Capítulo 55 - "Às vezes o amor é sobre deixar ir"

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Capítulo 55

Eu não conseguia medir a quantidade de dor presente em meu peito, mas foi tão sufocante que por vezes eu sentia dificuldade de respirar, sentindo-me mal. Eu pensei que a qualquer momento eu fosse morrer, mas... quando eu acordei no hospital eu apenas me senti...  vazia. Como se eu já não fosse uma portadora de sentimentos e apenas uma jarra vazia, um molde quebrado. Foi assim que eu me senti quando vi Lucas falando com os médicos. 

Aquelas palavras... Aquela cruel notícia foi ainda mais arrebatadora! Eu já havia perdido o meu pai, meu gatinho e agora... mais uma vida dentro de mim que eu sequer sabia que existia.

Não queria pensar tanto na perda, apenas na grande irresponsabilidade que cometi quando sequer cogitei me prevenir, mas eu esqueci! Eu fui tão descuidada e fiz com que as coisas chegassem a esse ponto. Quando eu saí daquele lugar nojento eu estava coberta com tanto sangue que era incapaz de imaginar o que aquele no meio das minhas pernas poderia realmente significar. 

Mas eu não queria lamentar por mais uma vida perdida, afinal... nem se eu soubesse da gravidez a levaria adiante! Estava com Pedro, isso nunca poderia acontecer no mundo dele! Trazer uma criança para morrer... essa seria a minha realidade caso fosse em frente com Pedro. Eu já não aguento mais perder pessoas à minha volta...

Não suportaria perder algo tão significativo como um filho... seria demais para mim! E estar com Pedro é sinônimo de perigo, não importa quanto eu pense sobre isso. 

— Você disse que queria se desculpar por ter feito aquilo comigo. — Finalmente consigo dizer com a voz fraca quando o médico sai, me deixando sozinha com Lucas, que me encara como se não soubesse como lidar. — Não conte para ele sobre isso... por favor. 

Ele franze o cenho, claramente com pena enquanto meus olhos se enchem de lágrimas. 

— Emma, eu prometo. — Sinto a sua mão na minha, a apertando e me dando mais segurança. — Mas você sabe que em algum momento você vai ter que falar. Não adianta esconder. Da minha boca ele não vai ficar sabendo, mas... você vai precisar ter essa conversa com ele, mesmo que ele se sinta um merda com isso.

Assinto, limpando as lágrimas que deslizam pela minha bochecha. Eu nunca vou contar a ele sobre a nossa perda... nunca mais pretendo vê-lo. Eu preciso sair daqui!

— Então minha querida, como está se sentindo? Precisa de mais algum analgésico para dor? 

Lucas se afasta de mim quando a enfermeira entra no quarto segurando uma bandeja com um copinho com comprimidos e o que me parece ser um sanduíche com suco.

— A minha cabeça está doendo um pouco, mas acho que a dor do corpo já está passando... — Respondo enquanto a enfermeira põe a bandeja sobre minhas pernas, me lançando um sorriso. 

— Isso é um bom sinal. Graças a Deus nenhuma fratura muito grave... você deve estar com fome, pedi para que fizessem um sanduíche natural para você e esse suco de laranja. 

Sorrio, ouvindo a minha barriga roncar, apesar de sentir o meu estômago embrulhar toda vez que penso no que aconteceu para eu estar aqui. Com cautela, eu consigo comer aos poucos, ao menos a metade do sanduíche, e é quando Lucas sai do quarto para beber café.

— Aqui, eu trouxe essa roupa para você. — Michele se apressa, adotando uma outra postura assim que ficamos sozinhas, retirando as roupas da sacola que ela trouxe no braço. — Olha, eu prometi que não iria denunciar eles, mas você também tem que me prometer que para onde você vá, irá se cuidar. Vai tomar um banho, comer alguma coisa e descansar. Por favor, prometa! 

Ela aperta a minha mão, me fazendo assentir com um aperto no coração. Estou nervosa... chegou a hora de sair daqui e eu não posso ser pega. 

Eu vou deixar ele... vou fugir e tentar não ser pega, mesmo que eu não tenha outro lugar para ir senão a minha casa, mas...

Eu também estou mal com a ideia de deixá-lo! Eu sinto dor quando penso nisso! Mas eu me sinto pior quando penso em conviver com alguém que matou o meu pai, meu gatinho... alguém que me fez tão mal e não sei o quanto seria capaz de continuar fazendo. É verdade que nos últimos dias eu amei conhecer ele, as lembranças sempre ficarão marcadas em meu coração, mas... eu já devia ter entendido que não há uma realidade diferente dessa se tratando de um bandido, mafioso e traficante ou sei lá o que ele realmente seja!

Confesso até sentir medo dele ao lembrar que até a família daquele homem ele ousou assassinar... isso é coisa de gente desumana. E eu posso ser sua próxima vítima.

Visto a roupa com a ajuda de Michele, que apareceu como um anjo neste momento da minha vida. E ela me lembra Mia... provavelmente ela faria o mesmo caso me visse nessa situação, me ajudando a fugir. 

E pensar que não nos veremos mais... Eu sinto um aperto no peito.

Vou estar deixando muita coisa para trás...

— Obrigada por tudo... — Abraço Michele com força, que retribui com um suspiro nervoso.

— Tudo bem, menina... nem consigo imaginar como você deve estar acabada por dentro. Se cuide... mas antes disso, vá antes que ele volte! Vá viver! Você merece!

Assinto com lágrimas nos olhos, pondo o capuz do casaco preto sobre a minha cabeça, cobrindo o meu rosto parcialmente. 

Saio de lá quase que correndo, não querendo ser vista por Lucas durante o caminho. Porém devido a minha pressa, eu acabo esbarrando no ombro de alguém, o que não dou importância e apenas continuo a seguir, mesmo sentindo dor pelo o impacto.

Eu só não esperava conseguir um mini infarto quando ouvi a sua voz reclamando...

Era ele! Aquele de quem eu estava fugindo! Ele já está aqui à minha procura!

Prendo a minha respiração até chegar ao lado de fora do hospital, sentindo os meus olhos queimarem de lágrimas. 

Por que isso tem que ser tão doloroso? Estou fazendo isso para não me matar de tanta decepção... para não morrer de tristeza e ódio! Eu não quero estragar as nossas lembranças boas! Não quero tirar aquele Pedro carinhoso que me fazia bem para esse que estou sentindo ódio!

Eu prefiro ir embora para recomeçar enquanto ainda tenho um pouco de lembranças boas... porque senão caso contrário... eu não iria suportar!

Eu não sei quais serão os meus planos ou o que farei da minha vida para me manter longe dele, mas... antes de sumir, tem algo que eu preciso fazer...

Tenho alguém para me despedir...



Pedro


— Para a porra do carro! — Ordeno para o motorista assim que ele para do outro lado da rua do cemitério.

Eu abaixo o vidro da janela sentindo um ar frio junto a um calafrio que percorre a minha espinha. Eu odeio essa sensação!

Odeio ainda mais ver Emma ajoelhada ao lado da lápide do pai aos prantos, murmurando algo que não consigo ouvir ou decifrar. 

Eu imaginei que ela estaria aqui...

E eu gostaria de poder ir até ela e abraçá-la, falar aquilo que estou sentindo... como estou arrependido e gostaria de consertar as coisas entre nós, mas...

Aquelas malditas palavras da enfermeira grudaram como cola na minha cabeça como que para me amaldiçoar. 

Se o seu amor a machuca, então deveria deixá-la ir.

— Quer que eu a traga, senhor? — Questiona o motorista ao perceber a presença de Emma, já que o mesmo deve estar acostumado com o fato de eu ter mantido-a como minha prisioneira. 

Porém eu apenas olho para frente, sentindo mais uma vez, me fazendo pensar como sou estúpido, algo molhado deslizar pela minha bochecha.

Não quero admitir que estou chorando por tomar a decisão mais fodida da minha vida em relação a garota que amo.

Mas é por amar, que eu lhe respondo já levantando o vidro da janela;

— Não, eu vou deixar ela ir.

Afinal... isso é amor não é?






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