena... Eu pensei que você tinha entendido quando me viu pela primeira vez no seu quarto... — O seu sorriso aumenta e eu dou um passo para trás, sentindo algo no meu peito despedaçar, novamente perdendo a esperança. — É verdade, eu não preciso do dinheiro que ele está me devendo e poderia te deixar sair sem nenhum prejuízo. Mas eu tenho um certo gosto em ver as pessoas sofrendo. Imagina, um pai desesperado atrás da sua filha que pode estar sofrendo todo e qualquer tipo de violência, por conta dos seus erros. Não é emocionante? — Seu olhar frio é realmente assustador, porém não tanto quanto a verdade que as suas palavras transparecem. — Não é nada pessoal, Emma, não com você. Mas não acha que um pai como ele deveria ser castigado?

Eu não consigo acreditar. O que leva uma pessoa a ver o sofrimento da outra? Isso não é nada prazeroso, mas ele não parece estar mentindo quanto a isso. O único motivo plausível que alguém pode sentir prazer ao provocar sofrimento a outra pessoa é se for por vingança. Mas o que o meu pai tem haver com isso?

O encaro mais uma vez sentindo a minha garganta seca. Talvez eu esteja louca em estar prestes a dizer isso, mas eu estou tão desesperada...

— Você é melhor do que ele? — A sua expressão de repente se torna séria com a minha pergunta, e eu devia entender como um sinal para parar, mas saber que posso estar entrando na sua cabeça é um bom sinal. — Você está me mantendo presa e ameaçou me machucar. Eu estou implorando para que me deixe ir e você está rindo, então acha que é melhor que ele?!

Ficamos nos encarando por longos segundos, e por um tempo eu pude sentir que logo ele estaria perdendo a cabeça. Sei disso pois ele está com o maxilar trincado, se segurando. Eu falei algo que provavelmente mexeu no seu ponto fraco, e agora já estou arrependida, amedrontada de que ele realmente me machuque.

Mas um sorriso é tudo o que surge em seu rosto e seu corpo parece menos tenso.

— É melhor pensar duas vezes antes de falar algo com essa boca atrevida, Emma. Você não gostaria que eu fosse atrás de quem você gosta, não é?

Com um sorriso presunçoso, ele dá as costas e vai embora, fechando a porta logo em seguida. Eu não consigo fazer nada além de encarar a porta de madeira, pensando sobre suas palavras.

Mesmo que ele não saiba da minha relação com meu pai, deve ter presumido pelo fato dele agir como um bêbado e drogado. E sobre a sua pergunta... Eu não sei! Não faço ideia se alguém merece ser castigado. Eu não tenho o direito de julgar ninguém, não quando carrego tanta culpa.

A morte da minha mãe sempre estará cravada em meu peito, e eu nunca consigo me livrar dela. Talvez... Eu sequer tenha o direito de abrir a sua carta, por isso o meu pai começou a agir daquela forma comigo. Porque eu não tenho o direito de ser feliz.

Mas... mas eu queria tanto! Tanto que essa vontade se torna insuportável. Eu queria tanto que alguém me ajudasse a tentar merecer.

Talvez estar aqui seja por conta dos meus pecados. Se eu não tivesse nascido, isso não teria acontecido. Minha mãe não estaria morta e meu pai não teria se tornado um drogado. Esse é um peso que eu odeio carregar.

Soluçando, sinto meus joelhos baterem no chão e eu abaixo a minha cabeça, chorando desesperadamente em busca de ar. A minha cabeça está tonta e eu apenas queria que alguém me salvasse disso.

— Por favor, alguém me ajuda...

☑ Ranking da maldade. Quem parece mais frio e maldoso, Pedro dessa nova versão ou da antiga?
☑ Provavelmente quem leu a primeira versão toda, tanto o primeiro quanto o segundo livro deve saber o porque desse ódio dele por "pais".

VENDIDA - CRIMINOSOS EM SÉRIE - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora